O Brasil na imprensa alemã (03/08)
3 de agosto de 2022Die Welt – China expande influência na América do Sul (28/07)
O pequeno Uruguai, com seus meros 3,5 milhões de habitantes, é tudo menos um gigante econômico. No entanto, nos últimos dias, a nação entre o Brasil e a Argentina se viu no centro de uma luta entre potências mundiais por participação de mercado e livre-comércio.
E mais uma vez, a China parece ter vantagem. Surpreendentemente, o presidente conservador do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, se manifestou a favor das negociações com Pequim sobre um acordo de livre-comércio antes da cúpula do Mercosul. [...]
Com o acordo comercial previsto com o Uruguai, Pequim daria o primeiro passo para entrar no mercado interno dos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com seus 260 milhões de habitantes, aumentando a pressão sobre a Europa, que mais uma vez parece estar ficando para trás.
O acordo comercial União Europeia-Mercosul está negociado e pronto para ser assinado há três anos. Mas, por causa do desmatamento na Amazônia durante o governo do presidente populista de direita Jair Bolsonaro, o governo da Alemanha, entre outros, se recusa a assinar o acordo. Bruxelas também tem grandes reservas.
Na América do Sul, a Alemanha e a UE estão fazendo apostas e esperando que as eleições no Brasil, em outubro, terminem a seu favor. Isso significa a vitória do populista de esquerda Lula da Silva, que governou de 2003 a 2010 o maior e mais poderoso país do Mercosul.
Em seu primeiro mandato, quase o dobro da Amazônia foi desmatada do que hoje sob Bolsonaro. E Lula quebrou promessas ambientais feitas durante a campanha eleitoral, como impedir o uso de sementes geneticamente modificadas na agroindústria. Em seu segundo mandato, no entanto, Lula conseguiu reduzir o desmatamento para aproximadamente o nível atual. Mas a Europa espera conseguir aprovar o acordo de livre-comércio com Lula, que é muito mais popular entre as ONGs, porque se espera menos resistência com ele no poder do que com Bolsonaro, a figura de ódio do movimento de proteção climática. Desta vez, a campanha de Lula promete uma estratégia de desmatamento zero no Brasil.
No entanto, se Bolsonaro vencer as eleições, indo contra as expectativas e contra as pesquisas eleitorais atuais, o jogo de pôquer da Europa teria fracassado. [...]
Se isso ocorrer, o ministro alemão da Economia e Proteção Climática, Robert Habeck, teria que negociar com Bolsonaro o tratado UE-Mercosul. Ou esperar mais quatro anos e deixar o caminho livre para a China.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Felizmente separados (02/08)
Arthur e Bernardo são gêmeos que em breve completarão 4 anos. Até recentemente, os dois irmãos eram inseparáveis. Os meninos do estado de Roraima, no norte do Brasil, nasceram unidos pelo crânio e compartilhavam parte do cérebro e a veia principal que leva o sangue de volta ao coração – um caso muito raro e muito grave.
Após nove cirurgias, com três a quatro meses de intervalo entre elas, os médicos brasileiros, liderados pelo neurocirurgião Gabriel Mufarrej, conseguiram separar Arthur e Bernardo.
Para poder realizar as intervenções, os médicos fizeram um modelo tridimensional do cérebro e dos vasos sanguíneos. À medida que os procedimentos se tornaram mais complexos, a equipe contou com aconselhamentos do médico britânico Owase Jeelani, considerado o cirurgião mais experiente do mundo em separação de crânios.
A última operação durou 23 horas. No final, Arthur e Bernardo saíram da sala de cirurgia separados pela primeira vez. Uma foto na cama do hospital mostra os dois de mãos dadas.
Os pais estão radiantes. Seu sonho é que os filhos sejam saudáveis e um dia tenham uma vida como as outras crianças, disse o pai.
As cirurgias do Instituto Estadual do Cérebro, no Rio de Janeiro, foram financiadas pela saúde pública. O hospital deve ser incluído na Gemini Untwined Foundation, criada por Owase Jeelani. A equipe de Garbriel Mufarrej será uma referência em futuras operações de separação de gêmeos frontais na América Latina.
Bild – Família brasileira mantida presa por 17 anos (30/07)
Desumano. Horrível. Bárbaro. No Brasil, um homem manteve a esposa e os dois filhos em cárcere privado por 17 anos. A polícia prendeu Luiz Antonio Santos Silva após denúncia anônima no bairro pobre de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, e libertou a família. Segundo a polícia, os dois filhos estavam "amarrados, sujos e desnutridos".
Os filhos e a mãe foram levados para um hospital, desidratados e famintos. Segundo relatos da mídia, os filhos têm 19 e 22 anos, mas parecem crianças ou adolescentes.
A mãe disse às autoridades, segundo o portal de notícias G1, que ela e seus filhos às vezes passavam três dias sem comer e eram constantemente submetidos a violência física e psicológica.
O homem, com quem ela convivia há 23 anos, não deixava a mulher trabalhar, e os filhos não foram à escola. "Você tem que ficar comigo até o fim, você só vai sair daqui morta", teria dito ele à esposa.
Vizinhos disseram à mídia que o homem foi apelidado de "DJ" porque sempre tocava música alta – presumivelmente para encobrir pedidos de ajuda de sua família.
Segundo o G1, Luiz Antonio Santos Silva responderá por sequestro, tortura e maus-tratos, entre outros.
Der Spiegel – Sanguessugas de laboratório genético (30/07)
Uma empresa de biotecnologia do Brasil vende mosquitos geneticamente modificados que podem ser usados para combater doenças como dengue e zika. Quão bem-sucedida é a tecnologia – e quais perigos estão associados a ela?
Eles devem eclodir da pequena caixa de plástico que Meredith Fensom está segurando em suas mãos: mosquitos machos da febre amarela da linha de produtos OX5034. Entregues como ovos, eles são trazidos à vida na caixa com água. Não são insetos comuns: sua prole feminina está fadada a morrer.
Fensom está sob uma palmeira no Sunset Park, em uma ilha nas Florida Keys. Ela é diretora de assuntos globais da empresa de biotecnologia anglo-americana Oxitec. Fensom aponta para duas aberturas na borda da caixa e diz: "É para lá que eles voam". Sua empresa completou seu primeiro teste de campo com mosquitos na Flórida (EUA).
A Oxitec quer trazer os insetos de laboratório também aqui para o mercado [alemão]. Eles devem dizimar o Aedes aegypti, o perigoso mosquito da febre amarela. As fêmeas desses sugadores de sangue podem transmitir aos humanos os agentes causadores de doenças como dengue, zika e febre amarela. [...]
No Brasil, a empresa já está vendendo seus mosquitos para autoridades locais e particulares. Encomendada online, a caixa chega pelo correio e pode ser fixada em um poste, no jardim ou na varanda. [...]
Mas como combater a transmissão dos vírus zika e dengue com mosquitos? Nathan Rose, biólogo molecular e chefe de aprovação de projetos da Oxitec, explica o processo. Quando os machos do mosquito geneticamente modificados acasalam com as fêmeas selvagens, eles transmitem dois genes inseridos artificialmente. Um gene permite que os mosquitos manipulados fluoresçam – "com esse marcador podemos distinguir os mosquitos selvagens dos nossos", diz Rose. O segundo gene crucial garante que todos os descendentes femininos da espécie morram. [...] Uma população misturada com mosquitos da Oxitec deveria se dizimar, por assim dizer. [...]
Para críticos, as experiências do Brasil não são suficientes. A preocupação deles é que, mais cedo ou mais tarde, as fêmeas geneticamente modificadas possam sobreviver e criar um novo mosquito híbrido ainda mais difícil de controlar.
le/ek (ots)