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Música sacra judaica: tradição, novidades e renascimento

Klaus Gehrke / Augusto Valente13 de agosto de 2013

Assim como a do povo hebreu, história da música sacra judaica é uma trajetória entre a tradição e as rupturas. Invasão de romanos, exílio e Holocausto provocaram mudanças cruciais e diversificação.

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Foto: DW/R. Pelzl

Segundo conta a Bíblia, armado apenas de uma atiradeira e uma pedra, o hebreu Davi derrotou o gigante filisteu Golias, compensando com inteligência a desvantagem de tamanho. Mas aparentemente o futuro rei dos judeus não era apenas esperto, como também extremamente musical. Com o som de sua harpa, ele acalmou os ânimos do rei Saul, e a ele se devem os salmos bíblicos.

Caravaggio-Bacon Ausstellung der Borghese Galerie in Rom
Davi exibe a cabeça de Golias, em tela de CaravaggioFoto: Luciano Romano

É impossível saber como soavam na época esses cantos de louvor e de lamentação: certo está que a música vocal e instrumental, assim como a dança, eram componentes importantes dos cultos no Templo de Jerusalém.

Instrumentos banidos, cantos exilados

Durante séculos, o louvor musical a Deus foi praticado, apesar de o templo ter sido repetidamente destruído e de, por duas vezes, o povo de Israel ter sido exilado ou mantido em cativeiro. Mas a derrota da revolta dos hebreus pelas tropas invasoras romanas, por volta do ano 70 d.C., mudaria essa prática.

"Depois que o Templo de Jerusalém foi destruído, os rabinos decretaram o banimento da música instrumental das sinagogas, em sinal de luto eterno pela desgraça ocorrida", explica Steven Langners, ex-rabino da comunidade israelita de Munique e da Alta Baviera.

Durante muito tempo, somente o canto era permitido nas casas religiosas judaicas. Após a repressão da revolta, os hebreus não demoraram muito a ser expulsos do próprio território, levando os cantos sacros para o exílio.

Influências recíprocas

Os contextos culturais e musicais dos diferentes países de exílio transformaram a música sinagogal – que, por sua vez, também exerceu influência sobre as culturas locais. "Diz-se que o canto gregoriano tem origem na música dos templos. Mas isso não é comprovável, já que não há registros escritos da música judaica", esclarece Langners.

Alguns dos cantos escutados hoje nas sinagogas datam, de fato, da Antiguidade, porém foram reelaborados e adaptados muitas vezes por compositores da Alta Idade Média (a partir do século 5º d.C.).

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Yaakov Motzen, cantor da Sinagoga da Cracóvia, PolôniaFoto: Imago

Enquanto as comunidades judaicas do Leste Europeu e do Oriente Médio até hoje respeitam estritamente a proibição da música instrumental no culto religioso, a partir do fim do século 18 grande parte dos fiéis da Europa Ocidental e Central procuraram novas formas de expressão para a música das sinagogas.

Órgão ou não, eis a questão

Tanto o Iluminismo do século 18 quanto o reconhecimento dos direitos dos cidadãos reforçaram a autoestima e autoconfiança dos israelitas europeus, o que também se refletiria na música sinagogal. Em pouco tempo, os cantos nos templos passaram a acusar tantas influências da linguagem musical romântica quanto as melodias corais das Igrejas católica e luterana.

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Salomon Sulzer (1804-1890), cantor austríaco aclamado ao lado de Mendelssohn

Cantores litúrgicos como Salomon Sulzer e Louis Lewandowski eram aclamados como compositores, tanto quanto os alemães Felix Mendelssohn Bartholdy e Giacomo Meyerbeer.

Os cidadãos israelitas também apoiavam a campanha das comunidades liberais judaicas de instalar órgãos nas sinagogas. Tal pretensão desencadeou crítica ferrenha por parte dos conservadores ortodoxos, desembocando numa verdadeira "disputa organística" de fundo teológico.

"De modo geral, a música sinagogal dos europeus ocidentais encontrava pouca apreciação na Europa Oriental, onde imperava um estilo totalmente diverso. No entanto, para os judeus que haviam crescido no Ocidente, a música do romantismo era a expressão natural de sua religiosidade", caracteriza o especialista Steven Langners.

Depois do Holocausto, panorama diversificado

Na época da ascensão nacional-socialista na Alemanha, em 1933, mais de 70 sinagogas do país possuíam órgãos. Contudo, da mesma forma que a diversificada vida musical judaica, a maioria dos instrumentos foi destruída pela fúria antissemita do regime e de parte da população.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a música sacra das sinagogas viveu um lento renascimento. No entanto, o espírito da época de ouro, no início do século 20, só foi retomado em parte.

"Hoje há algumas sinagogas que preservam a tradição musical alemã, como por exemplo a de Berlim, onde também se toca órgão", diz Langners. No entanto, "a maioria das sinagogas segue a tradição europeia oriental, uma vez que a maioria dos membros da comunidade judaica de hoje vem do Leste, trazendo consigo seu estilo sinagogal".

Andor Izsák an der Budapester Synagogen-Orgel, Foto: Marita Berg
Órgão da sinagoga de Budapeste: instrumento polêmico no século 19Foto: DW/M. Berg

Entre essas conta a sinagoga de Colônia, cujo órgão não é atualmente utilizado. Outras comunidades, por sua vez, se engajam pelo repertório contemporâneo de canto sacro.

No panorama geral, Steven Langners registra uma cultura musical extremamente diversificada nas comunidades judaicas da Alemanha, indo desde o estritamente tradicional até o moderno e liberal, passando pelo rico repertório da música sinagogal do período romântico dos séculos 18 e 19.