O Brasil na imprensa alemã (09/02)
9 de fevereiro de 2022Süddeutsche Zeitung – "Mataram meu filho porque ele era negro" (03/02)
Era por volta de 22h30 do dia 24 de janeiro quando uma briga começou num quiosque numa praia no Rio de Janeiro. Um funcionário do local discutiu com outro trabalhador, provavelmente sobre o salário por vários dias de trabalho. Moïse Mugenyi Kabagambe, o jovem empregado, queria cobrar o dinheiro naquela noite, segundo a sua família. Dizem que seu patrão lhe devia cerca de 200 reais, o equivalente a menos de 40 euros. Não era muito, mas Kabagambe precisava do dinheiro.
Aos 11 anos, ele veio da República Democrática do Congo para o Brasil com a família. Todos tinham a esperança de uma vida melhor, ou pelo menos de escapar da guerra e da violência. Hoje isso se mostrou ser uma ironia cruel.
A mãe de Moïse Kabagambe disse ao jornal carioca Extra que seu filho sempre amou o Brasil. Após a chegada, ele rapidamente aprendeu português, fez amigos e conseguiu um emprego. "A gente chegou aqui, e os brasileiros sempre foram pessoas boas", disse a mãe. "Mas, hoje, não sei mais."
Assassinatos semelhantes são uma triste parte do cotidiano brasileiro – e, especialmente, no Rio. Em média, uma pessoa é morta a cada dez minutos no maior país da América do Sul, e o derramamento de sangue quase não chama a atenção, especialmente quando – como no caso de Moïse Kabagambe – um jovem negro é a vítima.
Embora grande parte da população brasileira também tenha raízes africanas, o racismo ainda é generalizado. O país nunca olhou criticamente para seu passado como uma nação escravista, embora mais africanos traficados tenham desembarcado no Rio de Janeiro do que em qualquer outro porto da América do Norte ou do Sul.
Moïse Kabagambe não foi espancado até a morte em alguma favela ou subúrbio pobre, mas na Barra da Tijuca, um bairro residencial elegante com shoppings chiques, complexos de apartamentos envidraçados e uma praia de um quilômetro de extensão. E lá, do lado de fora do quiosque onde Kabagambe foi assassinado, amigos e familiares iniciaram vigílias e protestos após sua morte para exigir justiça. No final, o caso recebeu a atenção que, de outra forma, não teria recebido.
O Brasil discute agora racismo e xenofobia profundamente arraigados. Manifestações estão planejadas, e as pessoas mostram sua solidariedade nas redes sociais. De repente, a morte violenta de um jovem negro está no principal noticiário, e seu nome está na primeira página dos principais jornais. Um avanço, ainda que pequeno.
A mãe de Moïse Kabagambe tem certeza: "Mataram meu filho porque ele era negro. Só quero justiça."
Frankfurter Allgemeine Zeitung – "O novo amigo de Bolsonaro, um nacionalista de esquerda" (04/02)
O clima parecia relaxado. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e seu colega peruano, Pedro Castillo, até brincaram na sessão oficial de fotos no final da visita do peruano. Por um momento, Bolsonaro colocou o chapéu de Castillo, que se tornou a marca registrada do presidente peruano. Bolsonaro e Castillo pareciam melhores amigos.
Bolsonaro confirmou a impressão de que as diferenças entre eles foram superadas. No entanto, são dois mundos políticos diferentes: Bolsonaro é um linha-dura de direita com formação militar, e Castillo é um sindicalista e professor de um partido marxista. Mas o que ambos têm em comum? Eles são nacionalistas.
Não apenas a distância pessoal entre os diferentes presidentes diminuiu durante uma reunião em Porto Velho. Os dois países também querem se aproximar física e logisticamente. Pelo menos é o que Bolsonaro espera. Ele quer persuadir seu colega peruano a construir uma estrada através da Floresta Amazônica até o Peru, que ligaria o Brasil ao Oceano Pacífico.
O Brasil há muito sonha com uma saída para o Pacífico. A importância continuou aumentando com o progresso do agronegócio no oeste do Brasil. A China, em particular, que compra cerca de 80% da safra de soja do Brasil, provavelmente se interessará pelo projeto. Atualmente, os produtos agrícolas brasileiros são transportados por caminhões e em hidrovias para o Atlântico e, de lá, para a Ásia pelo Canal do Panamá. Uma conexão com o Pacífico encurtaria consideravelmente as distâncias e tornaria a soja brasileira mais barata. Pela mesma razão, há algum tempo os chineses pensam em construir uma ferrovia do Atlântico ao Pacífico.
"Estamos interessados em uma saída para o Pacífico", disse Bolsonaro na reunião. Tal projeto depende exclusivamente de Brasil e Peru, e de nenhum outro país. Até agora, o Peru havia demonstrado pouco interesse em tal projeto. O governo brasileiro, por outro lado, já lançou uma licitação para encontrar empresas para construir a estrada.
Süddeutsche Zeitung – Desmatamento da Floresta Amazônica atinge níveis recordes (03/02)
Cerca de 360 quilômetros quadrados de floresta tropical na região amazônica brasileira foram perdidos para o desmatamento apenas em janeiro – o maior número para o mês desde 2015, informou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), citando uma avaliação preliminar.
O Inpe avalia imagens de satélite e, por meio de um levantamento rápido, examina as mudanças na floresta em tempo real. Os números do Inpe são um indicativo de como a taxa oficial de desmatamento pode evoluir em um ano.
Na conferência climática da ONU COP26, o governo brasileiro anunciou que acabaria com o desmatamento ilegal na Floresta Amazônica até 2028. Especialistas temem que os dados mais recentes possam apontar para um grande risco de 2022 ser mais um ano devastador para a Amazônia.
Segundo o Inpe, a área desmatada na região foi de 13.235 quilômetros quadrados entre agosto de 2020 e julho de 2021 – um aumento de 22% em relação ao período entre agosto de 2019 e julho de 2020. A área desmatada foi a maior desde 2008.
O ano de 2019 foi o primeiro do direitista Jair Bolsonaro como presidente brasileiro. Ele foi criticado pelos incêndios devastadores na região amazônica, e ambientalistas o acusam de tolerar as queimadas para abrir novas áreas para a agricultura. Ao mesmo tempo, as autoridades ambientais e de controle foram enfraquecidas.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – "Por que o café custará em breve significativamente mais" (07/02)
Uma xícara de café faz parte do dia a dia da maioria das pessoas. Os alemães bebem em média 168 litros de café por ano, e o consumo está em ascensão. Mas este prazer agora está ficando significativamente mais caro.
A líder de mercado Tchibo, que anunciou que subiria os preços a partir de 21 de fevereiro, deu o impulso para a nova rodada de aumentos de preços. Dependendo do tipo e do país de origem, meio quilo de café deve ficar entre 50 centavos e 1,30 euro mais caro. Meio quilo da variedade "Feine Milde", que segundo a Tchibo é o café de filtro mais popular na Alemanha, custará então 6,99 euros.
O preço do café está, portanto, muito acima da alta inflação. Até agora, meio quilo de "Feine Milde" custava 5,69 euros. Até meados de junho, o preço era de apenas 4,99 euros. O que é cobrado nas redes de supermercados por outras marcas de café, por um lado, depende do poder de barganha de gigantes da indústria, como Jacobs, Nestlé e Dallmayr – e, por outro, depende também das grandes cadeias de supermercados, como Edeka, Rewe, Lidl e Aldi.
Como motivo do aumento de preços, especialistas em commodities apontam uma safra decepcionante no Brasil, o mais importante país produtor e exportador. Mesmo assim, não há um alívio à vista: o Brasil experimentou em 2021 sua pior seca em 90 anos, seguida da pior geada em décadas, que também levou à derrubada de cafezais.
Há também temores de que o fenômeno climático La Niña afete a próxima safra. Os estados do Sul do país vêm lutando contra o calor extremo e a seca desde dezembro, enquanto outras regiões registram chuvas excessivas. No entanto, também existem desenvolvimentos opostos, conforme relatado pelo Commerzbank: Vietnã e Indonésia, por exemplo, exportaram recentemente, respectivamente, 18% e 17% a mais de café, mas não a variedade arábica, mas a robusta.
fc/lf (ots)