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Novo ministro da Fazenda tem missão de restaurar credibilidade da economia

Fernando Caulyt27 de novembro de 2014

Workaholic, com fama de durão e vasta experiência na área fiscal, Joaquim Levy é escolha acertada, dizem analistas. Mas há dúvidas se Dilma dará à nova equipe econômica espaço para tomar medidas consideradas drásticas.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/G. Herbert

A presidente Dilma Rousseff apresentou nesta quinta-feira (27/11) sua nova equipe econômica, com Joaquim Levy como ministro da Fazenda. O ex-diretor do Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro no primeiro mandato de Lula será o homem forte do governo federal. Ele vai substituir Guido Mantega, o qual Dilma já havia indicado durante a campanha eleitoral que não manteria no cargo.

Especialistas ouvidos pela DW Brasil dizem que a presidente acertou ao escolher Levy para a pasta e que ele deverá dar uma guinada de 180 graus na política econômica do país. Porém, ainda há dúvidas se Dilma dará à nova equipe econômica – incluindo aí o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa; e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que segue no cargo – espaço para atuar e tomar as medidas necessárias.

Os principais desafios de Levy incluem restaurar a credibilidade da economia para receber investimentos estrangeiros; não fazer com que o Brasil perca o grau de investimento de agências de classificação de risco; e investir em obras de infraestrutura para estimular a economia, apesar do escândalo da Petrobras. Além disso, ele deve tentar segurar o crédito disponibilizado por bancos públicos, já que o orçamento nacional está apertado.

Para alcançar esses objetivos, Levy deverá colocar em prática uma política fiscal mais dura e ortodoxa que a de Mantega. Entre as medidas que podem ser anunciadas até o início de 2015 estão o corte dos gastos públicos, a restauração da meta de superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública), compromisso com a meta de inflação; e o fim da chamada contabilidade criativa (uso de truques contábeis para despistar problemas nas contas do governo).

"Levy é muito qualificado e tem farta experiência na área pública. Não há ninguém que seja mais qualificado que ele para embutir confiança nas contas brasileiras e na política fazendária do Brasil", diz Antônio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da FGV. "Mas, dos três grandes problemas do governo, Levy resolve somente um, que é na área das contas públicas."

Porto Gonçalves, que foi professor de Levy durante a pós-graduação, diz, porém, que ainda há questões que estão fora da alçada do novo ministro da Fazenda: a intervenção do governo na área energética e a corrupção em grande escala. "A escolha por ele está na direção certa, mas não é suficiente. O investidor não vai querer colocar dinheiro no país se há potencial de crise energética e política, mesmo que as contas estejam arrumadas", opina.

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Durante a campanha eleitoral, Dilma indicou que não manteria Guido Mantega (em segundo plano) como ministro da FazendaFoto: Reuters

Agrado ao mercado

Inicialmente, Dilma havia convidado o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para ser o novo titular da pasta. Trabuco não aceitou o convite por ter compromissos com o banco. A escolha de Levy – independente, workaholic e com fama de durão, e com vasta experiência na área fiscal – acalma o mercado financeiro, já que o ponto negativo dos primeiros quatro anos de Dilma foi a política fiscal.

"A escolha por Levy é uma reviravolta de 180 graus, já que ele terá que assumir uma postura de austeridade fiscal", afirma José Matias-Pereira, professor de administração pública da UnB. "Levy já mostrou que tem condições de fazer isso pela experiência que acumulou em sua vida pública e no mercado financeiro. Mas Dilma terá que dar espaço e apoio para ele colocar a economia de volta nos trilhos."

A decisão é acertada do ponto de vista macroeconômico, já que, nos últimos anos, dentro do capitalismo de Estado, aumentaram-se os gastos públicos e gerou-se inflação, avalia José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec/RJ. Para ele, agradar o mercado pode desagradar o cidadão comum, que teve aumento real no salário mínimo e crédito fácil para comprar bens duráveis.

"Se ela fizer uma política fiscal mais para o mercado e conservadora, pode fazer com que o PT perca eleitores em 2018", opina Niemeyer. "Levy representa mais os interesses do mercado e de alguns empresários específicos contra empresários de setores, como o sucroalcooleiro, que estão em crescimento e dependem de empréstimos mais baratos de bancos públicos como o BNDES".

Assim que vazou, na última sexta-feira, a informação de que Levy se tornaria ministro da Fazenda, uma ala do PT já começou a atingi-lo com "fogo amigo". Alguns membros do partido se queixam de que Levy não tem filiação partidária.

Além disso, desagrada o fato dele ser liberal e ligado ao PSDB e a Armínio Fraga, que seria o ministro da Fazenda caso Aécio Neves fosse eleito presidente. O novo titular da pasta também foi secretário da Fazenda do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2010, e já passou pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE).