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O Brasil na imprensa alemã(15/08)

15 de agosto de 2018

Jornal aborda crise da democracia brasileira, descreve Bolsonaro como racista, homofóbico e misógino e diz que Lula deveria abrir mão de candidatura. Desabamento de prédio e drama dos sem-teto também é tema.

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Jair Bolsonaro
"O pesadelo Bolsonaro não acabará após a eleição", diz jornalFoto: Imago/Agencia EFE/S. Moreira

Süddeutsche Zeitung – A democracia do Brasil pronta para a UTI, 12/08

Vinte porcento dos brasileiros querem dar seu voto para um político racista, homofóbico e misógino. É provável que Bolsonaro chegue ao segundo turno, mas o cenário atual aponta que ele perderá então contra qualquer candidato que enfrentar. 

Mas o pesadelo Bolsonaro não acabará após a eleição, já que ele é o sintoma de uma crise do sistema. Faz parte de uma democracia saudável os cidadãos não acreditarem em tudo o que seus políticos dizem. Mas a democracia brasileira, de apenas 33 anos, está pronta para ir para a UTI.

Não foram apenas os políticos que perderam sua credibilidade, mas também as instituições, o Congresso, os partidos, a Justiça. Um terço da população não considera mais o "caminho democrático" a "melhor opção". 

Só é possível entender o Brasil se o compreendermos como uma exceção latino-americana. O país fala uma língua diferente do resto da região e tem outra cultura política. Não é marcada pelo confronto aberto, mas pelo consenso, pelo acordo nos bastidores. O colonialismo, o Estado escravagista, a ditadura militar – surpreendentemente, tudo isso desapareceu sem atritos. Sobretudo a democracia brasileira padece dessa cegueira para a história.

É uma democracia que não representa. Nem as mulheres, nem os indígenas ou os negros. Depois da deposição de sua predecessora eleita Dilma Rousseff, o presidente Michel Temer formou um governo composto apenas de homens brancos. O Parlamento também está longe de espelhar a população desse país multifacetado. A atual corrida eleitoral dá continuidade a essa tradição.

A escolha será entre vários velhos conhecidos. Entre eles, Bolsonaro, que se opõe ao establishment, apesar de ter representado nove diferentes partidos no Congresso desde 1990, e o ex-presidente Lula, que foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção. A pena é altamente controversa e ainda não é definitiva. Mesmo assim, se a prioridade de Lula fosse o país, ele teria que abrir caminho para um candidato de esquerda livre de acusações. Mas o patriarca do Partido dos Trabalhadores se concentra principalmente em si e em seu mito.

O Brasil está diante de uma eleição cujo resultado nunca foi tão incerto. Em breve, a candidatura de Lula deverá ser impedida pela Justiça Eleitoral – por isso, trata-se principalmente de saber quem irá ao segundo turno contra o extremista Bolsonaro. Alguém que atualmente convence entre 5% e 10% dos eleitores deverá governar o Brasil em breve.

Neues Deutschland – Sem-teto caem para o nada, 14/08

Na madrugada do dia 1° de maio, um edifício de 24 andares desabou no coração de São Paulo. O número de mortos? Não se sabe. Várias pessoas ainda estão desaparecidas. Mais de 200 famílias que habitavam o prédio ficaram sem moradia da noite para o dia.

A maioria delas ocupou o Largo do Paissandu, uma praça movimentada no centro da cidade. Imediatamente após o desabamento, foi grande a agitação em torno das vítimas. A azáfama se foi tão rapidamente quanto veio – e o que ficou foram as barracas dos sem-teto.

Pouco antes das eleições presidenciais de outubro, aguardadas com ansiedade, as barracas no Largo do Paissandu são uma pedra no sapato da administração municipal. Desde a tragédia, a prefeitura vem anunciando que retirará do local todas as famílias que já receberam indenizações.

No dia 10 de agosto, mais de três meses depois da catástrofe, a polícia paulistana foi enviada ao local do desabamento com 12 viaturas, enormes contêineres de lixo e uma matilha de cães.

A queda do edifício em São Paulo tem grande poder simbólico. A tragédia evidenciou uma verdade da sociedade brasileira que as classes média e alta brasileiras gostam de esquecer: na cidade mais rica do país, são pouquíssimos os que podem se dar ao "luxo" de pagar um aluguel mensal.

Estima-se que em São Paulo haja 206 prédios ocupados como o Wilton Paes de Almeida, que desabou. Neles, vivem mais de 45 mil pessoas – em condições inaceitáveis. No país como um todo, o IBGE calcula que mais de 20 milhões de pessoas precisem de moradia. Ao mesmo tempo, o país possui mais de sete milhões de imóveis vazios – quase sempre, por motivos especulativos.

RK/ots

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