O que está por trás da nova queda do rublo, a moeda russa
22 de abril de 2023Desde o início do ano, o rublo, moeda da Rússia, perdeu 16% de seu valor em relação ao dólar e 13% em relação ao euro. Esta semana, esteve sendo negociada a cerca de 83 rublos para a moeda americana e 91 contra a europeia. Isso a torna a terceira moeda global com pior desempenho até agora este ano, atrás da libra egípcia e do peso argentino.
Após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, a moeda caiu imediatamente para 113 rublos em relação ao dólar. Mas o banco central da Rússia e o Ministério das Finanças do país injetaram dinheiro no mercado e conseguiram trazê-la de volta para 50 rublos por dólar em julho. Então, no final do ano passado, o Ocidente impôs um teto ao preço do petróleo russo. O segundo maior exportador de petróleo do mundo depois da Arábia Saudita viu sua moeda cair desde então.
Por que isso ocorre?
A desaceleração do rublo nas últimas semanas deveu-se ao aumento das importações e ao aumento das saídas de capital estrangeiro, dizem as autoridades russas. Alguns observadores concordam que isso é de fato parte do motivo, já que as receitas fiscais russas caíram 35% apenas em janeiro.
O fim do ano fiscal russo reverterá isso, dizem esses observadores. É quando os grandes exportadores trocam moeda estrangeira por rublos para cumprir as obrigações de pagamento ao orçamento do Estado. "O rublo deve retornar à faixa de 75-80 em relação ao dólar assim que os exportadores começarem a preparar os pagamentos de impostos", disse Bogdan Zvarich, analista-chefe do Banki.ru.
Mas Albrecht Rothacher, autor que trabalhou por 30 anos na Comissão Europeia, diz que o fator crucial é que o petróleo dos Urais alcançou apenas 49 dólares por barril em janeiro.
Que papel desempenha a energia?
O orçamento da Rússia para 2023 é baseado em um preço médio anual do petróleo de 70 dólares por barril. O limite de preço de 60 dólares por barril da UE está custando ao Kremlin mais de 170 milhões de dólares por dia, segundo o think tank finlandês Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo. Nesta semana, o petróleo bruto brent estava sendo negociado por cerca de 85 dólares.
Outro fator é a aprovação do presidente Vladimir Putin de um acordo que permite à gigante energética britânica Shell vender sua participação no projeto do oleoduto Sakhalin-2 no extremo oriente da Rússia. O acordo permite que a Shell transfira 94 bilhões de rublos (1,2 bilhão de dólares) em receitas da venda de seu projeto de oleoduto no exterior. A Novatek, segunda maior produtora de gás natural da Rússia, deve adquirir a participação.
Várias empresas estrangeiras se retiraram da Rússia desde que Moscou invadiu a Ucrânia no ano passado. A Bloomberg Economics estima que as empresas estrangeiras que deixaram a Rússia no ano passado venderam ativos no valor entre 15 bilhões e 20 bilhões de dólares.
"As razões por trás da queda da moeda são o encolhimento das exportações de petróleo e gás e provavelmente uma maior retirada de capital por empresas residentes na Rússia, assim como por investidores estrangeiros", disse Elina Ribakova, do think tank PIIE.
"Outro fator é a liquidez nas negociações de dólar e rublo", diz Eric Hontz, da Cipe, think tank afiliado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos. O comércio diário entre as moedas é de apenas cerca de 1 bilhão de dólares por dia, abaixo dos mais de 3 bilhões de dólares diários antes da guerra.
Também há os crescentes custos de importação de alta tecnologia ocidental via terceiros países, como Turquia, Cazaquistão, China e Sérvia, acredita Rothacher.
Sanções estão tendo efeito mais forte?
"As sanções estão tendo um efeito mais forte, particularmente o embargo da UE às compras de petróleo e derivados russos", disse Ribakova.
Mas outros dizem que a fraqueza do rublo não é o efeito imediato das sanções ocidentais. Em vez disso, dizem eles, é um sinal do dano de longo prazo que a dispendiosa guerra está causando à economia russa. Isso inclui sua crescente dependência da China.
"A China usa a Rússia como uma nova colônia de matéria-prima sobre a qual pode forçar preços com desconto a um fornecedor cativo, que desperdiça os ativos cada vez menores [da Rússia] improdutivamente em uma guerra de desgaste que não pode vencer", disse Rothacher à DW.
"As sanções estão funcionando, embora seu impacto continue a diminuir à medida que os padrões comerciais mudam e brechas são desenvolvidas e exploradas", acrescentou Hontz. "Elas, no entanto, têm um efeito inibidor adicional no que tem sido um período muito turbulento nas finanças nos últimos meses."
Qual é o papel do yuan chinês?
Em janeiro, a Rússia começou a vender suas crescentes reservas da moeda chinesa, o yuan, para cobrir um déficit orçamentário causado pela queda nas receitas de petróleo e gás e pelos custos da guerra. A Rússia teve um déficit orçamentário de 3,3 trilhões de rublos, ou cerca de 2,3% do PIB, em 2022.
"Houve um movimento substancial em direção ao uso do yuan, que agora representa mais de 30% das transações no mercado local de câmbio (de menos de 1% antes da invasão total da Ucrânia em fevereiro de 2022), mas o yuan não é uma moeda totalmente conversível, e seus instrumentos não são tão líquidos quanto o dólar e o euro, então a transição para o yuan ainda é lenta", disse Ribakova.
O que está por acontecer?
"É muito provável que a tendência de queda do rublo desde meados de janeiro tenha terminado", avaliou Alexei Antonov, da Alor Broker, à DW. "Esperamos um fortalecimento gradual da moeda russa."
Mas muitos acreditam que o governo russo é a favor de um enfraquecimento gradual do rublo, pois isso aumentaria as receitas orçamentárias sem causar inflação.
"O rublo vem sendo mantido mais fraco pelas autoridades russas em resposta ao teto do preço do petróleo e seu impacto na redução tanto das exportações quanto das receitas fiscais. O enfraquecimento do rublo ajuda a elevar o valor do rublo das receitas de petróleo no orçamento, moderando assim o crescimento do déficit", disse o analista Tim Ash à DW.
"O rublo pode continuar caindo – na ausência de intervenções – com a perspectiva de atingir a faixa de 84,5-86,5 rublos por dólar nas próximas semanas", previu o economista-chefe da Russ Invest, Harutyunyan Alexander.
Outros são mais otimistas
"Acreditamos que o dramático fortalecimento do dólar em relação ao rublo está chegando ao fim", disse à DW o chefe da consultoria de investimentos Alor Broker, Aleskey Antonov.
"Felizmente, não foram enviadas previsões catastróficas e estamos vendo um pequeno movimento na direção oposta. Prevemos que o rublo se consolidará na região de 83-78 rublos nos próximos meses em relação ao dólar e 95-88 em relação ao euro, respectivamente", disse Antonov.
"Talvez até o outono deste ano (no hemisfério norte) veremos o petróleo acima de US$ 100, no contexto de cortes de produção e maior escalada do conflito no perímetro das fronteiras dos países da Opep e a chegada de temporadas de tempestades nos EUA", acrescentou.