Operação Brasil-Alemanha
7 de dezembro de 2011Como parte da Operação Brasil-Alemanha, que marca os 40 anos da assinatura do acordo de cooperação tecnológica entre o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), dois foguetes foram lançados do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) – base de lançamentos da Força Aérea Brasileira (FAB) no Rio Grande do Norte.
A partir de um Lançador Móvel de Foguetes, disponibilizado pelo Centro Aeroespacial Alemão, o foguete Orion foi lançado em 25 de novembro último. E na última sexta-feira (02/12) foi a vez do lançamento do veículo VS-30.
Segundo a FAB, mais de cem servidores civis e militares do efetivo do CLBI estão envolvidos na Operação Brasil-Alemanha, que se estende até o dia 9 de dezembro. Além disso, a operação conta com o apoio de equipes do DCTA, do DLR, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Dois experimentos
Em seu site, a FAB afirma que o objetivo do primeiro voo foi verificar os meios de lançamento e realizar o treinamento das equipes no emprego da Estação de Telemedidas Móvel, preparando assim o lançamento do segundo foguete.
Já o foguete de sondagem VS-30, lançado em 2 de dezembro com uma carga útil científica, transportou dois experimentos: um do Inpe, visando estudo sobre o início da geração de bolhas ionosféricas, e um experimento de GPS da UFRN, desenvolvido em cooperação com o Instituto Aeronáutica e Espaço (IAE).
O experimento de GPS teve como função básica informar com precisão a posição e a velocidade de um foguete ou de um satélite no espaço.
A principal inovação é a incorporação de certas características, que não estão presentes em receptores disponíveis comercialmente, como a capacidade de funcionar em elevadas altitudes e em altas velocidades sem perder o sincronismo com o sinal recebido da constelação de satélites. Até o momento, os receptores GPS utilizados na área espacial são importados, diz a FAB.
Quarenta anos de acordo
A 19 de novembro de 1971, o DCTA (então CTA), setor da FAB que coordena esforços na área de tecnologia, ensino e atividades especiais, assinou com o Centro Aeroespacial Alemão (então DFVLR hoje DLR, na sigla em alemão) um Convênio Especial para Pesquisa Aeronáutica e Espacial.
Segundo o tenente-brigadeiro-do-ar Ailton dos Santos Pohlmann, diretor do DCTA, as atividades aeroespaciais, no início dos anos 1970, estavam entre os cinco primeiros campos estratégicos da cooperação tecnológica entre Brasil e Alemanha.
E os foguetes brasileiros, resultados da cooperação entre o DCTA e o DLR, tornaram-se um dos principais vetores da pesquisa realizada por meio de voos suborbitais, tanto para a Alemanha e a Europa, quanto para o Brasil, afirma Pohlmann.
Em sua mensagem de saudação em comemoração aos 40 anos da cooperação entre os dois países no transporte aéreo e espacial, o ministro alemão da Economia, Philipp Rösler, afirma que, em matéria de pesquisa aeroespacial, o Brasil passou a ser na América Latina o mais importante parceiro de cooperação do Centro Aeroespacial Alemão.
"Amizades e contatos maravilhosos"
Thomas Weissenberg, diretor do departamento de cooperação internacional do Centro Aeroespacial Alemão, informou à Deutsche Welle que a cooperação tecnológica entre o Brasil e a Alemanha na área de foguetes de investigação de alta altitude é "ótima" e que um dos pontos fortes desta cooperação são "as amizades e os contatos maravilhosos" que se desenvolveram entre os parceiros alemães e brasileiros ao longo das últimas quatro décadas.
Pelo lado alemão, um dos principais ganhos, explica Weissenberg, é o fato de o DLR ter à disposição equipamentos e locais para o lançamento de foguetes, como o Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno, localizado muito próximo à linha do Equador.
Desde o início, os pontos centrais da cooperação bilateral foram projetos de tecnologia espacial, acompanhados por investigações comuns em aeronáutica, tráfego aéreo e energia. A primeira crise energética em 1974, por exemplo, levou ambos os parceiros a transferirem conhecimentos nas áreas de aerodinâmica, tecnologia de fibras e desenvolvimento de sistemas de energias renováveis, através do desenvolvimento de conversores modernos de energia eólica.
Weissenberg explica que, no entanto, a cooperação na área de foguetes de sondagem teve de ser interrompida temporariamente entre 1987 e 1995, ano em que o Brasil se tornou membro do MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, na sigla em inglês), acordo que tem como propósito a não proliferação de vetores de armas de destruição em massa.
"Olho do céu"
Com o Inpe, explica o DLR, a cooperação Brasil-Alemanha se concentrou tanto no desenvolvimento de métodos e softwares para a operação de satélites quanto na utilização de dados óticos e do mapeamento com base em radares, especialmente em florestas tropicais.
Assim, além das aplicações clássicas do sensoriamento remoto como, por exemplo, a cartografia e a agricultura, o Centro Aeroespacial Alemão aponta que também são disponibilizados para os usuários informações sobre a utilização sustentável de recursos naturais, assim como da biodiversidade e de monitoramento florestal.
Na ocasião do Ano Brasil-Alemanha da Ciência 2010/11, o Ministério alemão da Ciência e Pesquisa entregou ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil um presente muito especial: as 30 imagens singulares da exposição "Olho do céu", elaboradas e viabilizadas pelo DLR e seus parceiros.
A exposição revela imagens impressionantes em grande formato da América do Sul e de outras regiões do mundo. Câmeras supersensíveis registraram, por exemplo, a Terra à noite e grandes cidades, como o Rio de Janeiro. Desde o ano passado, a mostra se encontra em turnê por diversas cidades brasileiras.
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Soraia Vilela