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O Brasil na imprensa alemã (28/11)

28 de novembro de 2018

Significado da eleição de Jair Bolsonaro foi tema de artigo na semana que passou. Saída de cubanos do programa Mais Médicos e descoberta de cidade subterrânea de cupins na caatinga também foram destaques.

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Apoiadores de Jair Bolsonaro à noite em carreata com metralhadora de papelão na mão comemoram eleição do ex-militar
Apoiadores de Jair Bolsonaro comemoram após eleição: "filme de horror político", escreve jornalFoto: Reuters/P. Olivares

Die Zeit – Ensaio: Apocalypse Brasil, 26/11/2018

Bolsonaro e seus apoiadores do âmbito militar e das igrejas evangélicas souberam usar com maestria a opinião pública fragmentada. (...) Por meio de uma campanha de desinformação sem precedentes e alimentada por voluntários, retrataram a recente história do Brasil como um desmoronamento cinematográfico, como a ruína na corrupção, violência e abandono.

Nós, na Europa, somos receptivos a essa narrativa porque ela confirma nosso olhar acostumado sobre a América do Sul. Perturbados, olhamos para um país que aparentemente não consegue ser uma democracia de verdade. O problema é que a Europa, independentemente de sua indignação superficial sobre a ascensão do fascismo e a ameaçadora catástrofe ambiental, compartilha – ao menos inconscientemente – dos interesses da elite brasileira no poder, o interesse na restauração da velha ordem.

É que uma revolução social profunda não acabaria apenas com o subdesenvolvimento estrutural do Brasil, a eliminação dos últimos redutos indígenas e do bioma mais importante do planeta. No longo prazo, também impediria que o Brasil jogasse soja e minério de ferro em grandes quantidades no mercado internacional, importando máquinas e carros alemães em contrapartida. Essa revolução restringiria a exploração fatal dos recursos naturais e colocaria em questão a ordem econômica global e pós-colonial.

Isso teria consequências indiretas também sobre nós. Não aconteceria apenas contra o egoísmo da elite brasileira, mas também contra o dos fabricantes de automóveis e produtores de carne europeus, que alimentam seus animais com soja barata. Também por isso, estamos inclinados a acreditar na espetacular história do colapso da democracia brasileira, uma história difundida por apoiadores de Bolsonaro na TV, nos jornais e via WhatsApp, para restaurar uma ordem social e familiar reacionária e para inflamar uma perseguição santa contra o PT, contra a comunidade LGBTQ e contra a ascensão social de afro-brasileiros.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Êxodo repentino, 23/11/2018

Agora, todos os médicos cubanos do programa Mais Médicos voltarão para Cuba – por ordens de cima. Até 12 de dezembro, mais de 8.300 médicos terão de deixar o Brasil. Havana dissolveu o acordo na última semana depois que o futuro presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que os médicos cubanos teriam que se submeter a testes de capacitação e receberiam um salário integral, como seus colegas brasileiros. Quem quisesse também poderia trazer a família para o Brasil. Bolsonaro, um linha-dura de extrema direita e que não é amigo do regime cubano, sabia que Cuba não aceitaria isso. Mas ele também sabia que, com isso, desmascararia o negócio com os médicos, que ele descreve como trabalho escravo. Bolsonaro pensa em romper relações diplomáticas com Cuba. Recebeu elogios de Washington por isso.

Com a retirada dos médicos do Brasil, Cuba perderá mais de 300 milhões de dólares. Isso é mais do que o país lucra, por exemplo, com a exportação de cigarros. Para além do negócio com o Brasil, o envio de forças médicas se transformou no principal "produto de exportação" de Cuba.

A saída repentina também coloca o Brasil diante de problemas. Mas o Ministério da Saúde já iniciou o recrutamento de novos médicos. Quanto mais longínquas forem as vagas ainda abertas, menor deverá ser o interesse. Para ocupar as vagas, será preciso criar estímulos financeiros. É que os médicos brasileiros não irão para lá à força.

Süddeutsche Zeitung – A maior cidade do mundo, 24/11/2018

Na verdade, o entomologista britânico Stephen J. Martin viajou pelo Nordeste do Brasil para avançar em seus estudos sobre a mortalidade das abelhas no mundo. Na estrada atravessando a caatinga, bioma semiárido brasileiro, ficou espantado com os muitos montes de terra à direita e à esquerda da via. Tinham 2,5 metros de altura e cerca de 9 metros de largura e emolduravam o caminho durante horas a fio. A primeira suspeita de Martin foi de que se tratava de restos de obras da rodovia. Mas um de seus acompanhantes locais disse: "Ah, mas são só cupinzeiros".

A revista científica Current Biology publicou o relatório de pesquisas do entomologista britânico Stephen J. Martin e do biólogo americano naturalizado brasileiro Roy R. Funch. Segundo o texto, na caatinga há cerca de 200 milhões de montes de terra produzidos por cupins, todos mais ou menos com a mesma estrutura, que se estendem por uma área de 230 mil quilômetros com uma regularidade fascinante. A área corresponde mais ou menos à do território da Grã-Bretanha. Alguns desses montes têm quase 4 mil anos. Em outros, os insetos ainda trabalham.

Os pesquisadores estimam que a terra revolta pelos cupins acumule mais de dez quilômetros cúbicos. Como ilustração, eles converteram esse número em pirâmides egípcias. O que os cupins brasileiros criaram equivale ao volume de 4 mil pirâmides de Quéops. O estudo diz: "Trata-se de uma das maiores obras jamais erigidas por uma espécie de inseto".

A descoberta provavelmente só foi possível devido ao recente desmatamento na região, que evidenciou mais e mais montes de terra, tornando seu alinhamento geométrico visível no Google Earth. Foi assim que Funch descobriu a cidade. Mas lá onde a floresta desaparece, desaparecem também os cupins. Aparentemente, eles se alimentam das folhas que caem uma vez por ano após a temporada das chuvas.

RK/ots

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