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O Brasil na imprensa alemã (05/09)

5 de setembro de 2018

Jornais da Alemanha deram grande destaque a incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro, lamentando a perda de material histórico. Visita do social-democrata Martin Schulz a Lula também foi tema.

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Incêndio no Museu Nacional
"Um pedaço do Brasil está morto", escreveu jornal alemão após incêndio no Museu NacionalFoto: Reuters/R. Moraes

Süddeutsche Zeitung – Acabou tudo, 04/09

Um pedaço do Brasil está morto. Dois séculos de história, herança cultural e memória desse país, tudo queimado em poucas horas. As imagens divulgadas em todos os canais de televisão na manhã de segunda-feira (04/09) não deixaram dúvidas: a partir de agora, só se pode falar no antigo Museu Nacional. Do edifício no parque municipal Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, não longe do zoológico e do Estádio do Maracanã, só restam as ruínas. É um símbolo da situação da cidade e uma perda que vai muito além do Rio e do Brasil.

Para os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil custeou o futurista Museu do Amanhã na revitalizada região portuária do Rio. Mas já faz um tempo considerável que quase ninguém cuida dos museus do ontem no Brasil. O estado do Rio de Janeiro vive uma falência crônica, e o governo local declarou estado de emergência financeira.

Economiza-se sobretudo na educação, no sistema público de saúde e no fomento à cultura. Nos últimos três anos, o Museu Nacional recebeu apenas 60% do orçamento previsto para a manutenção do prédio. Várias das salas de exposição já estavam fechadas ao público por se encontrarem num estado lamentável.

Agora, tudo isso está perdido para sempre, entre outras razões por não haver água para apagar o incêndio. Algo em que até os cariocas, que têm experiência com catástrofes, mal conseguem acreditar. O maior jornal do Rio, O Globo, anunciou "o suicídio de um país". E o historiador Washington Fajardo formulou um desejo piedoso num obituário dedicado ao museu: "Espero que as futuras gerações nos perdoem por isso."

Berliner Zeitung – Inferno para a alma brasileira, 04/09

Tudo indica que as chamas dominaram os três patamares do edifício principal – no mínimo – em poucos segundos. É provável que alguns dos mais valiosos e históricos interiores clássicos da América do Sul tenham sido destruídos – a construção tinha um refino artístico capaz de competir com decoração de interiores da mesma época em Londres, Paris, São Petersburgo ou Berlim.

O incêndio é mais um golpe contra a autoestima de uma nação que, há poucos anos, ainda era percebida como uma potência mundial emergente. Especialmente nos anos da autoestima transbordante, porém, o Museu Nacional – que, ao menos teoricamente, poderia ter sido uma das maiores instituições mundiais de pesquisa e de educação de massas – sofreu cortes.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Uma mão lava a outra, 31/08

Nos dias atuais, o ex-presidente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) Martin Schulz não se restringe a atuar na política alemã ou mesmo na europeia, na qual ele trabalhou durante anos. Na quinta-feira (30/08), Schulz visitou o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para expressar a solidariedade dos social-democratas alemães e dos socialistas europeus. No início do ano, Lula foi condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e, desde abril, está preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Depois da visita, Schulz disse que encontrou um homem muito corajoso e combativo. Afirmou que não é seu papel julgar as nuances jurídicas do Brasil. Mas que as condições do processo contra Lula levantam dúvida sobre esse processo. E que nenhum poder do mundo poderia impedi-lo de acreditar num homem que ele conhece há muitos anos e em quem ele confia.

O PT desenvolveu uma narrativa que retrata o ex-presidente como vítima inocente. Segundo essa narrativa, sua condenação não tem base e é meramente política. Uma vez que esse retrato ainda encontra ressonância apenas em suas fileiras internas, o PT aposta na pressão de fora.

Repetidamente, o partido convidou veículos da imprensa internacional escolhidos a dedo para entrevistar Lula e Dilma Rousseff, apresentar a versão deles da situação e conseguir ser ouvido no exterior. Entre essas iniciativas, também está um documentário que reconstrói o o processo de impeachment de Dilma a partir da perspectiva do PT.

Após a visita a Lula, Schulz destacou a "importância mundial" das eleições deste ano no Brasil. Segundo ele, sob Lula, o país ascendeu à posição de um representante importante de um mundo multinacional e da luta pela Justiça e pelos direitos humanos. Agora, Schulz teme a ameaça de uma guinada à direita e à exclusão. De fato, o segundo colocado nas pesquisas [antes da rejeição da candidatura de Lula pelo TSE, em 1º/09], é o deputado extremista de direita Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, que glorifica a ditadura militar e é conhecido por declarações homofóbicas, racistas e misóginas, é chamado de "Trump brasileiro" por causa de seu discurso contra o establishment político. Num segundo turno contra qualquer adversário, porém, ele teria muita dificuldade de vencer – mesmo que esse candidato não se chame Lula.

RK/ots

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