Novas imagens mostram dois mísseis atingindo avião no Irã
15 de janeiro de 2020Um novo vídeo divulgado pelo jornal americano The New York Times nesta terça-feira (14/01) mostra o momento em que dois mísseis iranianos são lançados e supostamente atingem o avião ucraniano que foi abatido próximo a Teerã na semana passada, matando todas as 176 pessoas a bordo.
No vídeo, o avião é atingido pelos dois projéteis, lançados com um intervalo de 30 segundos, e se transforma em uma bola de fogo antes de cair. De acordo com a reportagem, as imagens explicam o motivo pelo qual o transponder do Boeing 737-800 – o instrumento que transmite sinais da localização da aeronave – deixou de funcionar.
Segundo o New York Times, o primeiro míssil teria danificado o equipamento antes de a aeronave ser atingida pelo segundo projétil. No vídeo, após sofrer o primeiro impacto, o avião aparenta fazer uma manobra para tentar o retorno ao aeroporto de Teerã, minutos antes de explodir e cair.
O jornal afirma que confirmou a autenticidade das imagens, registradas por uma câmera de segurança localizada em um vilarejo a pouco mais de 6 quilômetros de uma base militar iraniana.
O abate da aeronave da Ukraine International Airlines, em Teerã, que segundo o governo iraniano ocorreu de forma não intencional, desencadeou uma nova onda de protestos pelo país e gerou um dos maiores desafios aos clérigos islâmicos que controlam o país desde a Revolução Islâmica de 1979.
Inicialmente, Teerã havia se recusado a assumir a culpa pelo incidente. Mas, no último sábado, o governo admitiu que o avião foi abatido acidentalmente durante o lançamento de mísseis contra bases dos Estados Unidos no Iraque em retaliação à morte do general iraniano Qassim Soleimani.
O general Amir Ali Hajizadeh, chefe da força aeroespacial da Guarda Revolucionária iraniana, disse que um operador do sistema de defesa antiaéreo confundiu o Boeing 737-800 com um míssil de cruzeiro dos EUA, em um momento em que as defesas aéreas do país estavam em alerta máximo.
Nas manifestações, as autoridades foram acusadas de acobertar o caso e de incompetência por não terem fechado o espaço aéreo durante a noite de confrontos com os americanos. Multidões protestaram contra os líderes religiosos e o sistema teocrático do país, inclusive com pedidos pela renúncia do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Autoridades judiciárias do Irã anunciaram nesta terça-feira a prisão de pessoas suspeitas de envolvimento no abatimento acidental do avião ucraniano.
Ministro admite "mentiras" após incidente
Nesta quarta-feira, o ministro iraniano do Exterior, Mohammad Javad Zarif, admitiu que o povo iraniano foi alvo de mentiras nos dias que se seguiram à derrubada do voo da Ukraine International.
"Nas últimas noites, tivemos pessoas nas ruas de Teerã protestando contra o fato de terem sido enganadas durante alguns dias", disse Zarif durante uma conferência em Nova Déli. Ele, no entanto, exaltou os militares de seu país por "terem a coragem de assumir a responsabilidade desde o início" e culpou a "arrogância e ignorância" dos EUA pelo incidente, acusando os americanos de "fomentarem o caos" no Oriente Médio.
"Os Estados Unidos acusaram Soleimani de ameaçar ataques a embaixadas americanas. Mas agora, sabemos que não houve tais ameaças [...] os americanos querem eliminar as leis internacionais", acusou o ministro.
"Os EUA não gostavam do general Soleimani, apesar de ele ter sido a força mais eficiente contra o Daesh", disse Zarif, utilizando o nome em árabe para o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). "Quem está comemorando o assassinato de Soleimani? O presidente Trump, Pompeo e o Daesh!"
O ministro disse que ele próprio e o presidente iraniano, Hassan Rohani, apenas souberam do ataque não intencional contra o avião na última sexta-feira, dois dias após o abate. A declaração gerou dúvidas sobre o alcance do poder dos líderes civis no regime teocrático.
A Guarda Revolucionária do Irã, que lançou os misseis e sabia desde o início que o avião havia sido atingido, responde exclusivamente ao aiatolá Khamenei.
O líder supremo deverá pela primeira vez em anos presidir pessoalmente as preces desta sexta feira no Irã, em razão da revolta gerada pelo incidente.
RC/afp/ap/dpa
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