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O bode mais famoso da Alemanha

9 de julho de 2019

Primeiro mascote chegou ao Colônia em 1950, e atual bode é o oitavo com a responsabilidade de dar sorte ao clube alemão. Hennes VIII assumiu a função há 11 anos e ajudou o time a se recuperar do rebaixamento.

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Hennes VIII disputou uma eleição democrática com mais três candidatos
Hennes VIII disputou uma eleição democrática com mais três candidatosFoto: picture alliance/Digitalfoto Matthias

Conheci Hennes VIII, o bode que é mascote do Colônia, em fevereiro de 2011. Foi antes da partida que o time da casa disputou contra o Bayern de Munique pelo campeonato alemão. À beira do campo, meu colega Rogério Vaughan tentou até fazer um agrado no animal, mas por pouco não levou uma chifrada. De postura altiva, o bode parecia cônscio da sua responsabilidade de dar sorte ao clube e não queria ser importunado por estranhos. Ficou o tempo todo junto à sua cuidadora numa área demarcada próxima ao gramado e atento ao desenrolar da partida.  

No intervalo, fotógrafos se aproximavam para captar imagens de Hennes. Ele dava a impressão de fazer pose à medida que fotos eram tiradas. O primeiro tempo terminou com a vitória parcial dos bávaros por 2 a 0.

Veio a segunda etapa e, com ela, uma virada inesperada. Em 18 minutos, o Colônia marcou três gols, e a vitória sobre o Bayern deu início à arrancada para se segurar na Bundesliga. Terminou a temporada na 10ª posição. Muitos torcedores atribuem à presença de Hennes VIII vitórias importantes como essa.

Em entrevista dada ao site Doentes por Futebol, o zagueiro Pedro Geromel, que defendeu o Colônia de 2008 a 2013 e atualmente joga no Grêmio, lembrou bem dessa história: "Quando cheguei ao Colônia e soube que o mascote era um bode, fiquei surpreso. Mas como todo clube tem, não dei muita importância, até que no meu primeiro jogo no estádio, eis que ele entra em campo junto com a gente. Aí sim fiquei surpreso! E o melhor é que ele fica ali do lado do campo enquanto jogamos. É muito legal, e a torcida tem uma identificação enorme com o Hennes VIII."

Tudo começou no período pós-guerra. O primeiro bode-mascote chegou ao clube em 1950. Sua mãe, uma cabra assustada e faminta, foi achada à beira da estrada e acolhida por um circo itinerante cuja sede era em Colônia. Pouco depois, em 1949, ela deu à luz um filhote.

Anthony Ujah, atacante do Colônia, comemora gol em vitória sobre o Frankfurt por 4 a 2 pegando nos chifres de Hannes VIII em 2015
Anthony Ujah, atacante do Colônia, comemora gol em vitória sobre o Frankfurt por 4 a 2 pegando nos chifres de Hannes VIII, em 2015Foto: picture-alliance/dpa/T. Schmülgen

Carola Williams, a diretora do circo, era torcedora do Colônia e achava que o clube precisava de um mascote para trazer sorte. Ela se lembrou do filhote da cabra e, no dia 13 de fevereiro de 1950, exatamente dois anos depois da fundação da agremiação, presenteou a diretoria com o animal.

De imediato, o pequeno bode foi batizado com o nome de Hennes I em homenagem ao então técnico da equipe Hennes Weisweiler. Durante seu reinado, ele acompanhou o time em quase todos os jogos, inclusive naqueles disputados fora de casa, quando se acomodava no ônibus junto com jogadores e comissão técnica. Aspectos logísticos e regulamentos da Federação Alemã de Futebol acabaram por restringir a presença de Hennes I apenas a partidas realizadas no próprio estádio do clube.   

De todo modo, o bode dado de presente por Carola Williams deu sorte ao clube. Sob sua regência, o Colônia foi campeão alemão em 1962 e 1964. Foi o primeiro campeão da Bundesliga, fundada em 1963.

Em todos esses anos, o tradicional clube do oeste da Alemanha teve seus altos e baixos, acompanhado de vários Hennes que desempenharam seu papel de mascotes com afinco.

Durante o curto reinado de Hennes II (1966 a 1970), o Colônia conquistou seu primeiro título da Copa da Alemanha. O bode-mascote mais bem-sucedido foi o de número 4, com o título da Bundesliga em 1978, além de mais duas conquistas do DFB Pokal, em 1977 e 1978.

O bode de pior desempenho como amuleto de sorte foi o antecessor do atual ocupante do cargo. Como Hennes VII, ele fez jus a um antigo provérbio alemão: "Quando não se tem sorte, ainda se é perseguido pelo azar". Durante sua "gestão", de 1996 a 2008, o Colônia foi rebaixado quatro vezes. Menos mal que ele tenha se mantido calmo e o time tenha conseguido voltar à primeira divisão também em quatro oportunidades. 

Hennes VIII, o atual ocupante do cargo de mascote oficial, disputou uma eleição democrática com mais três candidatos. Era até então conhecido como "Bode sem nome". Mais de 11 mil sócios do clube participaram do pleito e o elegeram com ampla maioria de 70% dos votos, uma vitória estrondosa. Em 24 de julho de 2008, foi apresentado oficialmente e entronizado no cargo de mascote oficial do Colônia. 

Desde então cumpre relativamente bem seu papel. Nesses 11 anos, o Colônia foi rebaixado apenas duas vezes. Da última vez, em 2018, acabou se dando bem na segunda divisão ao conquistar o título e voltar imediatamente ao futebol de elite.

Voltou graças à sua competência futebolística e, é claro, à sorte providencialmente fornecida por Hennes VIII, o bode mais famoso da Alemanha.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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