ONU associa êxodo venezuelano à crise no Mediterrâneo
25 de agosto de 2018A Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertou nesta sexta-feira (24/08) que o grande êxodo de cidadãos da Venezuela para países vizinhos e outros destinos está se aproximando de um "momento de crise" semelhante à tensão no Mediterrâneo, com a crise de refugiados.
Segundo o porta-voz da OIM, Joel Millman, "o que é uma situação difícil pode se transformar rapidamente em uma crise". Ele elogiou, porém, o "trabalho magnífico" de alguns países latino-americanos em receber as pessoas que abandonam a Venezuela.
"Vemos os focos de violência no Brasil [contra venezuelanos na cidade fronteiriça de Pacaraima] e as medidas restritivas de alguns governos como um alerta antecipado de que temos que estar preparados [para uma crise]", disse o porta-voz.
Millman se referia às restrições à acolhida de venezuelanos anunciadas por Equador e Peru, exigindo passaportes aos refugiados como condição para permitir a entrada deles no país – mesmo sabendo que Caracas não tem hoje capacidade para emitir esse documento a seus cidadãos.
A medida entrou em vigor no Equador no último fim de semana, enquanto o Peru anunciou que adotará exigência semelhante a partir deste sábado.
"Ressaltamos que muitos imigrantes, particularmente adolescentes e menores de idade, não têm acesso a esses documentos [de identificação]", destacou o porta-voz.
Em comunicado emitido na quinta-feira, o chefe da agência da ONU para os refugiados (Acnur), Filippo Grandi, e o diretor-geral da OIM, William Lacy Swing, já tinham expressado preocupação com essas e outras medidas restritivas adotadas por governos latino-americanos.
"Reconhecemos os crescentes desafios associados à chegada em grande escala dos venezuelanos. Mas continua sendo crucial que qualquer nova medida permita que aqueles que precisam de proteção internacional tenham acesso a segurança e a pedidos de refúgio", dizia a nota.
As agências da ONU também expressaram solidariedade aos países sul-americanos e pediram para que eles continuem acolhendo refugiados venezuelanos que fogem da grave crise econômica, política e social que atinge o país.
Nesta sexta-feira, em entrevista coletiva, Millman reiterou que a comunidade internacional precisa "começar a alinhar prioridades, financiamento e meios para tramitar" a fuga de venezuelanos.
O porta-voz da Acnur, Andrej Mahecic, por sua vez, se disse preocupado com os recentes atos de violência e manifestações xenófobas contra os imigrantes em alguns países da região – como na cidade de Pacaraima, no norte de Roraima, onde moradores destruíram um acampamento de venezuelanos no fim de semana, obrigando mais de mil a voltarem ao país vizinho.
"[Esses atos] aumentam a estigmatização e põem em risco os esforços para sua integração", afirmou Mahecic. "A solidariedade é a chave. Até o momento foi exemplar."
O êxodo venezuelano
Segundo dados da OIM e da Acnur, 2,3 milhões de venezuelanos vivem atualmente fora de seu país, dos quais mais de 1,6 milhão deixaram a Venezuela a partir de 2015. Ao todo, 90% desses refugiados se dirigiram para países da América do Sul.
Aproximadamente 35 mil venezuelanos cruzam a fronteira diariamente. O fluxo maciço de imigrantes é sentido principalmente na direção sul, em países como Chile, Peru e Brasil, onde eles veem melhores oportunidades para encontrar um meio de vida.
Desde o início de 2017, cerca de 50 mil venezuelanos se estabeleceram em Roraima, segundo o governo estadual. Já o Peru é a segunda nação latino-americana mais procurada por pessoas dessa nacionalidade, depois da Colômbia, que já abriu suas portas a 1,5 milhão de venezuelanos.
Desde 2015, 500 mil venezuelanos receberam algum tipo de status de residência formal em países da América Latina, afirma a agência da ONU para as migrações.
"[Essa situação] está se aproximando de um momento de crise como o que temos visto em outras partes do mundo, particularmente no Mediterrâneo", declarou o porta-voz da OIM nesta sexta-feira.
Nos últimos anos, milhões de pessoas deixaram seus países no Oriente Médio e na África, em especial nações em conflito como a Síria e o Afeganistão, em direção à Europa e outros destinos. Segundo a Acnur, somente a Alemanha recebeu quase 1 milhão de refugiados em 2017.
Durante a fuga, milhares de migrantes se arriscam no mar Mediterrâneo, onde mais de 1,5 mil pessoas já morreram somente neste ano tentando atravessar as águas com destino a países europeus. A Acnur calcula que 60 mil refugiados cruzaram o Mediterrâneo nos primeiros sete meses de 2018 – metade do número registrado no mesmo período de 2017.
EK/dpa/efe/lusa/rtr
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