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O difícil começo da defesa européia

(ns)30 de abril de 2003

Em reunião de cúpula em Bruxelas, Alemanha, França, Bélgica e Luxemburgo decidiram coordenar sua política de Defesa e criar um núcleo de planificação e comando de suas operações militares.

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Premier belga Guy Verhofstadt (à direita) e o chanceler alemão Gerhard SchröderFoto: AP

O governo grego, que exerce a presidência rototativa da União Européia, saudou a iniciativa da Alemanha, França, Bélgica e Luxemburgo em prol de uma política européia conjunta de defesa. "Muito do que foi falado em Bruxelas corresponde à nossa posição", disse o porta-voz Panagiotis Beglitis, acrescentando que uma vez encerrada a presidência grega da UE, em junho, o governo de Atenas irá aderir à iniciativa, ajudando a impulsar a criação de uma União Européia de Segurança e Defesa. Contudo, ela deverá ter "um amplo caráter", pelo que deve haver um intenso diálogo entre as lideranças européias. "Isso iremos fazer durante o encontro de cúpula de 20 e 21 de junho, perto de Thessaloniki", acrescentou.

Nasce o embrião da União Européia de Defesa

Em um encontro de cúpula realizado nesta terça-feira (29/04), em Bruxelas, os representantes dos quatro países decidiram afinar sua política de Defesa mais estreitamente e criar um núcleo de planejamento e comando conjunto de operações até meados de 2004. O embrião do que um dia poderá se transformar na União Européia de Segurança e Defesa está aberto à participação de todos os membros e futuros membros da UE. A decisão foi recebida com ceticismo nos EUA e na Grã-Bretanha, bem como nos países europeus que se aliaram aos Estados Unidos na guerra contra o Iraque e não foram convidados a participar da cúpula dos quatro.

Gipfel in Brüssel Jacques Chirac und Guy Verhofstadt
Presidente francês Jacques Chirac (à esquerda), com o premier belga Guy Verhofstadt em BruxelasFoto: AP

O presidente francês Jacques Chirac e os premiers Gerhard Schröder, Guy Verhofstadt e Jean Claude Juncker chegaram a um acordo quanto a sete pontos, entre estes a instituição de um Estado Maior, independente da OTAN. "Com o Estado Maior estratégico vamos unir os meios nacionais e evitar duplicações inúteis e dispendiosas em matéria de defesa", argumentou Chirac.

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, considerou a cúpula de Bruxelas um êxito e rebateu críticas de que teria sido uma iniciativa isolada e contrária aos EUA. "Eu creio que tudo o que foi dito nesse sentido é falso. Justamente nos Estados Unidos houve queixas, no passado, de que a União Européia não tem um número de telefone para se ligar em caso de emergência".

A nova estrutura e a OTAN

Unir as forças, cerrar fileiras e falar com uma só voz com o exterior foi o lema da reunião, uma reação às dissonâncias e às desavenças políticas que a guerra do Iraque provocou na Europa dos 15. Guy Verhofstadt, o primeiro-ministro belga fez questão de frisar que o fortalecimento da política de Defesa européia será proveitosa para a OTAN, afinal o encontro não é "antagônico e não se pretende fazer concorrência à Aliança Atlântica, muito pelo contrário. A defesa européia irá fortalecer e dar nova vida à OTAN".

Schröder complementou: "Na OTAN não temos EUA demais, e sim, Europa de menos. É justamente o que pretendemos mudar com nossas propostas, porque isso é correto em termos da coesão e eficácia da aliança."

NATO Hauptquartier
Quartel-genral da OTAN, em BruxelasFoto: NATO

A brigada franco-alemã será a base para uma força de reação rápida, que se torna necessária para que os europeus melhor possam participar de missões internacionais, seja dentro ou fora do âmbito da OTAN ou sob o mandato das Nações Unidas. Nesse sentido, o núcleo de planificação de operações e comando não precisaria recorrer necessariamente à OTAN, embora a União Européia tenha autorização da Aliança Atlântica para fazer uso de sua infra-estrutura.

Além da criação do núcleo de planejamento e comando, os quatro sugeriram o fortalecimento da capacidade de transporte dos exércitos, aperfeiçoamento da proteção contra armas atômicas, químicas e biológicas, bem como a ampliação dos programas de formação militar.

Críticas em Washington e Londres

Em Washington a iniciativa dos quatro países da UE que mais se opuseram à guerra do Iraque esbarrou em críticas. Os Estados Unidos estão convencidos de que a OTAN deve continuar sendo o pilar da segurança transatlântica, disse a porta-voz da Secretaria de Estado, Nancy Beck. "Não precisamos de mais quartéis-generais", disse a porta-voz, em nome do chefe da diplomacia americana, Colin Powell e acrescentou: "Precisamos é de melhor capacitação e renovação das estruturas e forças já existentes", referindo-se à OTAN, "com equipamento moderno para recuperar a defesagem tecnológica. Criar novas estruturas implicará tirar recursos das já existentes".

Russlands Präsident Wladimir Putin zeigt auf den britischen Premier Tony Blair
Presidente russo Vladimir Putin (à esquerda), com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, após reunião perto de MoscouFoto: AP

O premier-britânico Tony Blair também criticou a decisão dos quatro países. Segundo ele, o plano de sete pontos provoca uma profunda cisão na UE. "Eu quero uma Europa forte e influente, mas quero-a forte e influente ao lado dos Estados Unidos, e não como seu rival", criticou em Moscou, onde reuniu-se com o presidente russo Vladimir Putin.

Emancipação da Europa: um velho projeto

"Todos estão interessados nessa iniciativa", contra-atacou Jacques Chirac. "Não creio que estejamos isolados e lembro que todas as iniciativas da União Européia partiram de dois ou três países, todas elas". Esse aspecto é ressaltado pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, em sua edição de quarta-feira (30/04). Depois de ressaltar que o conceito dos quatro expressa uma boa porção de emancipação dos EUA, e lembrar que Washington exigiu dos europeus que incrementassem seus esforços militares para melhor participar de missões em regiões de crise, o diário comenta:

"Pena que esse pequeno esforço tenha sido tão mal encenado. Que força simbólica ele teria, se não apenas quatro países tivessem se reunido, mas todos os seis países europeus que fundaram a comunidade européia. Bastaria então que os seis se recordassem do que já haviam pretendido fazer há 50 anos, antes que o Parlamento francês acabasse com a alegria: a União Européia de Defesa, evocada agora como visão ambiciosa, já foi questão decidida em 1952!".

Para o Frankfurter Rundschau começou uma nova era de política de defesa na Europa. E ela não chegou com pompa e circunstância, mas como é comum na UE: "de forma muito civilizada, cuidadosamente, em pequens porções, suportáveis. Mas isso não deve induzir ao erro de achar que, no encontro, o velho pacote só recebeu um papel novo. Em Bruxelas tampouco se reuniram os que disseram 'não' à guerra, em busca de tardias justificativas. Reuniu-se um grupo de adeptos da integração européia, que impressionados com a maneira americana de lidar com a guerra e as Nações Unidas, entenderam que o tão falado e abandonado projeto de uma União Européia de Segurança e Defesa deve tomar forma rapidamente."