Na prorrogação, Real goleia Atlético e vence sua décima Liga dos Campeões
25 de maio de 2014"La Décima", "Lá Décima", "La Décima". A obsessão do Real Madrid virou realidade, mas com bastante sofrimento e uma pitada de sorte. Os galácticos derrotaram o arquirrival Atlético por 4 a 1, na prorrogação, e conquistaram seu décimo título da Liga dos Campeões. Na final disputada neste sábado (24/05) em Lisboa, os "colchoneros" venciam até os 48 minutos do segundo tempo, mas sofreram o empate com gol de Sergio Ramos e a virada com gols de Gareth Bale, do lateral brasileiro Marcelo e de Cristiano Ronaldo.
O placar elástico pode ser considerado enganoso. Durante boa parte da partida, o Real não conseguiu oferecer perigo ao adversário e impôs seu futebol apenas na segunda parte da prorrogação, quando os "colchoneros" sucumbiram fisicamente.
Jogo morno, final emocionante
Depois da cerimônia de encerramento, com marinheiros e o tradicional fado português, o arrepiante hino da Liga dos Campeões foi tocado pela última vez nesta temporada. Perfilados em campo, pela primeira vez duas equipes da mesma cidade para a decisão do torneio mais importante da Europa. Real Madrid atrás de "La Décima" e o Atlético sonhando com a sua "La Primera". E no final das contas, o que diferencia o dez do um é o zero – o número que o Atlético deixou escapar no placar quando (quase) todos davam a final por encerrada.
Em ambos os times, os treinadores arriscaram nas escalações. Com a suspensão de Xabi Alonso, Carlo Ancelotti promoveu Sami Khedira ao time titular. O volante alemão não começava uma partida desde o seu rompimento no ligamento do joelho, em novembro do ano passado. Desde então, havia atuado apenas por 118 minutos.
Por outro lado, o tratamento à base de choques elétricos e placenta de égua na coxa lesionada parecia ter surtido efeito satisfatório e Diego Costa, arriscando sua participação na Copa do Mundo, foi para o jogo. Parecia, pois logo com nove minutos de partida, o atacante brasileiro naturalizado espanhol foi substituído por Adrián López.
Nos últimos dois dias, Diego Costa havia treinado normalmente e, durante o aquecimento, aparentemente tudo estava em ordem. Momentos antes do início da partida, ele colocou uma bandagem na coxa. De nada adiantou e Simeone teve que queimar uma substituição – a mais rápida da história de uma final de Liga dos Campeões. Resta saber o quão grave é a contusão de Diego Costa e se ela pode complicar sua ida à Copa. Nas três partidas em que tentou jogar, foi substituído aos 27, 13 e agora aos nove minutos de jogo.
De fato, a substituição foi o grande lance na primeira meia hora de jogo. A partida era bastante brigada no meio-campo e com raríssimas chances de gol. O Atlético marcava sob pressão, às vezes além do limite no uso da força, e não permitia ao Real engatilhar um de seus contra-ataques mortais. Quando conseguiu – depois de um passe errado de Tiago – Gareth Bale, totalmente livre na grande área, desperdiçou. Isso aos 32 minutos.
E, como não poderia se diferente, o primeiro gol do jogo surgiu quase por acaso. Após escanteio pela direita, o zagueiro francês Varane conseguiu aliviar, mas Juanfran colocou a bola de volta na área merengue. Iker Casillas, desnecessariamente, saiu de sua baliza, e Diego Godín – que já havia marcado o gol do título espanhol contra o Barcelona há dez dias – ganhou a disputa pelo alto com Khedira e encobriu o goleiro do Real.
O Atlético foi para o intervalo com 1 a 0 no placar e com a impressionante estatística a favor: em 36 finais do torneio em que no intervalo uma equipe estava vencendo, apenas seis perderam o título.
Na segunda etapa, o Real conseguiu ter mais chances de gol, principalmente com as jogadas de Di María, o único lúcido no ataque merengue. As duas grandes – e milionárias – estrelas, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo, eram peças inexistentes em campo. O gajo apareceu em uma cobrança de falta, facilmente defendida por Courtois, mas o maior artilheiro da história do torneio (16 gols) não conseguia repetir as atuações anteriores na Liga. A explicação pode estar nos recentes problemas musculares do jogador.
Aos 33 minutos, Gareth Bale perdeu outra boa chance para o Real. Novamente ele entrou livre na área do Atlético e arrematou de trivela, com o lado externo do pé, mas o chute saiu torto, para desespero dos colegas no banco de reservas. A pressão do recordista da Liga dos Campeões aumentava, mas esbarrava na melhor defesa do torneio. O Atlético montou uma muralha na entrada de sua grande área e o Real tentava com bolas alçadas transpor a dupla Godín e Miranda, que fazia uma partida impecável.
Mas o destino tratou de repetir 1974, a única final de Liga dos Campeões disputada pelo Atlético. Assim como naquela oportunidade, o time sofreu o gol de empate nos acréscimos. Desta vez foi Sergio Ramos que, no terceiro minuto depois do tempo regulamentar, com uma cabeçada fulminante após cobrança de escanteio, deu um tiro certeiro no coração dos valentes "colchoneros". Após o apito final, Casillas deu um beijo de agradecimento em Ramos. A final em Lisboa presenteava a torcida com a 16ª prorrogação – dez foram às penalidades – da história do principal torneio europeu.
Mas não esta. Di María, em bela jogada individual aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação, saiu na cara de Courtois. O goleiro belga fez excelente defesa, mas a bola sobrou limpa para Bale, que não tinha como desperdiçar dessa vez. O Real Madrid virou a partida e, depois de 12 anos, voltou a conquistar a Liga dos Campeões. Ainda sobrou tempo para o lateral brasileiro Marcelo e o atacante Cristiano Ronaldo deixarem suas marcas. Placar final: goleada por 4 a 1 no Estádio da Luz.
Com a conquista, o capitão Iker Casillas torna-se o terceiro atleta – ao lado de Franz Beckenbauer e Didier Deschamps – a ser campeão da Copa do Mundo e da Liga dos Campeões como capitão. E Carlo Ancelotti igualou o recorde do lendário Bob Paisley (trreinador do Liverpool) ao conquistar o maior torneio de futebol na Europa pela terceira vey como treinador.
Ficha técnica
Real Madrid 4 x 1 Atlético de Madrid
Local: Estádio da Luz – Lisboa
Gols: Diego Godín (36'/1T), Sergio Ramos (45+3'/2T), Gareth Bale (5'/2P), Marcelo (13'/2P) e Cristiano Ronaldo (p. 15'/2P)
Cartões amarelos: Raúl García (27'/1T), Sergio Ramos (27'/1T), Sami Khedira (45+1'/1T), Miranda (8'/2T), David Villa (27'/2T), Juanfran (29'/2T), Koke (41'/2T), Gabi (10'/1P)
Arbitragem: Björn Kuipers (Holanda), auxiliado pelos compatriotas Sander van Roekel e Erwin Zeinstra.
Real Madrid: Iker Casillas; Daniel Carvajal, Sergio Ramos, Raphaël Varane e Fábio Coentrão (Marcelo 13'/2T); Sami Khedira (Isco 13'/2T); Luka Modriće Ángel Di María, Gareth Bale; Cristiano Ronaldo e Karim Benzema (Álvaro Morata 34'/2T). Técnico: Carlo Ancelotti.
Atlético de Madrid: Thibaut Courtois; Juanfran, Miranda, Diego Godín e Filipe Luís (Toby Alderweireld 37'/2T); Tiago; Gabi; Raúl García (José Sosa 21'/2T) e Koke, Diego Costa (Adrián López 9'/1T) e David Villa. Técnico: Diego Simeone.