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"NOlympia": por que Hamburgo votou contra os Jogos de 2024

Mark Hallam (av)1 de dezembro de 2015

Apesar do amplo apoio institucional, moradores da cidade alemã disseram "não" à candidatura para sede olímpica. Uma decisão que não surpreende, em meio à crescente resistência ao maior evento esportivo do mundo.

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Foto: picture-alliance/dpa/C. Rehder

Vender o sonho olímpico está se transformando num desafio tão grande, que o Comitê Olímpico Internacional (COI) deveria considerar um sistema de medalhas para as cidades que se candidatam.

Em referendos, os cidadãos de Munique, Cracóvia e St. Moritz/Davos, Suíça, rejeitaram que suas cidades fossem sede dos Jogos de Inverno de 2022. Coube a Pequim, anfitriã das Olimpíadas de 2008, arrebatar o privilégio de Almaty, no Cazaquistão.

Percebendo as consequências financeiras de uma recusa, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos barrou a candidatura de Boston para 2024, antes que se pudesse realizar um referendo em 2016, em vez disso colocando Los Angeles no páreo.

Hamburg gegen Olympia
Alfons Hörmann (dir.), da DOSB, defendeu a candidatura ao lado do prefeito de Hamburgo, Olaf ScholzFoto: picture-alliance/dpa

A Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB, na sigla original) também tentou jogar seguro, sem fazer segredo sobre seus motivos para preferir Hamburgo à capital, Berlim: as pesquisas de opinião mostravam níveis de respaldo público mais elevados e, portanto, uma maior chance de que a sede dos Jogos em 2024 fosse alemã.

No entanto, o 64% de apoio público em março deu lugar a uma derrota apertada no referendo realizado no domingo (29/11). Assim não é de espantar que as quatro demais cidades hajam desistido de levar sua candidatura a votação popular.

Derrota apesar de apoio variado

O presidente do DOSB, Alfons Hörmann, lamentou o resultado, também no interesse dos atletas olímpicos e paralímpicos alemães, que agora teriam talvez que esperar "uma geração" para competir em casa. "A Alemanha e o ideal olímpico parecem não combinar neste momento."

A rejeição veio apesar do apoio pelo governo local, da mídia, atletas, celebridades e do time de futebol da cidade, o Hamburgo, da primeira divisão do futebol alemão. Opositores políticos como o partido A Esquerda e a eurocética Alternativa para a Alemanha (AfD) não pareciam obstáculos intransponíveis.

Mas talvez os alarmes devessem ter soado quando o prestigiado clube de futebol St. Pauli se uniu às fileiras do movimento "NOlympia". De certo modo, o poder de atração, na Alemanha, desse time de segunda divisão compete até com a do Bayern de Munique.

Até mesmo o escritório hamburguês da Associação dos Contribuintes alemães (BdSt) estendera seu apoio cauteloso ao projeto olímpico, orçado em 7,4 bilhões de euros. Normalmente, a agência lobista é a primeira a exigir que se examinem bem as contas, quando se trata de gastar verbas estatais.

"O quadro financeiro apresentado para Hamburgo era coerente, a nossos olhos, e nós o conferimos detalhadamente", declarou à DW Christoph Metzner, da BdSt Hamburg. "De nosso ponto de vista, portanto, nada havia contra os planos. Mas este é o resultado agora em Hamburgo. Ninguém havia contado com ele, e agora temos que aceitá-lo."

Computeranimation Olympiastadion Hamburg Kleiner Grasbrook
Simulação gráfica do Estádio Olímpico em Hamburgo: deve ficar no papelFoto: Computeranimation: Gerkan, Marg und Partner (gmp), Büro Gärtner und Christ/dpa

Publicidade para a cidade hanseática

Os organizadores do projeto alegaram ter operado com base nas predições mais negativas possíveis, a fim de evitar o clássico processo olímpico: um edital ultra-ambicioso – para não espantar o público –, seguido por uma reavaliação a um preço total muito mais elevado, uma vez que o sinal verde seja dado.

"Nós achamos que, no longo prazo, Hamburgo teria lucrado com os Jogos Olímpicos", afirma Metzner. "É preciso admitir que a cidade não tem mesmo como competir com Londres, Paris, Nova York – ela não é suficientemente conhecida, em nível internacional. Mas as Olimpíadas poderiam ter lançado um foco sobre Hamburgo, seria publicidade global para ela."

O funcionário da BdSt chamou a atenção, ainda, para os novos desdobramento planejados em torno da Vila Olímpica: projetos de infraestrutura que agora, sem os jogos, serão de difícil implementação.

Custos superariam 11 bilhões de euros

Entrevistado pela TV ARD logo após o "não" dos hamburgueses, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, também lamentou o fato, afirmando que o governo federal estava pronto para pagar sua parte. "Teríamos feito todo o possível, do ponto de vista financeiro – embora não tanto quanto Hamburgo esperava."

O COI reconheceu que a recusa da população "não chega como uma surpresa completa", em face dos acontecimentos recentes. O político democrata cristão Nikolas Hill, diretor gerente da sociedade criada para promover a candidatura de Hamburgo, explica a mudança de opinião pública por uma série de eventos não relacionados, como os atentados de 13 de Novembro em Paris, o afluxo de centenas de milhares de refugiados e os recentes escândalos relacionados ao mundo dos esportes.

Metzner, do BdSt, vê a questão de forma semelhante: "Nós acreditamos que muita gente estava pensando: 'É melhor fazer outra coisa com esse dinheiro. Nós temos outros problemas, além de acolher uma festividade esportiva que pode custar 11,2 bilhões de euros.'"