Relações transatlânticas
19 de janeiro de 2009Quando Barack Obama levantar sua mão direita para jurar pela pátria nesta terça-feira (20/01) ao tomar posse no cargo de presidente dos Estados Unidos, irá se iniciar uma nova era. Sua eloquência e carisma irão, com certeza, propiciar um novo estilo de governo, que muita gente espera – dentro e fora dos EUA – para depois do mandato de George W. Bush, que chega ao fim.
A situação, no entanto, não é tão simples. Os EUA enfrentam, no momento, a pior crise econômica desde os anos 1930. As forças armadas do país estão envolvidas em duas guerras e do Oriente Médio até a Coréia do Norte a política externa passa por momentos absolutamente críticos. Durante a campanha presidencial, Obama fez promessas ambiciosas em relação à política interna, como uma reforma do sistema de saúde e novas diretrizes no setor de energia.
Altas expectativas
Os ombros sobre os quais pesa toda essa responsabilidade são os do político de 47 anos de idade, com nenhuma experiência de governo. E que nem ao menos completou um mandato no Senado norte-americano.
Mesmo assim, as expectativas são altas, especialmente fora do país. As esperanças da Alemanha em Obama ficaram evidentes por ocasião de sua visita a Berlim, em julho de 2008, quando uma multidão de 200 mil pessoas o recepcionou como se o então candidato fosse um astro de rock. Naquele momento, Obama ficou visivelmente tocado ao ver tanta gente nas ruas da capital alemã gritando yes, we can.
O auge dessa euforia aconteceu no dia 4 de novembro, quando milhões de alemães aderiram à febre da festa, na mais celebrada noite eleitoral já vista no país. Um convidado da festa que comemorou a vitória de Obama nas ruas resumia assim sua sensação: "Se ele cumprir só metade do que prometeu, já será um passo enorme à frente e isso para todo o mundo. Estou muito feliz por isso!"
Até o presidente alemão, Horst Köhler, assumiu posição semelhante, embora tenha expressado seu entusiasmo de forma mais contida. "Essa é uma ótima oportunidade de preencher as relações entre a Alemanha e os EUA com um conteúdo mais convincente. É uma oportunidade para os EUA, para a Alemanha e para todo o mundo", resumiu Köhler.
Ponto polêmico: Afeganistão
Não será fácil para o 44° presidente norte-americano corresponder a todas as expectativas. Pois, acima de tudo, ele não tem superpoderes e assumirá, em primeira linha, a responsabilidade por seu próprio país, assinala Christian Hacke, cientista político alemão em Bonn.
Algumas idéias de Obama não se alinham às do governo alemão da forma como muita gente pensa. Há diferenças consideráveis de opinião quando se trata, por exemplo, da participação das forças armadas alemãs no Afeganistão. O futuro governo dos EUA já afirmou que quer mais soldados alemães na região montanhosa do Hindu Kush – uma posição definitivamente não dividida por Berlim.
"Os assessores de Obama sabem que, num ano eleitoral, não haverá na Alemanha uma maioria parlamentar que apóie o envio de mais tropas alemãs ao sul afegão. E nem vão exigir isso", acredita Karsten Voigt, coordenador das relações entre os dois países em Berlim.
Resta saber se Obama e sua equipe irão, de fato, ser tão sensíveis. A Casa Branca terá um novo ocupante, mas muitas das posições-chave de Washington – como no serviço secreto e nos setores militar e bancário, por exemplo – não estarão mudando de mãos.
Alma verde
A cooperação em relação ao meio ambiente parece, contudo, menos problemática. Durante a campanha, Obama nunca escondeu suas propensões ecológicas, o que desperta otimismo entre os políticos do Partido Verde alemão. "Obama terá, acima de tudo, que criar novos empregos para suprir as necessidades de um setor com um gigantesco potencial de crescimento", afirma Fritz Kuhn, líder da bancada verde no Parlamento.
"Essa é uma modernização ecológica. Em relação à política do setor de energia, os EUA estão tão atrasados que Obama estará em condições de criar milhões de empregos no setor", completa Kuhn.
Concorrência entre montadoras
O mercado de trabalho norte-americano passa no momento por uma fase especialmente difícil, devido ao corte de empregos na indústria automobilística. Ao contrário de suas concorrentes alemãs, a maioria das montadoras norte-americanas apostou por muito tempo em motores potentes e poluidores.
A chanceler federal Angela Merkel expressou preocupações de que conflitos no setor automobilístico possam causar tensão nas relações entre Berlim e Washington. Merkel ressaltou que pretende ter "conversas muito sérias" com Obama, caso as montadoras alemãs levem desvantagem no mercado, em função das injeções de liquidez do governo norte-americano no setor.
Apesar de alguns abalos no caminho, as relações germano-americanas têm sido sempre harmônicas e reconciliatórias ao longo dos anos. Como ressalta o cientista político Christian Hacke, os problemas reais só irão aparecer se a Alemanha começar a nutrir expectativas muito altas em relação ao novo presidente.