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O Brasil na imprensa alemã (25/08)

25 de agosto de 2021

Protestos de indígenas em Brasília, a "perigosa derrocada" econômica na pandemia e a disposição para vacinação dos brasileiros são destaque na mídia da Alemanha.

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Silhueta de indígenas em visão noturna contrastam com céu e prédios do Congresso
Povos indígenas fazem vigília em Brasília contra projetos que ameaçam suas terrasFoto: Carl de Souza/AFP

Tagesschau.de – Protesto indígena no Brasil: "Nunca estivemos tão ameaçados como agora" (24/08)

Com um acampamento na capital, os indígenas do Brasil protestam contra uma ferrovia no meio da Amazônia. Além disso, propostas legislativas e processos judiciais ameaçam seus territórios.

(…)

Atualmente há vários projetos para votação no Parlamento que representam uma ameaça para os territórios indígenas. O projeto de lei (PL 490) tem como objetivo permitir a mineração em áreas indígenas protegidas. Essa é há anos uma reivindicação de Jair Bolsonaro. Outro projeto legislativo, PL 2633, já foi aprovado por maioria na Câmara dos Deputados. Se o Senado também o aprovar, seria permitida uma legalização retroativa da grilagem de terras. Isso legalizaria de uma só vez parte do desmatamento criminoso da Floresta Amazônica realizado no passado.

Nesta quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal também pode aprovar uma decisão sobre a regra do chamado "marco temporal", estipulando que os indígenas só podem reivindicar uma área se eles já moravam no local antes de 1988, mas isso é algo difícil de provar na prática. Além disso, em alguns casos, os povos indígenas foram deslocados de seu território de origem há muito tempo. Foi somente no decorrer da nova política indígena do Brasil, após o fim da ditadura militar, que eles puderam se reinstalar em suas terras ancestrais com o apoio do Estado.

Se os magistrados chegarem à conclusão de que são necessários atestados de ocupação da terra anterior a 1988, isso equivaleria na prática ao cerceamento dos direitos anteriormente garantidos aos povos indígenas do Brasil. E também pode ser um impulsionador do desmatamento no médio prazo, assim como vários outros projetos que o governo Bolsonaro está tentando aprovar no Congresso.

Handelsblatt – A perigosa derrocada dos países emergentes (20/08)

Pandemia fora de controle, economia estagnada, moedas em queda – os antigos motores do crescimento global estão se tornando um fator de risco.

Jair Bolsonaro está fazendo nestes dias o que ele sempre fez, desde que se tornou presidente do Brasil: visita quartéis, áreas de treinamento militar ou batalhões de polícia para distribuir medalhas. Ele discursa e gosta de chamar de "filho da puta" o chefe do TSE, e quer de qualquer maneira sair logo da ordem constitucional, de que não gosta muito. E no fim de semana passado, reuniu 24 mil de seus apoiadores ao seu redor para iniciar um passeio de motocicleta no meio de um estado do sul com taxas recordes de infecção por coronavírus – sem máscara, é claro.

E o que ainda acontecia no Brasil nesses dias: os bancos de investimento reduziram suas projeções de crescimento para o próximo ano para menos de 2%, o que é um número fatal para um mercado emergente. As autoridades anunciaram taxas de inflação que são alarmantes. E 6 mil empresários assinaram um manifesto contra os ataques do presidente à democracia.

Bem-vindo à maior economia da América Latina; política errática, economia vacilante. O Brasil é certamente um caso extremo em termos de escapadas políticas. Economicamente, porém, o país apresenta uma tendência preocupante.

Süddeutsche Zeitung – Incríveis 99% (20/08)

E enquanto em países como Reino Unido, Israel ou Alemanha o número de recém-vacinados pouco aumentou recentemente, o Brasil não parece ter chegado a esse ponto, pelo contrário: há uma verdadeira febre da vacinação, as filas na frente aos centros de saúde são longas, e se falta algo, definitivamente não é motivação, mas no máximo mais doses de imunizante.

São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, com mais de 46 milhões de habitantes, é um exemplo da disposição das pessoas em se vacinar. Mais de 92% dos adultos aqui já foram imunizados com pelo menos uma dose; na metrópole com o mesmo nome, a cifra é de incríveis 99%. Há alguns dias, menores com comorbidades também estão sendo vacinados. Enquanto em outros lugares as pessoas estão pensando sobre quais incentivos e meios de dissuasão ainda poderiam ser usados ​​para fazer as pessoas se vacinarem, nada disso parece realmente necessário no Brasil: 94% de todos os brasileiros dizem que querem ser vacinados ou já o fizeram.

Tanta disposição para ser vacinado é incrível, principalmente quando se considera que não existe vacinação obrigatória no Brasil, mas um presidente que sempre minimizou os perigos da covid-19 desde o início da pandemia. A covid-19 é uma "gripezinha", disse o presidente. "O vírus é como a chuva, vai atingir a todos." Ao mesmo tempo, alertou publicamente sobre os riscos da imunização: "Se alguém se transformar em jacaré após uma injeção, não é minha culpa."

Em vez de cuidar das vacinas em um estágio inicial, seu governo investiu muito dinheiro em medicamentos como a cloroquina, cujo uso contra a covid-19 é altamente controverso. Influenciadores teriam recebido dinheiro para promover o remédio, enquanto até políticos de alto escalão estavam envolvidos em campanhas de fake news sobre vacinas e o vírus. Mesmo quando as empresas farmacêuticas fizeram ofertas muito específicas para as primeiras entregas de vacinas no segundo semestre do ano passado, Brasília simplesmente as ignorou. Por exemplo, e-mails da Pfizer sequer foram respondidos, e uma investigação parlamentar está em andamento.

Tagesschau.de – Os sem-teto no Brasil: a miséria na rica São Paulo (22/08)

Violência, drogas e desesperança são onipresentes e, por causa do coronavírus, famílias inteiras com crianças pequenas se viram de repente dentro deste ambiente. Na sociedade brasileira, o chamado setor informal é algo normal. Muitos são empregados como diaristas no ramo de alimentação ou comércio, sem vínculo empregatício e, portanto, sem direito ao mínimo apoio estatal. Segundo a prefeitura de São Paulo, havia quase 25 mil pessoas sem casa antes da pandemia. Organizações de ajuda consideram este número muito baixo e estimam que o número dos sem-teto aumentou de 50% a 60% devido à pandemia. Isso também se deve à política para o coronavírus do presidente Jair Bolsonaro, que continua minimizando a pandemia mesmo depois de 570 mil mortes no Brasil e considera a vacinação supérflua.

Um dos maiores críticos do presidente de extrema direita é o padre Júlio Lancellotti, um sacerdote paulista que trabalha com moradores de rua. Ele acusa Bolsonaro de simplesmente querer se livrar da população mais pobre do Brasil. "O governo costuma dizer que faz política para todos, mas não faz", diz o padre Júlio, em entrevista à ARD. Ele afirma que às vezes as pessoas são descartadas como lixo: "Pessoas de quem querem se livrar, porque as consideram inúteis. E é exatamente isso que estamos experimentando aqui." Padre Júlio fala de um "capitalismo assassino" no Brasil e, de fato, várias anomalias sócio-políticas se chocam no país.