Ocidente usa conflito nuclear para conter poder do Irã no Oriente Médio
21 de maio de 2013DW:O Ocidente há muito tempo vem tentando limitar o poder nuclear do Irã através de sanções, buscando uma solução à força – com sucesso apenas parcial. A política ocidental para o Oriente Médio fracassou?
Michael Lüders:Se observarmos pela perspectiva dos que elaboraram essas sanções, elas não fracassaram, uma vez que colocam o Irã sob uma intensa pressão econômica. A esperança é que com essa pressão contra o governo e a sociedade iranianos, a população saia às ruas para expressar seu descontentamento com a piora progressiva de sua situação. Espera-se mudanças de modo indireto, ou ao menos desestabilizar o regime, forçando-o a ceder na questão nuclear.
Mas nos últimos dez anos essa política não obteve grandes êxitos. A política de sanções é errada?
Se entendermos a política de sanções como uma tentativa de trazer os iranianos à força até a mesa de negociações, então certamente ela fracassou. Analisando mais profundamente, o propósito não é bem esse. Oficialmente, essa política é uma tentativa de negociar uma solução com o Irã, mas seu objetivo real é desestabilizar o regime. Esse é o ponto crucial.
Há sempre uma retórica de guerra, como as ameaças de um ataque preventivo de Israel ou dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Até que ponto isso é realista, e o que significaria para a região?
Com certeza, é uma projeção realista. Tanto em Israel quanto nos EUA existem hardliners, adeptos da linha dura, que consideram a opção militar. Ao mesmo tempo, vozes moderadas dos dois países, assim como de outras nações, alertam para as consequências de uma guerra contra o Irã. Não é necessário ser um profeta para prever que um ataque ao Irã possa contagiar toda a região.
As consequências e os custos de uma agressão direta seriam tão grandes e devastadoras que quaisquer benefícios dessa iniciativa seriam insignificantes se comparados aos danos causados.
É preciso considerar que, do Marrocos à Indonésia, o Irã é o único país com uma orientação não ocidental, por isso ele está tanto em evidência.
Isso tudo tem menos a ver com as violações dos direitos humanos ou com a questão nuclear, e mais com o poder regional do Irã. Quer-se evitar o reconhecimento do país como um centro de poder geopolítico no Oriente Médio.
Então há muito mais em jogo do que a política nuclear iraniana?
Sim, se o governo de Teerã tivesse uma postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia com isso. No entanto, a política armamentista iraniana serve como justificativa para a pressão internacional sobre o país.
Minha impressão é que não importa quais concessões os iranianos venham a fazer, as pressões irão continuar porque as sanções têm a finalidade de desestabilizar o regime, e não obter concessões do Irã.
Se fosse apenas a questão da disputa nuclear, já se poderia ter encontrado uma solução há tempos. Mas não existe de fato a intenção de buscar uma solução para o conflito. Tanto o Ocidente quanto os iranianos se recusam a falar a mesma língua.
Já a forma como são feitas as negociações é absurda: o chamado grupo "5+1" – formado pelos países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na realidade, os Estados Unidos teriam de assumir o papel decisivo, mas preferem se retrair. Acaba sendo a União Europeia que assume o comando das negociações.
Na verdade, seriam necessários contatos bilaterais oficiais entre Washington e Teerã, mas para os hardliners nos Estados Unidos e no Irã isso seria, obviamente, ir longe demais.
As eleições presidenciais no Irã estão marcadas para junho. O senhor acredita que a escolha de um novo presidente possa abrir novas possibilidades de negociação com o país?
Sinceramente, acho que não importa quem vença as eleições, isso não causará uma troca no regime ou o fim do sistema islâmico. Esse seria o desejo de alguns círculos influentes nos EUA e em Israel. O risco de confronto permanece, mesmo que mude o tom das negociações.
O antecessor de Ahmadinejad na presidência, Mohammad Khatami, fez em 2003 uma oferta bastante clara de reconciliação e compensação, mas a iniciativa foi ignorada. Houve a percepção que os iranianos estariam em uma posição de fraqueza, e a proposta não foi adiante.
DW:O Ocidente há muito tempo vem tentando limitar o poder nuclear do Irã através de sanções, buscando uma solução à força – com sucesso apenas parcial. A política ocidental para o Oriente Médio fracassou?
Michael Lüders:Se observarmos pela perspectiva dos que elaboraram essas sanções, elas não fracassaram, uma vez que colocam o Irã sob uma intensa pressão econômica. A esperança é que com essa pressão contra o governo e a sociedade iranianos, a população saia às ruas para expressar seu descontentamento com a piora progressiva de sua situação. Espera-se mudanças de modo indireto, ou ao menos desestabilizar o regime, forçando-o a ceder na questão nuclear.
Mas nos últimos dez anos essa política não obteve grandes êxitos. A política de sanções é errada?
Se entendermos a política de sanções como uma tentativa de trazer os iranianos à força até a mesa de negociações, então certamente ela fracassou. Analisando mais profundamente, o propósito não é bem esse. Oficialmente, essa política é uma tentativa de negociar uma solução com o Irã, mas seu objetivo real é desestabilizar o regime. Esse é o ponto crucial.
Há sempre uma retórica de guerra, como as ameaças de um ataque preventivo de Israel ou dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Até que ponto isso é realista, e o que significaria para a região?
Com certeza, é uma projeção realista. Tanto em Israel quanto nos EUA existem hardliners, adeptos da linha dura, que consideram a opção militar. Ao mesmo tempo, vozes moderadas dos dois países, assim como de outras nações, alertam para as consequências de uma guerra contra o Irã. Não é necessário ser um profeta para prever que um ataque ao Irã possa contagiar toda a região.
As consequências e os custos de uma agressão direta seriam tão grandes e devastadoras que quaisquer benefícios dessa iniciativa seriam insignificantes se comparados aos danos causados.
É preciso considerar que, do Marrocos à Indonésia, o Irã é o único país com uma orientação não ocidental, por isso ele está tanto em evidência.
Isso tudo tem menos a ver com as violações dos direitos humanos ou com a questão nuclear, e mais com o poder regional do Irã. Quer-se evitar o reconhecimento do país como um centro de poder geopolítico no Oriente Médio.
Então há muito mais em jogo do que a política nuclear iraniana?
Sim, se o governo de Teerã tivesse uma postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia com isso. No entanto, a política armamentista iraniana serve como justificativa para a pressão internacional sobre o país.
Minha impressão é que não importa quais concessões os iranianos venham a fazer, as pressões irão continuar porque as sanções têm a finalidade de desestabilizar o regime, e não obter concessões do Irã.
Se fosse apenas a questão da disputa nuclear, já se poderia ter encontrado uma solução há tempos. Mas não existe de fato a intenção de buscar uma solução para o conflito. Tanto o Ocidente quanto os iranianos se recusam a falar a mesma língua.
Já a forma como são feitas as negociações é absurda: o chamado grupo "5+1" – formado pelos países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na realidade, os Estados Unidos teriam de assumir o papel decisivo, mas preferem se retrair. Acaba sendo a União Europeia que assume o comando das negociações.
Na verdade, seriam necessários contatos bilaterais oficiais entre Washington e Teerã, mas para os hardliners nos Estados Unidos e no Irã isso seria, obviamente, ir longe demais.
As eleições presidenciais no Irã estão marcadas para junho. O senhor acredita que a escolha de um novo presidente possa abrir novas possibilidades de negociação com o país?
Sinceramente, acho que não importa quem vença as eleições, isso não causará uma troca no regime ou o fim do sistema islâmico. Esse seria o desejo de alguns círculos influentes nos EUA e em Israel. O risco de confronto permanece, mesmo que mude o tom das negociações.
O antecessor de Ahmadinejad na presidência, Mohammad Khatami, fez em 2003 uma oferta bastante clara de reconciliação e compensação, mas a iniciativa foi ignorada. Houve a percepção que os iranianos estariam em uma posição de fraqueza, e a proposta não foi adiante. Perdeu-se assim uma oportunidade histórica.
Michael Lüders é jornalista, cientista político e especialista em Islã. Ele vive em Berlim.