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"O colapso da sociedade civil norte-americana"

(sv)3 de setembro de 2005

Governos europeus se solidarizam com as vítimas da catástrofe, enquanto a mídia não poupa críticas à Casa Branca, ao comparar a atual situação em Nova Orleans com as mazelas de países africanos em guerra civil.

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Milvertha Hendricks, 84, vítima da tragédia em Nova OrleansFoto: AP

Boa parte da imprensa européia vem registrando, nos últimos dias, o paradoxo que a devastação causada pelo Katrina nos EUA trouxe à tona: "O país mais rico e poderoso do mundo, onde cidadãos mendigam por água, comida e auxílio, passando por sofrimentos que só se conhece no Sudão ou na Nigéria", estampa o britânico The Guardian.

Solidariedade e apoio técnico

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Voluntários da Cruz Vermelha entre as vítimas do KatrinaFoto: AP

Os ministros do Exterior da União Européia, reunidos no Reino Unido na última sexta-feira (02/09), demonstraram abertamente solidariedade com os EUA, apoiando a liberação de reservas estratégicas de petróleo. "Uma medida necessária", segundo o encarregado da Política Externa e de Segurança da União Européia, Javier Solana.

O governo alemão anunciou o envio de apoio médico e técnico aos EUA, além dos alimentos já a caminho das regiões atingidas. O chanceler federal, Gerhard Schröder, ofereceu ao governo norte-americano vacinas e equipamento médico-hospitalar, além de pessoal qualificado em ações de resgate e especialistas em abastecimento de água.

Leviandade na falta de prevenção?

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Bush andando por Biloxi, na região atingida pelo KatrinaFoto: AP

O enfoque de parte da mídia européia, no entanto, não é dado apenas à catástrofe natural, mas principalmente à atitude das autoridades norte-americanas em relação ao ocorrido.

"O governo Bush não pode dizer que não foi alertado a respeito. Previsões metereológicas anunciaram há semanas que um furacão se aproximava. A mídia acompanhou o Katrina de perto, quando ele partiu para cima do mar. E mesmo assim não estiveram em condições de estabelecer um plano de emergência adequado, capaz de colocar os cidadãos em segurança e organizar um resgate rápido e eficaz. Preferimos nem pensar que o perfil pobre e negro da população tenha sido a razão dessa leviandade", comenta o Der Morgen, de Bruxelas.

A lentidão das autoridades em fornecer socorro às vítimas, a demora de Bush em se locomover até as regiões atingidas e a encenação de sua visita na última sexta-feira (02/09) ocuparam parte dos editoriais da imprensa européia e foram tema de comentários no horário nobre da televisão alemã.

"Cinismo dos inimigos"

Embora o diário italiano Corriere della Sera tenha estampado que "os inimigos dos EUA se alegram cinicamente" com a tragédia, o tom de vários jornais europeus é o de solidariedade com as vítimas, que em sua grande maioria viviam abaixo da linha onde começa a pobreza na nação mais rica do planeta.

Alguns jornais alertaram ainda para o descuido com que as questões relacionadas ao meio ambiente vêm sendo tratadas, lembrando o não de Washington à ratificação do Protocolo de Kyoto. "As imagens de Nova Orleans são um apelo à razão e um não à insensatez da economia mundial, tanto nos EUA quanto no resto do mundo", comenta o diário berlinense taz.

Podridão e morte

Hurrikan Katrina Lage in New Orleans
Vítimas da catástrofe em Nova OrleansFoto: AP

O "odor de podridão e morte", observa o Süddeutsche Zeitung, não é possível de ser transmitido pelas cadeias de TV. Em artigo que relembra a tragédia de 1927, que deixou também um grande número de vítimas – da mesma forma negras e pobres –, o jornal comenta a postura racista de um governo que chama de "saque" a busca desesperada dos negros atrás de alimentos em estabelecimentos abandonados.

E aponta em Nova Orleans "o colapso da sociedade civil norte-americana, cuja tarefa maior é proteger seus próprios cidadãos". Uma sociedade que, neste momento, se vê frente a "um governo alheio à realidade, para o qual a garantia do abastecimento de combustíveis é mais importante que a vida de milhares de vítimas".