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Nobel da Paz, Yunus assumirá governo interino em Bangladesh

7 de agosto de 2024

Laureado em 2006 por banco de microcrédito para pessoas pobres de áreas rurais do país, economista foi indicado por estudantes que protestaram pela queda da premiê Sheikh Hasina, que estava há 15 anos no poder.

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O economista Muhammad Yunus
O economista Muhammad Yunus, agraciado em 2006 com o Prêmio Nobel da Paz, é o nome escolhido pelos estudantes que depuseram a primeira-ministra Sheikh HasinaFoto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance

O Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, 84, foi nomeado chefe do governo interino de Bangladesh nesta terça-feira (06/08), um dia depois de a primeira-ministra Sheikh Hasina renunciar ao cargo e fugir do país após semanas de repressão violenta a protestos liderados por estudantes.

Yunus, que era o nome desejado pelos estudantes, foi indicado ao cargo pelo presidente de Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, após este se reunir com os jovens, chefes das Forças Armadas, empresários e representantes da sociedade civil.

O economista não participou das conversas porque está em Paris para tratamento médico, mas aceitou a oferta por meio de um porta-voz.

Ele foi agraciado com o Nobel da Paz em 2006 por ter criado um banco de microcrédito, o Grameen Bank, que tirou milhões da pobreza ofertando empréstimos de menos de 100 dólares (hoje o equivalente a R$ 565,70) a famílias pobres em áreas rurais do país do sul asiático. Agora, deve assumir a frente do governo de um país com 170 milhões de habitantes.

Novas eleições esperadas

Mais cedo nesta terça, o presidente de Bangladesh dissolveu o Parlamento – condição imposta pelos manifestantes. A ação abre o caminho para o governo interino e a convocação de novas eleições, que ainda não têm data prevista.

Shahabuddin também anunciou a soltura da líder oposicionista do Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), Begum Khaleda Zia, ex-primeira-ministra e rival de Sheikh Hasina.

O movimento contra Hasina nasceu de protestos contra cotas no serviço público para famílias de veteranos da guerra de independência de Bangladesh, em 1971, quando o país se emancipou do Paquistão. As cotas eram vistas como um artifício para assegurar bons (e escassos) empregos a aliados do partido de Hasina.

A repressão aos manifestantes deixou um saldo de cerca de 300 mortos e milhares de feridos desde julho.

As cotas acabaram derrubadas, mas àquela altura os protestos adquiriram um caráter anti-governo. Hasina, que estava há 15 anos no poder e era acusada de se tornar cada vez mais autoritária, fugiu do país e refugiou-se na Índia.

O movimento está sendo celebrado por estudantes e pelo próprio Yunus – também ele um rival de Hasina e acusado por ela no passado de corrupção – como uma "segunda independência" de Bangladesh.

Atos de violência continuam no país

Após a fuga da primeira-ministra, estudantes relataram ataques a grupos minoritários e templos hindus – o país é de maioria muçulmana.

O BNP apelou à população para que aja de forma contida. "Seria contra o espírito da revolução que derrubou o regime ilegítimo e autocrático de Sheikh Hasina se as pessoas decidissem fazer justiça com as próprias mãos", advertiu o líder interino da sigla, Tarique Rahman.

A Associação de Policiais de Bangladesh anunciou greve após a saída de Hasina, depois que postos policiais e viaturas foram atacados. A entidade afirmou que só voltaria a trabalhar se seus agentes tiverem a segurança garantida. Também se desculpou por ataques a manifestantes, alegando que policiais foram "forçados a abrir fogo" – durante os protestos, houve relatos de que os agentes estariam usando munição real contra os estudantes.

Bangladesh já viveu mais de 20 golpes ou tentativas de golpes de Estado desde 1971. Os militares são uma força influente no país, cuja história é marcada por crises. O país é também parte importante da indústria da moda, com fábricas precárias operadas por gente mal-remunerada produzindo itens de vestuário que são enviados a todo o mundo.

ra (Reuters, AP)