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O que se sabe sobre as supostas valas comuns em Donbass

Danilo Bilek
18 de fevereiro de 2022

Pela primeira vez, a Rússia se refere oficialmente a valas comuns em Donbass, no leste da Ucrânia, e culpa militares ucranianos. Mas tais relatos não são novos e são contraditórios. A DW resume o que se sabe até agora.

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Comunicado das autoridades russas sobre valas comuns no Donbass
Comunicado das autoridades russas sobre valas comuns no DonbassFoto: sledcom.ru/

Apenas um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, falar de um suposto "genocídio" em Donbass, região no leste da Ucrânia disputada por separatistas, as autoridades de investigação russas publicaram um relatório sobre "valas comuns de civis". Elas supostamente estariam numa área de Donbass não controlada por Kiev, mas por separatistas pró-russos, quase todas na chamada "República Popular de Luhansk" e uma na "República Popular de Donetsk".

Os militares ucranianos são apontados como responsáveis. Fala-se de "matança e ferimento de milhares de civis e grupos de idioma russo", bem como de uma "aniquilação deliberada dos habitantes de Donbass". Segundo o texto, "pelo menos 295 civis" teriam sido encontrados e exumados, todos vítimas de bombardeios indiscriminados do exército ucraniano em 2014.

Entretanto, o relatório das autoridades russas ignora o fato de que, desde a eclosão do conflito no Donbass, têm ocorrido disparos e violações do cessar-fogo de ambos os lados, o que está claramente afirmado nos relatórios diários dos observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Informações sobre valas comuns não são novas

O relatório é a primeira vez que as autoridades russas se referem  oficialmente a valas comuns. Contudo, em 2021 elas haviam aberto um processo criminal pela morte de uma criança e sua avó, supostamente num bombardeio ucraniano. Em 2015, já houvera um contra o então ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, e outras autoridades por "bombardear áreas residenciais no Donbass, matando residentes com frequência".

No entanto as informações sobre as valas comuns não são novas. No outono de 2021, os separatistas pró-russos do Donbass já falavam de sepulturas, aparentemente as mesmas agora relatadas pelos investigadores russos. Pelo menos as mesmas localidades são mencionadas. O relatório atual também cita cinco valas comuns descobertas entre agosto e outubro de 2021. Os separatistas pró-russos haviam relatado a exumação de centenas de cadáveres nas regiões de Donetsk e Luhansk no início de novembro de 2021.

Vladimir Putin fala em microfone
Presidente russo, Vladimir Putin, falou de "genocídio" em DonbassFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Os separatistas pró-russos também culpam os militares ucranianos pelas mortes, que teriam todas ocorrido nos primeiros meses do conflito no Donbass, "no verão e outono de 2014". No entanto, os números divulgados na época pelas autoproclamadas "repúblicas do povo" não coincidem com os agora fornecidos pelos investigadores russos. Os separatistas de Donetsk falaram de 47 mortos e os de Luhansk, de 267.

Em fevereiro de 2022, apenas alguns dias antes do relatório das autoridades russas, o líder da autoproclamada "República Popular de Donetsk", Denis Pushilin, declarou que "130 locais de sepultamento em massa de vítimas da agressão ucraniana" teriam sido descobertos na área controlada pelos separatistas de Donetsk.

Kiev culpa "autoridades de ocupação"

Já em novembro de 2021, o membro ucraniano do Grupo de Contato Trilateral para a Solução Pacífica do Conflito no Donbass, Serhiy Harmash, chamou a atenção para a natureza organizada da campanha dos separatistas sobre as valas comuns.

Ele escreveu no Facebook que finalmente tinha começado o trabalho de abertura de valas comuns e de identificação dos restos mortais. "Entretanto, não foram as Forças Armadas da Ucrânia, mas as autoridades da ocupação que enterraram o cidadãos em valas comuns no território sob seu controle, sem estabelecer sua identidade", enfatizou Harmash.

Líder da autoproclamada "República Popular de Donetsk", Denis Pushilin
Líder da autoproclamada "República Popular de Donetsk", Denis Pushilin, também relatou sobre supostas vítimas dos ucranianosFoto: Alexander Ermochenko/Reuters

Nesse contexto, ele citou uma mensagem datada de 8 de outubro de 2021 do Centro de Informação de Luhansk, uma fonte de informação dos separatistas: em julho e agosto de 2014, se teria decidido enterrar temporariamente os mortos na área de uma instalação médica próxima à vila de Vidnoye, no sudeste de Luhansk. Essa vila também é mencionada no relatório dos investigadores russos.

Relatórios contraditórios sobre valas comuns

No outono de 2014, a "República Popular de Donetsk" havia relatado três sepulturas não identificadas perto de Makiyivka, na região de Donetsk. Na época, a mídia russa ligada ao governo noticiou que os mortos seriam vítimas da Guarda Nacional Ucraniana. Contudo, os relatos sobre o número de mortos encontrados eram contraditórios: os observadores da OSCE que examinaram as sepulturas registraram quatro, mas uma placa de sepultura tinha os nomes de cinco pessoas. E os separatistas alegaram 40 mortos.

Centro de Informações de Luhansk menciona a abertura de uma sepultura em Luhansk
Centro de Informações de Luhansk menciona a abertura de uma sepultura em LuhanskFoto: https://lug-info.com

Relatórios semelhantes também foram feitos pelas autoridades ucranianas durante o mesmo período. Em setembro de 2014, se disse que valas comuns haviam sido descobertas em Slowyansk, na região de Donetsk. A cidade esteve sob o controle de separatistas pró-russos durante vários meses, no início do conflito armado, mas se encontra novamente sob o controle de Kiev desde julho de 2014.

Na época, as autoridades ucranianas declararam que as sepulturas eram provavelmente de mortos quando Slovyansk estava sob controle separatista. Em 2018, a polícia ucraniana afirmou saber os nomes de três rebeldes supostamente envolvidos no assassinato de quatro dos indivíduos ali enterrados.

Em 2016, a polícia ucraniana relatou que uma sepultura contendo os restos mortais de 18 pessoas fora encontrada numa área controlada pela Ucrânia, na divisa entre as regiões de Luhansk e Donetsk, onde haviam sido travados combates intensos em 2014. As roupas encontradas na cova tinham "insígnias de grupos armados ilegais", como os separatistas pró-russos são chamados na Ucrânia, informou a polícia na época.