Opaq tem dificuldades para achar país que destrua arsenal químico sírio
21 de novembro de 2013Os preparativos para a destruição do arsenal químico da Síria estão em andamento. Dos 23 locais onde as armas eram armazenadas, apenas um não foi vistoriado dentro do prazo, e já foram eliminados tanto os equipamentos de produção quanto 60% das cápsulas de munição não preenchidas.
"Mas o verdadeiro trabalho começa agora", afirma Ralf Trapp, especialista em armas químicas que trabalhou durante muitos anos na Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). A próxima etapa é a eliminação de mil toneladas de armas químicas e, para tal, elas precisam ser transportadas para o exterior. Só que não há ainda um país disposto a aceitar tal carga.
A Opaq ao menos já apresentou um cronograma detalhado, contendo marcos concretos. Segundo o diretor-geral da organização, Ahmed Üzümcü, as substâncias mais perigosas, os gases sarin e mostarda, devem ser retiradas do país até o final do ano e destruídas até abril de 2014.
Todas as outras substâncias e seus produtos intermediários têm prazo até 5 de fevereiro de 2014 para ser transportados para outros países, e até o final de junho para ser eliminados. Conforme a Resolução 2118 da ONU, até essa data todo o arsenal deverá ter sido destruído.
190 países em cogitação
Até o momento, nenhuma nação se declarou disposta a acolher e destruir as substâncias em seu território. Assim como a Noruega e a Bélgica, a Albânia também recusou o pedido dos Estados Unidos nesse sentido, sob a alegação oficial de "falta de capacidade".
Apesar de antes ter se candidato voluntariamente para a missão, o governo albanês recuou devido a protestos da população. O país era considerado uma opção também pelo fato de, em 2007, já ter eliminado o próprio arsenal químico da época comunista.
Qualquer um dos 190 países que assinaram a convenção de armas químicas pode oferecer ajuda. No entanto, a Opaq está negociando primeiramente com os 41 integrantes de seu conselho executivo, diz Sausan Ghosheh, porta-voz da missão da organização na Síria.
Consta que Washington já se dirigiu à França. "Em primeira linha, entram em cogitação todos os países que nos últimos anos já se ocuparam da eliminação de armamento químico", explica o especialista Trapp. Desde 1997, uma convenção da ONU proíbe não só o emprego como também a posse desse tipo de armas.
Expertise alemã
Também a Alemanha dispõe de um complexo próprio para incineração de agentes químicos e munições. Em Munster, na Baixa Saxônia, entre 2006 e 2012, foram destruídas 2.585 toneladas de armamentos nas instalações da empresa Geka.
"No entanto, lá só se podem eliminar substâncias antigas, empregadas nas guerras mundiais. Além disso, ela não se ocupa de gases que afetam os nervos, que compõem uma parcela considerável do arsenal sírio", lembra Trapp. Mas a destruição de gás mostarda pela firma Geka seria tecnicamente viável.
Há, ainda, empresas alemãs que dispõem do conhecimento tecnológico necessário para a realização da tarefa. Uma delas é a Eisenmann, de Böblingen, no estado de Baden-Württemberg, que construiu unidades para destruição de armamentos químicos na Rússia, na Albânia e no Japão.
O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, já ofereceu esse tipo de apoio tecnológico. "A Alemanha está disposta a participar tecnológica, financeira e logisticamente da destruição de armas químicas", afirmou numa reunião de ministros europeus do Exterior na Bélgica.
Essa destruição, contudo, não deve acontecer em solo alemão, já que "realmente há regiões e caminhos muito mais indicados para tal", afirmou o político liberal, sem explicitar que locais seriam esses.
Alternativa mista
Segundo Oliver Meier, especialista em segurança do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), a escolha do local é também uma questão geográfica. Procura-se evitar, sempre que possível, os deslocamentos terrestres. "São materiais muito perigosos, cujo transporte e destruição implicam grandes riscos para a saúde e meio ambiente. Por isso, muitos países se retraem."
Outro fator são os eventuais impedimentos legais. Como no caso dos Estados Unidos, onde uma lei proíbe o transporte de armas químicas pelo país. Ainda assim o país considera eliminar no mar partes do arsenal sírio, segundo noticiou nesta terça-feira (19/11) a edição online do New York Times, citando fontes governamentais.
No momento, a Opaq não procura apenas países que acolham o processo de eliminação, mas também que apoiem o transporte pelas regiões em guerra na Síria. Pois, além de aparelhos de desintoxicação, a missão exige tanto soldados treinados para enfrentar situações de avaria como médicos para eventuais casos de emergência.
Na Jordânia, que faz fronteira com a Síria, cresce a preocupação de que o transporte das substâncias tóxicas não tenha pleno sucesso e algumas delas sejam deixadas para trás. Assim, o Departamento Federal alemão para Proteção da População e Auxílio em Catástrofes (BBK) assumiu a função de treinar e apoiar materialmente estrategistas e médicos jordanianos.
Trapp parte do princípio que a solução virá "em colcha de retalhos", com diferentes países participando da destruição do perigoso arsenal químico sírio. Meier, do SWP, também acredita que se acabará encontrando Estados que disponibilizem seu território. "Senão, seria uma ironia: investir tanto capital político num acordo com [o presidente sírio Bashar al] Assad e depois não ter quem transporte as armas para fora do país e as elimine. "