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Nas ruas, movimento pró-Dilma muda de estratégia

Marina Estarque, de São Paulo17 de dezembro de 2015

Manifestantes levam foco à defesa da democracia e unificam grupos com opiniões distintas – até mesmo aqueles descontentes com o governo. Segundo especialistas, polarização enfraquece rito de impeachment.

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Manifestação em Brasília: protestos podem levar o governo a fazer concessões à esquerdaFoto: Getty Images/AFP/A. Anholete

As manifestações contrárias ao impeachment, que ocorreram em mais de 20 capitais na quarta-feira (16/12), dão fôlego à presidente Dilma Rousseff, mostram mudança de estratégia do movimento contra o impeachment e podem levar o governo a fazer concessões à esquerda.

De acordo com o Datafolha, o protesto em São Paulo reuniu 55 mil pessoas – quase 15 mil a mais do que o ato de domingo, a favor do impeachment. Além de defender que a presidente permaneça no cargo, a manifestação também era pela saída do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e contra o ajuste fiscal, promovido pelo governo.

Para o professor de Ciência Política da FGV Marco Antônio Teixeira, reunir essas pautas foi uma solução da esquerda para unificar grupos com opiniões distintas. "Foi uma grande ideia do movimento. Trazer o debate para a defesa da democracia e não do apoio governamental. Porque quem está contra o impeachment não necessariamente é a favor do governo", afirma.

Segundo ele, o governo tende a tomar medidas para agradar a esses movimentos sociais, reduzindo o arrocho fiscal e enfraquecendo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Brasilien Protest gegen Amtsenthebungsverfahren Dilma Rousseff
O protesto em São Paulo reuniu 55 mil pessoas – quase 15 mil a mais do que o ato de domingoFoto: Reuters/N. Doce

"A Dilma já está perdendo o grande capital, como deixa claro o posicionamento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de apoiar oficialmente o impeachment. Então, naturalmente, ela vai tentar se segurar do outro extremo. E esse deslocamento para a esquerda pode ficar mais acentuado", diz Teixeira.

A professora de Ciência Política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), concorda. Ela ressalta que as manifestações de esquerda fortaleceram o governo, mas são acompanhadas de uma cobrança de manter as promessas eleitorais do PT.

"Na campanha de 2014, Dilma disse que as políticas sociais não seriam atingidas. Mas agora o ajuste fiscal, que era uma plataforma muito mais incisiva da oposição, está caindo no colo do governo", aponta.

Opinião pública dividida

Para os especialistas, historicamente a opinião pública desempenha um papel importante no processo de impeachment. Por isso, esse aparente – e talvez momentâneo – equilíbrio na quantidade de manifestantes de ambos os lados pode acabar favorecendo um arquivamento do pedido.

"É diferente de 92, no impeachment do Collor, quando havia um consenso pelo afastamento do presidente. Hoje há grupos poderosos da sociedade civil dos dois lados. O protesto deixou claro que vai haver pressão popular contra o impeachment", afirma Luiz Antônio Dias, professor da PUC-SP e especialista em História Política do Brasil.

Segundo os estudiosos, apesar da baixa popularidade, a presidente Dilma não estaria tão isolada politicamente quanto Collor. Eles explicam que isso se verifica também na sociedade, que ainda parece dividida quanto ao impeachment.

"Não havia manifestações em defesa do Collor. Hoje a sociedade está polarizada, isso está claro desde as eleições. Mesmo que dois terços da população aprovem o impeachment, segundo as pesquisas, há uma incerteza em relação ao que viria depois, aos possíveis sucessores", diz Teixeira.