Wir sind Helden
1 de junho de 2007Para a maioria das bandas, o segundo álbum é a mais difícil das provas: quando o disco de estréia rendeu um certo sucesso e os protofãs aguardam a confirmação de que vale a pena ouvir de novo. Para o Wir sind Helden (Nós somos heróis), essa incerteza se recusa a chegar, mesmo que alguns críticos insistam em vê-la no recém-lançado terceiro disco Soundso.
A banda explodiu em fevereiro de 2003 com o single "Guten Tag", mas de tal forma que uma posição razoável na parada serviu de ingresso aos principais jornais e rendeu até um convite para o programa de auditório de maior audiência na teve alemã. O segundo single "Müssen nur wollen" repetiu a dose e abriu caminho para o sucesso de vendas do álbum Die Reklamation, que saiu no fim de 2003.
Depois do meio milhão de exemplares vendidos e de uma turnê esgotada, o segundo álbum Von hier an blind veio sem frescuras ou receios e, em poucas semanas, alcançou o status de platina. Com um hit após o outro, o auto-definido "synthie-punk-pop" do grupo –"28 % synthie, 34 % punk e 38 % pop", como lembra o quase-catálogo musical online alemão Laut.de – conquistou ouvidos na Europa e no mundo. A banda gravou músicas em francês, inglês e até em japonês.
Nada parecia abalar o sucesso do quarteto berlinense, a não ser um bebê. Judith Holofernes (vocal) e seus três homens – Jean-Michel Tourette (guitarra e teclado), Mark Tavassol (baixo) e Pola Roy (bateria, marido de Judith e agora pai do pequeno Friedrich) – aproveitaram até que a gravidez da vocalista forçou a banda a uma pausa.
Finalmente um motivo para entrar em pânico
Mas, por mais que o Wir sind Helden tenha surgido junto a uma série de outras bandas que repentinamente e por acaso descobriram o alemão como língua pop – Juli, Silbermond e cia – seria precoce e injusto incluir a banda nesse saco sem fundo. Afinal, eles guardam algo que os distingue e são uma prova de que sucesso não é necessariamente sinal de artificialidade e apatia política.
O jornal Süddeutsche Zeitung salienta exatamente a maneira sutil como a banda dilui a fronteira entre o privado e o político: "Eles tratam explicitamente de temas da atualidade, que outras bandas da mesma geração não comentariam nem em seu tempo livre".
De fato, a banda fala da coerciva lógica interna do trabalho ("An die Arbeit"), do uso do medo como instrumento político ("Endlich ein Grund zur Panik"), e de como a mais distante das guerras pode afetar o dia-a-dia ("Der Krieg kommt schneller zurück, als du denkst"). Mas, ao mesmo tempo, há letras íntimas sobre a vontade de sumir, a dificuldade de encontrar as palavras certas e a inutilidade de tentar entender o mundo.
De certa forma, tudo isso está presente em Soundso. E, como reconheceu o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, a banda logo de cara definiu seu propósito num comunicado divulgado em seu site: "simpático, porém decidido" deveria ser o novo disco. Para o FAZ, a banda conseguiu, com sua "perspectiva pop-sociológica", agregar uma legião de fãs jovens, simpáticos e "suavemente críticos, que se interessam ao mesmo tempo pela Attac e por saias de segunda-mão".
Cabelo feito e armas em punho
Por trás da fachada musical modesta – afinal, musicalmente, há pouco ou quase nada de realmente inovador –, se esconde uma vontade crítica e um desejo de expor o absurdo em que estamos submersos. Esse envolvimento político, aliás, vem em boa hora para os protestos contra o encontro de cúpula do G8 em Heiligendamm.
A banda publicou em seu site outro comunicado, no qual reforça seu engajamento e apoio aos protestos contra a reunião de cúpula. "Se poucos poderosos impõem suas regras aos mais fracos da comunidade internacional, isso é uma forma de violência, e não apenas metaforicamente. É uma prática que causa grande sofrimento e leva a uma violência muito real."
A banda salienta que "manifestantes que lutam contra a pobreza, pela paz, a justiça social e a proteção do meio ambiente não podem ser desacreditados ou enfraquecidos pelo nosso medo do terrorismo. É muito fácil abusar de nossa disposição para o pânico para garantir um encontro 'limpo' aos líderes do G8. Para nós, é importante que os protestos continuem fazendo sujeira e barulho. Os protestos têm que se fazer ouvir."