Nos acréscimos, Alemanha se salva
23 de junho de 2018A Alemanha voltou a apresentar um futebol apático, mas alcançou uma sobrevida na Copa do Mundo de 2018 com uma vitória no apagar das luzes, por 2 a 1, contra a Suécia, neste sábado (23/06), em Sóchi. Os gols foram marcados pelo sueco Ola Toivonen, no primeiro tempo, e por Marco Reus e Toni Kroos – este aos 49 minutos da segunda etapa.
Pela primeira vez desde 1974, a Alemanha vira um jogo depois de sair perdendo para o intervalo. E ironia do destino: naquela oportunidade, o adversário também era a Suécia. De lá para cá, foram oito jogos atrás no placar ao intervalo em Copas, com nenhuma vitória. Com três pontos no Grupo F, a seleção alemã mantém viva as chances de classificação – e matematicamente só depende de si.
A inesperada derrota na estreia deixou marcas – a Nationalelf começou a partida com quatro alterações. Enquanto Jonas Hector retornou à lateral esquerda, depois de ter se recuperado de uma gripe, Antonio Rüdiger assumiu a vaga de Mats Hummels, que se queixou de um incômodo na coluna cervical.
O treinador Joachim Löw sacou também os medalhões e pilares da conquista do tetracampeonato mundial Sami Khedira e Mesut Özil, que principais alvos das críticas da imprensa esportiva alemã após a derrota para o México. Desde sua estreia na seleção principal alemã, em 2009, Özil tinha sido titular em todas as 26 partidas da Alemanha em Copas ou Eurocopas. Entraram Marcos Reus e Sebastian Rudy, volante reserva no Bayern de Munique.
As alterações visaram melhorar o posicionamento no meio-campo, especificamente porque os dois atletas mais centrais, Toni Kroos e Sebastian Rudy, mantêm suas posições e têm qualidade no passe. Com Ilkay Gündogan, o meio-campo alemão teria um jogador mais incisivo e que busca mais o jogo vertical, mas que deixaria a retaguarda mais exposta – justamente uma das críticas dos zagueiros Hummels e Jérôme Boateng.
Em parte, a estratégia de Löw funcionou. Reus e Müller tiveram mais liberdade, e a Alemanha esteve mais compacta e com mais jogadores na área adversária. As movimentações de Timo Werner, Reus e Draxler deram trabalho à retaguarda sueca. Mas, novamente, a Alemanha demonstrou fragilidades no contra ataque adversário – sorte que a Suécia não tem na velocidade sua força.
Mas quando precisou buscar o jogo, a Alemanha pouco lembrou aquela seleção que encantou no Brasil, em 2014. Kroos muito distante da área e Boateng com a função adicional de armar jogadas. Na Copa do Mundo das retrancas e das bolas paradas, a Alemanha teve dificuldades em ambos os fundamentos.
A vitória não escondeu as deficiências da seleção alemã, mas ajudou a abafar a crise e recuperar a confiança. Além disso, deu fim à maldição do segundo jogo. Em quatro dos últimos cinco grandes torneios, a Alemanha deixou a desejar na segunda partida na fase de grupos.
"Nós tentamos, não desistimos e dissemos para nós mesmos: temos que ficar em cima até o último minuto. Às vezes se é recompensado", disse Thomas Müller.
O jogo
A Alemanha começou com tudo. Logo no segundo minuto, Timo Werner ganhou a bola na linha de fundo e rolou para Draxler, que fuzilou um defensor sueco dentro da pequena área. O domínio foi amplo, com uma Alemanha mais móvel e com mais movimentação, em comparação com a estreia. Werner flutuava constantemente para fora da área, enquanto Draxler e Reus estavam bem presentes na zona de perigo.
E a movimentação foi o grande diferencial em relação à estreia – sem mencionar a mentalidade e a concentração. A equipe aparentava estar focada e mais bem estruturada. A Alemanha deu preferência ao jogo rasteiro e a troca constante de lados, na tentativa de desgastar e afrouxar o bloco defensivo dos escandinavos. Mas a saída de bola na defesa, principalmente com um inseguro Rüdiger voltou a ser o tendão de Aquiles do jogo alemão.
E no primeiro avanço sueco, a grande polêmica do jogo. O atacante Markus Berg aproveitou uma saída errada de Rüdiger e caiu na grande área após contato de Boateng – decisão discutível, que não contou com a intervenção do árbitro de vídeo (VAR).
O susto tirou o ímpeto inicial da Nationalelf. O jogo perdeu em intensidade e a Suécia recuperou a ordem defensiva. Rudy sofreu um choque intencional no nariz, e a Alemanha jogou quase seis minutos com um a menos – o sangramento não pôde ser estancado, e Gündogan entrou em seu lugar, aos 30 minutos.
E uma nova desconcentração na saída de bola custou caro. Kroos errou um passe simples e entregou a bola para Albin Ekdal, que lançou Ola Toivonen. O grandalhão sueco aproveitou a lacuna na defesa alemã e a recuperação lenta de Kroos e encobriu Manuel Neuer para abrir o placar. E como são as coisas no futebol: Toivonen não marcou nenhum gol pelo Toulouse em toda a temporada do Campeonato Francês, mas anotou seu primeiro gol na Copa do Mundo.
E a Suécia teve chances de aumentar o placar. A defesa alemã teve problemas em lidar com os contra-ataques, nem tão velozes assim, dos escandinavos. Hector salvou o que seria um gol certo de Viktor Claesson e Neuer operou um milagre em cabeçada de Markus Berg.
Para a segunda etapa, Löw sacou Draxler e colocou Mario Gómez. E a alteração surtiu efeito. Logo no segundo minuto, Werner foi à linha de fundo e cruzou para Reus, de joelho, desviar para as redes. Alívio no semblante de Löw, e a Alemanha manteve a pressão inicial. Gómez e Müller tiveram boas chances ainda antes dos cinco minutos.
Aos 24 minutos, Gómez desperdiçou uma das chances mais inacreditáveis da Copa ao isolar por cima da meta dentro da pequena área. A pressão da Alemanha não era a das mais intensas, mas os atuais campeões mundiais rondavam a área sueca constantemente. Mas a Suécia suportou bem e ainda contou com a expulsão de Boateng, aos 35 minutos. Julian Brandt ainda acertou a trave, nos acréscimos.
Aos 49 minutos, no provavelmente último lance da partida, Toni Kroos cobrou falta em combinação com Reus e colocou a bola no ângulo de Robin Olsen. Êxtase em Sóchi, alívio nos semblantes dos alemães e decepção no lado sueco.
Com três pontos no Grupo F, a Alemanha encerra a fase de grupos da Copa contra a Coreia do Sul, em 27 de junho, em Kazan. Em caso de uma derrota, a Nationalelf repetirá um fiasco que tem ocorrido com frequência nos últimos Mundiais – a eliminação de um atual campeão já na fase de grupos.
Nas últimas quatro Copas, apenas o Brasil, em 2006, superou a primeira fase como detentor do título: em 2002, a França sucumbiu perante Dinamarca, Senegal e Uruguai; em 2010, a Itália alcançou a façanha de não vencer Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia; em 2014, a Espanha foi superada por Holanda e Chile.
Ficha técnica
Alemanha 2 x 1 Suécia
Local: Estádio Olímpico de Fisht, em Sóchi
Arbitragem: Szymon Marciniak (Polônia), auxiliado por seus compatriotas Pawel Sokolnicki e Tomasz Listkiewicz.
Gols: Ola Toivonen (32'/1T), Marco Reus (47'/2T) e Toni Kroos (49'/2T)
Cartões amarelos: Albin Ekdal (6'/2T), Jérôme Boateng (25'/2T) e Sebastian Larsson (48'2T)
Cartão vermelho: Jérôme Boateng (36'/2T)
Alemanha: Manuel Neuer; Joshua Kimmich, Jérôme Boateng, Antonio Rüdiger e Jonas Hector (Julian Brandt 42'/2T) ; Sebastian Rudy (Ilkay Gündogan 31'/1T) e Toni Kroos; Thomas Müller, Julian Draxler (Mario Gómez 45'/intervalo) e Marco Reus; Timo Werner. Técnico: Joachim Löw.
Suécia: Robin Olsen; Mikael Lustig, Victor Lindelöf, Andreas Granqviste Ludwig Augustinsson; Viktor Claesson (Jimmy Durmaz 29'/2T), Sebastian Larsson, Albin Ekdal e Emil Forsberg; Marcus Berg (Isaac Kiese Thelin 46'/2T) e Ola Toivonen (John Guidetti 32'/2T). Técnico: Janne Andersson.
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