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Negociações do Brexit esbarram em fronteira das Irlandas

5 de dezembro de 2017

Partido aliado na Irlanda do Norte impede Theresa May de levar adiante negociações para saída do Reino Unido da UE ao descartar tratamento diferenciado para a nação.

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Jean-Claude Juncker e Theresa May em Bruxelas
Com o desfecho imprevisto, Juncker e May não tiveram nada para anunciar aos jornalistasFoto: Getty Images/AFP/J. Thys

A polêmica em torno da fronteira do Reino Unido com a Irlanda após o Brexit se torna um entrave cada vez maior para a primeira-ministra britânica, Theresa May, dificultando o avanço das negociações com a União Europeia (UE) em Bruxelas.

A fronteira entre os dois países é um dos temas fundamentais da negociação, juntamente com a questão da "conta do divórcio" a ser paga por Londres e os direitos dos cidadãos expatriados no Reino Unido e na União Europeia.

Enquanto corre o período de dois anos, deflagrado pelo governo britânico ao acionar os mecanismos para a saída do país do bloco europeu, a primeira-ministra quer avançar nas questões de comércio – a próxima etapa das conversações com Bruxelas – e assegurar ao setor de negócios de seu país algumas garantias para o futuro próximo.

Leia também: Brexit e a fronteira entre as duas Irlandas

Todas as partes envolvidas na questão da fronteira com a Irlanda dizem querer evitar o retorno a uma fronteira rígida entre o país, membro da UE, e a Irlanda do Norte, uma das nações constituintes do Reino Unido, o que poderia abalar a paz estabelecida após décadas de violência entre os dois lados.

O governo do Reino Unido quer manter o fluxo "sem atritos" de pessoas e mercadorias na fronteira, ou seja, sem postos de fronteira e alfândega. Mas a Irlanda e os demais países da União Europeia querem saber como isso se dará se o Reino Unido estiver fora do mercado comum europeu.

Na manhã desta segunda-feira (04/12), negociadores dos dois lados estavam debatendo uma proposta pela qual o Reino Unido se comprometeria a manter um "alinhamento regulatório" entre a Irlanda do Norte e a Irlanda depois do Brexit. Ambos os lados manteriam regras de comércio compatíveis, deixando, assim, a fronteira aberta para o comércio.

Um acerto parecia próximo. Mas a possibilidade de que May aceitasse o tal alinhamento regulatório levou o Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte, aliado de May no governo do Reino Unido, a manifestar de imediato sua recusa em aceitar qualquer tratamento diferenciado para a Irlanda do Norte.

Em Belfast, a líder do DUP, Arlene Foster, afirmou à imprensa que a Irlanda do Norte deve deixar a UE nos mesmos termos que o restante do Reino Unido. "Não aceitaremos qualquer forma de divergência regulatória que separe econômica ou politicamente a Irlanda do Norte do restante do Reino Unido."

O governo britânico depende do apoio do DUP – partido ultraconservador que defendeu  o Brexit no referendo do ano passado e tem apenas dez cadeiras no Parlamento – para manter sua frágil maioria parlamentar. Assim, May e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acabariam afirmando à imprensa que ainda não havia "progressos suficientes"para que as negociações avançassem.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, ecoou a decepção expressa por algumas autoridades em Bruxelas. "Estou surpreso e decepcionado que o governo britânico não esteja mais em condições de concluir o que havia sido acordado mais cedo, hoje." Ele disse compreender que May encara "muitos desafios" e reconheceu boas intenções na atitude da primeira-ministra, mas ressalvou que seu governo é irredutível na questão.

A equipe de May reagiu afirmando que as expectativas eram demasiadamente altas em relação ao encontro da primeira-ministra com Juncker e minimizou o papel do DUP no fracasso das negociações. Em Bruxelas, porém, surgiram dúvidas sobre a capacidade de May de levar adiante as negociações, pois também membros do Partido Conservador britânico se colocaram ao lado do DUP.

A primeira-ministra vai se reunir com seu gabinete ainda esta semana. Ela expressou confiança numa "conclusão positiva" do impasse com seus aliados na Irlanda do Norte. Juncker também disse estar otimista quanto a um desfecho favorável até o fim da semana e elogiou May, afirmando que ela é uma "negociadora difícil".

RC/rtr/ots

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