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"Nós queremos uma outra globalização"

Marcio Weichert28 de outubro de 2002

Maior central sindical da Alemanha não acha que Lula vá interromper processo de integração do Brasil no mundo. Leis trabalhistas brasileiras "não são ruins", afirma Manfred Brinkmann, da DGB, em entrevista ao DW-WORLD.

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O Brasil elegeu domingo o primeiro governo de esquerda de sua história, com um ex-sindicalista como presidente. Como a DGB vê o resultado da eleição?

Claro que estamos felizes pelo Brasil ser governado por um ex-sindicalista nos próximos anos. Conhecemos bem Luís Inácio Lula da Silva. Há muitos anos temos contato com a CUT, de cuja fundação Lula participou. Esperamos que ele, como presidente, consiga proporcionar mais justiça para a sociedade brasileira e garanta os direitos dos trabalhadores.

Um ex-sindicalista na presidência pode ser um perigo para o empresariado e a economia?

Vejamos em que cenário o novo presidente irá agir. O Brasil tem grandes dívidas e está integrado ao mercado mundial. São condições que terão de ser levadas em conta. A questão é que o Brasil é um país muito rico, mas a riqueza é distribuída de forma injusta. Temos a esperança de que o presidente petista vá se esforçar por justiça social.

O PT questiona a globalização. Que papel o novo governo brasileiro pode desempenhar na política internacional?

Eu não acredito que o PT questione a globalização. Ela é uma realidade. O PT, nós e nossos parceiros sindicais queremos uma outra globalização. Não queremos uma globalização impulsionada apenas pelos interesses das grandes empresas, mas uma globalização que também sirva às pessoas, que aplique e garanta um padrão social mínimo em todo o mundo. Sob a presidência de Lula, vejo crescer as chances disto no Brasil.

A DGB teria algum conselho a dar a Lula, a partir da experiência alemã?

Aqui na Alemanha temos boa experiência com a co-gestão, ou seja, com a participação dos funcionários nas decisões das empresas. Estamos convencidos que a economia também pode funcionar bem em interesse dos trabalhadores.

O atual governo tentou desmontar os direitos trabalhistas, conforme a orientação de desregulamentação do neoliberalismo. O que se pode esperar do governo Lula nesta área?

Espero que o governo do PT mude o rumo, por suas ligações com os sindicatos, especialmente com a CUT, que claro tentará influenciar o governo e isto se dará no sentido de que os direitos trabalhistas sejam mais respeitados no futuro. Para isto basta se manter a atual legislação brasileira, que não é ruim.

Adversários de Lula advertiram no fim da campanha do risco de um governo petista ser marcado por greves e ocupações de terra. O Sr. também acredita que a CUT e outras centrais sindicais vão por pressão sob Lula?

Isto é de se esperar. Afinal há no país mais de uma central sindical. Além da CUT, próxima ao futuro governo, há outras, como a Força Sindical, que possivelmente se fortalecerá na oposição. Por outro lado, é de se esperar uma política de compensação social, como a boa experiência do PT no Rio Grande do Sul, onde o governo e os sindicatos e movimentos sociais atuaram em cooperação.

A Força Sindical pode vir a ser um problema?

Acho que sim, pois ela concorre com a CUT e, se esta apoiar o governo, a Força Sindical deverá ficar feliz por ficar na oposição.

O Sr. acredita que a CUT será mais um problema do que um aliado?

A experiência dos estados onde o PT já é ou foi governo mostra que muitos líderes experientes da CUT irão se transferir para o aparato do Estado e com isto a central sindical sofrerá no primeiro momento um enfraquecimento, até que novas pessoas se formem e possam assumir o espaço deixado por aqueles que deixaram os sindicatos.

Então Lula pode esperar tempos tranqüilos por parte da CUT?

Mesmo que o governo queira ter a CUT como aliada, acho que a central tem maturidade suficiente para manter-se independente e defender os interesses dos trabalhadores.