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HistóriaIsrael

A morte do líder de Israel que quis selar paz com palestinos

Peter PhilippPublicado 4 de novembro de 2015Última atualização 4 de novembro de 2021

Em 4 de novembro de 1995, logo após fazer um discurso defendendo a paz, o então premiê israelense Yitzhak Rabin foi morto a tiros por um radical nacionalista.

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Israel Premierminister Yitzhak Rabin
Rabin em discurso pouco antes de ser morto em 4 de novembro de 1995Foto: picture-alliance/AP Photo/N. Harnik

4 de novembro de 1995: era sábado à noite e cerca de 100 mil manifestantes ouviam discursos políticos e cantavam pela paz com os palestinos. Dois anos antes, Israel assinara com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) o acordo de Oslo, que previa, em primeiro lugar, o reconhecimento mútuo. Tinha como base o conceito de terra por paz: durante a fase intermediária de negociações, Israel entregaria à administração palestina territórios da faixa de Gaza e da Cisjordânia. "O caminho da paz é preferível ao caminho da guerra", disse o então primeiro-ministro Yitzhak Rabin no evento.

A execução do acordo, porém, era freada pela oposição nacionalista, liderada por Benjamin Netanyahu, então líder do Likud. Rabin, que havia assinado o acordo, era acusado pelos adversários de trair a pátria. Era considerado taciturno, reservado e arrogante, mas o reconhecimento mundial obtido por seu papel no processo de paz parecia liberar suas emoções.

Yitzhak Rabin foi um comandante que participou da Guerra de Independência de Israel e mais tarde se tornou chefe do Estado-Maior mas, como primeiro-ministro, era a favor de que o país se retirasse da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, para manter seu caráter judeu e democrático. Em 1994, Rabin, o israelense Shimon Peres e o presidente da OLP, Yasser Arafat, receberam o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços pela paz na região.

Rabin estava convicto de haver dado o passo certo em Oslo e satisfeito com o apoio recebido da população. Naquele 5 de novembro, a caminho do carro oficial, que o esperava atrás do palco, foi atingido por dois tiros. Foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu. O assassino, Igal Amir, um estudante israelense de Direito de 25 anos e militante de extrema-direita, foi preso no local do crime e, mais tarde, condenado à prisão perpétua.

Afirmação de compromisso pela paz

Apesar de estar sofrendo ameaças, Rabin recusara-se a usar colete à prova de bala. O primeiro a manifestar suas condolências foi o líder palestino Yasser Arafat, num gesto que na "intifada" de 1987 ainda era impensável.

Os dois arqui-inimigos haviam partilhado o Prêmio Nobel da Paz de 1994 pelo aperto de mão histórico, ao selarem o acordo de Oslo, em Washington. A morte de Rabin só foi festejada por alguns grupos radicais no Líbano. O ex-presidente americano Bill Clinton lamentou a morte, enfatizando ter perdido "um parceiro e amigo".

Rabin aperta a mão de Arafat, com Clinton no meio dos dois
Rabin, Clinton e Arafat selaram o primeiro Acordo de Oslo em 1993Foto: AP

Shimon Peres assumiu o governo israelense a 5 de novembro de 1995, reafirmando o compromisso com a paz. Eleito em 1996, seu sucessor Benjamin Netanyahu fez a mesma promessa, mas congelou o processo de paz em março de 1997, quando aprovou a construção de novos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental.

Na eleição seguinte, foi eleito o líder trabalhista Ehud Barak, que no princípio comprometeu-se a continuar a política de Rabin. Mas o terrorismo de extremistas judeus e muçulmanos seguiu dinamitando o diálogo.

Rabin teve a contraditória biografia de um grande general que virou arquiteto da paz. "A assinatura da declaração de princípios israelense-palestino não é fácil para mim, como um soldado de Israel", disse em setembro de 1994 nos jardins da Casa Branca, ao lado de Yasser Arafat, da Autoridade Palestina.

Herói na Guerra dos Seis Dias

Rabin virou um "mártir da paz", mas dos 13 aos 66 anos dedicara-se à guerra. Nascido a 1º de março de 1922 em Jerusalém, lutou contra o Eixo na Segunda Guerra Mundial, contra os ingleses em 1946 e contra os árabes em 1948.

Em 1964, tornou-se chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel. Foi o grande herói nacional na Guerra dos Seis Dias, em 1967, na vitória militar contra Egito, Jordânia e Síria, em que Israel anexou os territórios da Cisjordânia e Gaza.

De 1968 a 1973, Rabin foi embaixador em Washington. De volta a Israel, começou a carreira política no Partido Trabalhista. Sucedeu a primeira-ministra Golda Meir, mas foi obrigado a renunciar em 1977, porque mantivera uma conta bancária nos EUA depois do retorno a Israel.

Em 1984, foi nomeado ministro da Defesa num governo de coalizão com o Likud. Na Intifada, a insurreição palestina nos territórios ocupados, mandou quebrar os ossos das mãos de palestinos condenados por atirarem pedras contra soldados israelenses - política que lhe rendeu veementes críticas internacionais.

De volta ao poder em 1992, apoiou o projeto de paz do ministro do Exterior, Shimon Peres, por razões pragmáticas. Israel não tinha mais condições políticas de manter 1,7 milhão de palestinos como subcidadãos em territórios sob seu controle. Uma vez engajado no processo de pacificação, Rabin se mostrou tão obstinado pela sua conclusão quanto na busca de vitórias militares para seu país.