Na ONU, Temer defende processo de impeachment
20 de setembro de 2016No discurso que abriu a 71ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o presidente Michel Temer defendeu nesta terça-feira (20/09) a legitimidade do processo de impeachment e disse que tudo "transcorreu dentro do mais absoluto respeito constitucional".
Segundo Temer, o fato de o processo ter sido conduzido dessa maneira implica em um "exemplo ao mundo" de que "não há democracia sem Estado de direito – sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos". "É o que o Brasil mostra ao mundo", afirmou.
O presidente também afirmou que o Brasil passa por um "processo de depuração" de seu sistema político.
"Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre", discursou Temer.
"Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. (...) A confiança já começa a restabelecer-se, e um horizonte mais próspero já começa a desenhar-se", completou.
O restante do discurso de Temer seguiu um roteiro mais previsível, com conteúdo não muito diferente da fala da ex-presidente Dilma Rousseff em setembro do ano passado. Temer defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU – uma velha reivindicação brasileira –e citou brevemente outra posições do Itamaraty como o apoio a uma solução para o conflito entre palestinos e israelenses e críticas ao protecionismo de alguns países.
"É urgente impedir que medidas sanitárias e fitossanitárias continuem a ser utilizadas para fins protecionistas", disse Temer.
O presidente também ressaltou que é preciso defender os direitos das minorias e citou a questão dos refugiados. Na segunda-feira, Temer já havia citado imigrantes e provocado controvérsia ao afirmar que o Brasil teria recebido nos últimos anos cerca de 95 mil refugiados, quando números do Ministério da Justiça mostram que o total não chega a nove mil.
"Queremos uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo. Nossos debates e negociações podem confinar-se a estas salas e corredores", disse.
Delegações deixam sala
Durante o discurso de Temer, as delegações dos governos da Bolívia, Equador, Costa Rica, Venezuela, Nicarágua e Cuba deixaram a sala da Assembleia Geral. O primeiro a sair foi o presidente costa-riquenho, Luis Guillermo Solís.
"Nossa decisão, soberana e individual, de não escutar a mensagem de Michel Temer na Assembleia Geral obedece a nossa dúvida de que, diante certas atitudes e ações, ele queira lecionar sobre práticas democráticas", afirmou a nota divulgada pelo Ministério do Exterior da Costa Rica.
O texto afirma que a Costa Rica acompanhou os acontecimentos no Brasil e o processo de impeachment de Dilma Rousseff e expressou preocupação com a atual situação no país.
A assessoria de Temer não quis comentar o assunto. Já o ministro das Relações Exteriores, José Serra, minimizou a retirada das delegações latino-americanas. Ao jornal Folha de São Paulo, Serra disse que não percebeu o boicote e afirmou que sua importância é próxima do zero. O ministro se surpreendeu, porém, com o fato de a Costa Rica estar entre os países que deixaram a sala.
Essa foi a segunda viagem oficial de Temer ao exterior após ele ter sido empossado definitivamente na Presidência. Tradicionalmente, cabe ao chefe de Estado brasileiro fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral.
No início do mês, Temer fez sua estreia em fóruns internacionais durante a cúpula do G-20, na China. Ao chegar a Nova York, Temer foi alvo de um protesto. Alguns manifestantes se reuniram em frente ao hotel onde se hospedou a comitiva brasileira e exibiram cartazes com a frase "Fora, Temer!".