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Entrevista

21 de junho de 2011

Vice-ministro alemão de Relações Exteriores fala sobre o engajamento alemão pelos direitos humanos na abertura do Deutsche Welle Global Media Forum, que está sendo realizado em Bonn.

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Werner HoyerFoto: DW

Como vice-ministro, Werner Hoyer é um dos mais importantes assessores do ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle. Aos 59 anos, o político do partido liberal é um dos convidados do Deutsche Welle Global Media Forum, aberto nesta segunda-feira (20/06) na cidade de Bonn.

A conferência de três dias chama a atenção para a importância das mídias no respeito aos direitos humanos num mundo globalizado. Nesse contexto, Hoyer falou sobre o engajamento alemão em entrevista à Deutsche Welle.

Deutsche Welle: O Exército alemão está no Afeganistão para ajudar a garantir os direitos humanos e o processo de democratização no país. Vários atentados já mataram e feriram soldados alemães. Não está sendo muito alto o preço que a Alemanha paga por este engajamento?

Werner Hoyer: O preço é bastante alto. Quando o Exército sofre perdas, quando há vítimas humanas, isso é um preço alto. Mas temos uma missão a ser cumprida no Afeganistão, que é a de dar ao país condições de garantir à população uma segurança no futuro, respeitando os direitos humanos. É um caminho longo, mas temos que tomar cuidado para, depois dos esforços de mais de dez anos no Afeganistão, não deixar precisamente os direitos humanos irem por água abaixo. O preço é alto, mas o esforço vale a pena.

A Alemanha decidiu não participar da missão da Otan na Líbia e foi muito criticada por isso. Do ponto de vista atual, essa decisão foi acertada?

O governo alemão havia refletido muito bem sobre isso. Tínhamos consenso – na Chancelaria Federal, o ministro da Defesa, o ministro do Exterior –, que essa missão não havia sido pensada por completo. Por isso achamos que a decisão foi acertada. Mas isso não quer dizer que sejamos neutros, que não nos importe o que acontece por lá.

Nossos aliados tomaram uma decisão diferente e lhes desejamos muito sucesso, ou seja, esperamos que se alcance uma das prioridades da resolução do Conselho de Segurança da ONU: a proteção da população civil. Também espero que fique claro para todos os envolvidos que o futuro da Líbia é inconcebível com Kadafi.

Apesar disso, muitos críticos dizem que a Alemanha se isolou internacionalmente e feriu seu compromisso na luta pelos direitos humanos. Como o Ministério do Exterior vê essas acusações?

Eu considero essa acusação errada. Não precisamos de lições sobre direitos humanos. Afinal, a história das relações entre a União Europeia e a Líbia não começou em janeiro deste ano, mas há muito tempo.

A Alemanha sempre atuou ativamente na questão dos direitos humanos junto ao governo líbio, mesmo nos tempos em que Kadafi acampava com suas tendas em outras capitais europeias. Então, acho que não devamos aquecer esse debate interno sobre qual teria sido a decisão correta.

Frequentemente, o problema da política de direitos humanos é a área de conflito entre política real e atenção aos direitos humanos. Como o Ministério das Relações Exteriores lida com casos como a prisão do artista Ai Weiwei na China?

É mesmo um caso particularmente difícil, porque se tentou submeter Ai Weiwei à política ocidental de direitos humanos. Por isso, é necessário ser coerente e atento e não se deixar influenciar. Caso contrário, se fica sempre diante da ponderação entre uma política de direitos humanos o mais demonstrativa e barulhenta possível e uma política interessada em resultados concretos de casos individuais.

É necessário fazer essa ponderação, o que nem sempre facilita as coisas. Mas às vezes vale a pena renunciar à voz alta ou à grande manchete, quando se pode de fato ajudar em casos específicos.

Então, trata-se de uma linha mais diplomática?

Sim, é claro. Queremos alcançar algo específico e não aumentar a, digamos, satisfação pessoal. Podemos até nos sentir melhor ao chamar a atenção, mas não se ajudou de forma concreta quem precisou de ajuda. Essa é sempre uma decisão difícil de tomar.

Em tempos de globalização, uma política global de direitos humanos cresceu em importância. Existe uma estratégia clara da União Europeia nesse contexto?

Sim. Ao consagrarmos os direitos humanos também na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, assumimos uma função de modelo. Isso significa que é realmente preciso fazer valer os direitos básicos colocados no papel. Por isso, é importante que a União Europeia e seus estados-membros tenham credibilidade no mundo todo em questões de direitos humanos.

Isso também significa que ela precisa ter credibilidade ao defender liberdades básicas, como a de imprensa e de expressão, por exemplo. Esse é sempre o teste decisivo para a UE, que assumiu um objetivo tão nobre.

Durante três dias, o Deutsche Welle Global Media Forum está debatendo os temas direitos humanos, globalização e meios de comunicação. O que o senhor espera que a conferência deixe como mensagem?

Acredito que a questão dos direitos humanos seja particularmente atual, pois, com a aceleração do processo de globalização, há o perigo de que os direitos humanos sejam deixados de lado. E isso porque, ao contrário dos séculos passados, quando as democracias constitucionais e esclarecidas também eram bem sucedidas economicamente, agora temos que lidar com uma série de pólos econômicos e políticos.

Eles são bem sucedidos economicamente, assumindo um papel bastante importante na globalização, mas, em termos de direitos de liberdade e humanos, deixam a desejar. Portanto, é muito importante que, justo nos casos em que sistemas autoritários são economicamente bem sucedidos, levantemos sempre a questão dos direitos humanos.

Como o senhor vê o papel da Deutsche Welle, que se vê como uma voz dos direitos humanos?

Essa é uma grande responsabilidade e espero que a Deutsche Welle a cumpra. A Deutsche Welle é o cartão de visitas da Alemanha, e, com o reconhecimento e o respeito pela independência jornalística, serve também à política externa alemã. É tarefa da Deutsche Welle propagar no exterior a orientação da área política e da sociedade alemãs pelos direitos humanos. E isso eu acho que ela faz com excelência.

Entrevista: Ralf Bosen (lf)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Deutschland Staatsminister im Auswärtigen Amt Werner Hoyer
Werner Hoyer na Deutsche WelleFoto: DW