O homem certo contra o desemprego, a fome e a criminalidade
29 de outubro de 2002Lothar Mark, 57 anos, já esteve com Luís Inácio Lula da Silva três vezes no Brasil. "Eu o conheço muito bem. Estou feliz que ele tenha conseguido chegar à presidência da República. Para o Brasil em geral, Lula será bom, pois conhece a problemática social muito bem. Ele tem condições de reduzir os antagonismos sociais e impedir o acirramento da concentração de renda. Quando penso em desemprego, fome e criminalidade, vejo Lula como o homem certo", avalia o vice-presidente da Comissão Parlamentar Alemanha-Brasil.
O social-democrata ressalta, porém, que seu partido SPD e o governo alemão estão satisfeitos com o governo Fernando Henrique Cardoso. "Ele se comportou de forma bem franca com a Europa e a Alemanha, se posicionando sempre em favor da Europa", acrescenta o deputado federal. Mas se o PSDB tem grande afinidade com o Partido Social-Democrático da Alemanha por sua linha político-ideológica, o PT mantém igualmente boas relações com o SPD. Afinal, ambos tiveram suas origens no movimento sindical e tem em seus quadros grande número de líderes trabalhistas.
"Em nossa última visita ao Brasil, Peter Struck (ex-líder da bancada federal do SPD e hoje ministro da Defesa) e eu reafirmamos que nós, social-democratas alemães, estamos prontos para cooperarmos com o PT e Lula para o bem de ambos os partidos e de ambos os países."
Resistência a acordo de livre comércio com os dias contados
No entanto, o Brasil não deve esperar da Alemanha ajuda financeira, adverte Mark. "Estamos prontos, porém, para abrir ainda mais nossos mercados para os produtos brasileiros. Este é para mim o ponto decisivo. E não só para o Brasil, mas para todo o Mercosul, pois, quando este voltar a funcionar direito, será um parceiro forte e terá condições de superar suas dificuldades com suas próprias forças."
O vice-presidente do Grupo Parlamentar Alemanha-Brasil não acredita que o bloqueio de alguns países da União Européia à abolição das barreiras alfandegárias aos produtos do Mercosul, sobretudo os agropecuários, irá durar mais muito tempo. "Se não superarmos esta resistência, corremos o risco de o Mercosul abrir-se mais para o processo de criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Vai depender em muito da Alemanha e da Europa se o Mercosul negociará com os norte-americanos numa posição forte ou enfraquecida", analisa o social-democrata.
"Lula sabe que não se pode parar a globalização"
O ex-professor de História e Política descarta o cenário de terror pintado por alguns adversários de Lula na campanha eleitoral de que um governo petista poderia agravar a crise do Mercosul. "Nos últimos tempos cada vez mais empresários declaram seu apoio a Lula e as bolsas vêm refletindo com altas uma expectativa contrária à dos pessimistas." Mark atribui em grande parte à crise argentina o enfraquecimento do Mercosul. "Temos conjuntamente, UE e Mercosul, tentar resolver os problemas, pois ambos os lados só têm a lucrar se o Mercosul funcionar melhor", ressalta.
Quanto à globalização, o social-democrata alemão não vê espaço para o futuro governo do PT desligar-se do processo. "Lula sabe que não se pode parar a globalização. Tem de tentar dar a ela pelo menos contornos humanos em seu país. O Brasil deve buscar tornar sua economia mais competitiva em todo o mundo e nisto a União Européia também pode colaborar", afirma Lothar Mark.