Romney tropeçou nos próprios erros
19 de outubro de 2012Romney é uma pessoa acostumada ao sucesso. Ele se formou na conceituada Universidade de Harvard, e não apenas em uma, mas em duas faculdades: Administração e Direito. Depois disso, trabalhou para chegar à vice-presidência da Bain & Co, empresa de consultoria sediada em Boston e, em 1984, fundou a bem-sucedida empresa de investimentos privados Bain Capital. Ele é multimilionário, foi governador de Massachussets e organizou com louvor a Olimpíada de Inverno de 2002 em Salt Lake City. Mas em meio à batalha para se tornar presidente, ele cometeu algumas trapalhadas imperdoáveis.
Começou com pequenas coisas, que não caíram bem entre os eleitores cujas contas bancárias não estão transbordando de dinheiro. O mórmon devoto falou entusiasmadamente sobre a "porção de Cadillacs" de sua mulher, Ann, e disse que não ganha muito dinheiro como palestrante – embora tenha recebido 370 mil dólares em um ano.
Com o tempo, as gafes não só foram se acumulando como se tornaram cada vez maiores. Durante sua visita à Europa, ele afrontou os britânicos ao criticar a organização dos Jogos Olímpicos de Londres. No discurso de lançamento de sua canditatura, ele não mencionou nem uma vez sequer a guerra no Afeganistão ou os soldados em combate. E imediatamente depois dos ataques às embaixadas norte-americanas no Cairo e em Benghazi, numa situação em que os norte-americanos devem se unir independentemente de partidos políticos, Romney criticou o governo Obama e ainda distorceu os fatos.
Insultos a metade da população
Mas a gota d'água, que indignou o público e levou até comentaristas conservadores balançarem a cabeça negativamente, foi o comentário de Romney durante um evento privado de campanha em meados de maio. Em um video gravado em segredo e levado a público no início de setembro, o candidato republicano insultou quase metade dos americanos, dizendo que não votariam nele porque são parasitas do Estado.
"Há 47% da população que votam no presidente não importa o que aconteça", disse Romney durante evento para levantar fundos que custava 50 mil dólares por pessoa. "Eles acreditam serem vítimas, acreditam que o governo tem a responsabilidade de cuidar deles. Eles acham que têm direito a plano de saúde, comida, moradia. Acreditam que tudo isso é um direito, e que o governo deve prover."
Isso não apenas deixou Romney em maus lençois, como também tirou a atenção sobre temas que ele poderia usar contra Obama: a economia em frangalhos, alto desemprego e uma enorme dívida pública.
"Eu estou concorrendo à presidência para criar um futuro melhor – um futuro em que todos que buscam um emprego, o encontram", disse Romney em seu discurso inaugural durante a convenção, em Tampa. Ele também afirmou ter um plano para a criação de 12 milhões de empregos.
Contraste em relação ao presidente
O plano de cinco ações de Romney inclui tornar os EUA independentes da importação de petróleo e gás, garantir melhor educação e capacitação profissional, negociar melhores acordos comerciais e reduzir a dívida pública. Para completar, ele quer conceder incentivos fiscais para pequenas empresas e abolir o seguro-saúde obrigatório. Romney aposta em uma sociedade competitiva na qual todos são os arquitetos de seus próprios destinos, sem interferência do governo.
"Em vez de termos um presidente que pensa no governo como criador da nossa economia e que permite a ela crescer, eu acredito que são as pessoas e a liberdade que movem a nossa economia", disse Romney.
Mas o problema do republicano é que muitas das políticas que ele hoje condena já foram bandeiras de seu próprio governo. A reforma no sistema de saúde aprovada pelo presidente Obama foi baseada no seguro de saúde de Massachussets, implementado com grande estardalhaço na época em que Romney era governador.
Em questões sociais, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo, ele também adotou uma postura mais conservadora a partir da campanha das primárias, em um esforço para derrotar competidores ultraconservadores como Michelle Bachmann e Rick Santorum.
Mas seu sucesso na eleição não depende dos republicanos fieis. Para conseguir vencer o presidente Obama, Romney precisa convencer os eleitores indecisos e os democratas frustrados. Mas sua credibilidade e sua aura de empresário bem-sucedido ficaram desgastadas depois de tantas trapalhadas. O resultado no 6 de novembro vai mostrar se o empresário e político conseguirá manter a trajetória de sucesso em sua mais nova empreitada.
Autor: Michael Knigge(ro)
Revisão: Francis França