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O Brasil na imprensa alemã (11/08)

11 de agosto de 2021

Desfile militar em Brasília, Bolsonaro sem máscara em motociatas, investidas do presidente contra o sistema eleitoral e PL da Grilagem ganharam espaço na mídia alemã.

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Tanque militar passa em frente a Esplanada dos Ministérios, em Brasília
"Pela primeira vez desde a ditadura, tanques militares voltaram a rolar pela capital brasileira"Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Spiegel Online: Bolsonaro provoca deputados com desfile militar (11/08)

Foi um desfile militar insólito no centro de Brasília: tanques rolaram pela capital brasileira sob o olhar do presidente Jair Bolsonaro. Ladeado por vários ministros, bem como pelos chefes do Exército, da Força Aérea e da Marinha, o chefe de Estado observou os veículos militares passarem pelo palácio presidencial, pelo edifício do Congresso e pela Supremo Tribunal Federal.

No mesmo dia, ocorreria a votação na Câmara dos Deputados de uma Proposta de Emenda à Constituição, segundo a qual as urnas eletrônicas no país passariam a emitir boletins de voto impresso. A proposta correspondente havia chegado ao plenário da Câmara, apesar da rejeição de uma comissão especial.

O desfile militar no mesmo dia foi uma "coincidência trágica", afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Oficialmente, a cerimônia serviu para a entrega de um convite a Bolsonaro para um exercício militar anual que ocorre perto da capital desde 1988.

Analistas ressaltaram, porém, que foi a primeira vez desde o retorno à democracia no Brasil que tanques rolaram pelas ruas em frente ao palácio presidencial e ao Congresso. Eles avaliaram o desfile de dez minutos como uma demonstração de força do presidente, que atualmente é alvo do Judiciário por seus ataques ao sistema eleitoral.

O chefe de Estado radical de direita já justificou a ditadura militar no Brasil várias vezes no passado. Dezenas de apoiadores de Bolsonaro compareceram ao desfile perto do palácio presidencial, alguns seguravam cartazes com dizeres que pedem uma intervenção militar para "salvar o Brasil".

Tagesspiegel: Sem máscara por Brasília: Bolsonaro lidera nova grande motociata (09/08)

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro mais uma vez organizou uma motociata com inúmeros participantes e sem máscara. Ele dirigiu pela capital Brasília e arredores com centenas de simpatizantes, a maioria dos quais também não usava proteção facial, conforme noticiou a mídia local.

No dia anterior, Bolsonaro já havia comandado um passeata de motocicletas com milhares de participantes na cidade de Florianópolis. Ele transitou em meio a uma multidão sem máscaras.

Depois de uma grande motociata em São Paulo em junho e um evento no Maranhão em maio, os governos dos dois estados, liderados por opositores do Bolsonaro, multaram o presidente por não usar máscara.

Desde o início, o populista de direita minimizou o coronavírus e se manifestou repetidamente contra o uso de máscaras e outras medidas de contenção. Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal iniciaram investigações contra Bolsonaro após ele ter questionado publicamente o sistema eleitoral do país.

Em um discurso em Florianópolis após a motociata, Bolsonaro mais uma vez defendeu o voto impresso para garantir eleições "limpas". Em outubro de 2022, haverá eleições presidenciais e parlamentares no Brasil. 

Frankfurter Allgemeine: Com Trump como exemplo (05/08)

Opinião do jornalista Klaus-Dieter Frankenberger

O que acontece quando eleições são sistematicamente desacreditadas como suscetíveis à manipulação pode ser visto nos EUA. Ainda hoje, milhões de eleitores de Trump estão convencidos de que o ex-presidente foi vítima de fraude na tentativa de reeleição e que Joe Biden é um presidente ilegítimo. A consequência: as instituições e os procedimentos do Estado perdem força e aceitação – a democracia é prejudicada.

Algo semelhante está acontecendo no Brasil. Por lá, o presidente Jair Bolsonaro exige uma mudança no procedimento de contagem alegando que o voto eletrônico é passível de manipulação.

Bolsonaro não tem evidências para apoiar sua afirmação. Mas ele está preparando seus apoiadores para o pior cenário possível: uma derrota nas eleições presidenciais do ano que vem, que ele não admitiria. Ele tem travado uma briga intensa com o Supremo Tribunal Federal porque a corte está investigando a acusação de que Bolsonaro quer atrapalhar, complicar ou frustrar o processo eleitoral.

Obviamente, o presidente populista de direita do Brasil se baseia em seu exemplo americano: ele semeia dúvidas, mobiliza simpatizantes, desacredita instituições. Nos EUA, a invasão do Capitólio em 6 de janeiro foi o clímax triste e vergonhoso da agitação causada por Trump. No Brasil não precisa chegar a tanto. Mas os preparativos estão sendo feitos. Tal qual ao modelo americano!

Tagesschau: O momento dos garimpeiros e pecuaristas (09/08)

Matthias Ebert, do estúdio da emissora pública ARD no Rio de Janeiro

No Brasil, a apropriação ilegal de terras deve ser legalizada retroativamente. A lei ameaça os indígenas, cujas reservas estão sendo ocupadas por invasores com frequência cada vez maior. O Estado brasileiro muitas vezes não se contrapõe – também por tática calculista.

Após horas na estrada, a equipe da ARD chegou ao seu destino: a aldeia de Vila Renascer. Um lugar empoeirado que não deveria existir, porque fica no território dos Apyterewa. Por lei, sua terra goza do maior status de proteção do Brasil. Mas logo na chegada, fica claro que o Estado praticamente não está presente ali – no Velho Oeste do Brasil. 

No restaurante da Vila Renascer, Antoneta Araújo está no fogão cozinhando frango e arroz. Ela vem de uma região pobre a 800 quilômetros a leste dali e, há um ano, acompanhou seu marido, Joca Costa, e se mudou para a região. Joca administra a maior loja da Vila Renascer a faz bons negócios. "Se eles legalizarem nosso lugar, as coisas correrão bem. Há tanta riqueza adormecida no solo aqui: ouro, muito ouro", disse Joca. Antoneta e Joca sabem que ocupam essas terras ilegalmente. Ao mesmo tempo, eles esperam que a grilagem seja legalizada retroativamente.

As chances disso ocorrer não são poucas, porque, sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, a Câmara dos deputados aprovou o PL 2633/2020 [conhecido como PL da grilagem] no início de agosto. Se o Senado também aprová-lo, o desmatamento criminoso da floresta tropical se tornaria legal.

A prefeita do município vizinho de São Félix do Xingu apoia os esforços de legalização retroativa da Vila Renascer, porque isso traria votos e receitas fiscais adicionais. A região no estado do Pará é considerada um reduto de Bolsonaro. Em 2018, 60% votaram nele ali. Sua promessa de campanha eleitoral era abrir reservas indígenas para a exploração econômica. Muitos criadores de gado e garimpeiros veem que chegou seu momento, após anos – incluindo o dono da loja em Vila Renascer, Joca Costa.

Seu negócios já vão bem graças aos garimpeiros. Frequentemente, alguns deles param em sua loja e estocam mantimentos, ferramentas e combustível para suas motosserras. Em seguida, eles dirigem seus veículos off-road para as profundezas da floresta, cuja proteção goza de status constitucional. Mas ninguém os detém no Velho Oeste do Brasil.