Museu Alemão do Cinema: história, interatividade, festivais e mostras
20 de maio de 2013O Instituto Alemão do Cinema foi fundado no pós-guerra, mais precisamente em 1949, sendo a instituição de pesquisa voltada para o cinema mais antiga do país. Ao lado do Arquivo Nacional/Arquivo do Cinema e da Fundação Cinemateca Alemã, ambos sediados em Berlim, o Instituto Alemão do Cinema, localizado em Frankfurt e Wiesbaden, desempenha a função equivalente a uma cinemateca central na Alemanha.
Além de manter um grande arquivo e uma biblioteca e ser responsável por dois festivais já tradicionais – um de filmes infantis (Lucas) e outro dedicado à cinematografia do Leste Europeu (goEast) – o Instituto Alemão do Cinema é desde 2006 a instituição responsável por gerenciar o Museu Alemão do Cinema, em Frankfurt.
Em dois andares e aproximadamente 800 metros quadrados, o museu expõe peças históricas relacionadas à história do cinema, com seções que destacam aspectos como o voyeurismo, o movimento, a gravação e a projeção. A ideia é explicar aos visitantes, muitos deles em idade escolar, como as imagens foram construídas através da luz desde os séculos 18 e 19.
Fascínio em reproduzir a realidade
A história da imagem em movimento, que já existia muito antes do advento do cinema através do zootrópio ou do flip book (o livro animado), por exemplo, é recontada no museu através de objetos antigos. O fascínio que a reprodução da realidade exerce é outro aspecto lembrado pelo museu, que remete aqui à história da fotografia. Mais adiante, a mostra histórica resgata os nomes dos precursores da sétima arte, como Etienne-Jules Marey e os Irmãos Lumière.
A exposição contém uma réplica do cinematógrafo dos Lumière. E para encerrar a seção dedicada à origem do cinema, o museu exibe películas antigas e raras, bem como curiosidades encontradas em arquivos – não apenas assinadas por precursores conhecidos, mas também por autores anônimos, como é o caso, por exemplo, do primeiro filme rodado em Frankfurt.
Narrativa, som e montagem
Outra grande seção é dedicada à narrativa cinematográfica, com o intuito de mostrar que "o efeito de um filme não depende do que ele mostra, mas sim de como ele mostra". Uma instalação projetada em quatro grandes telas apresenta ao visitante trechos de filmes importantes da história do cinema.
No espaço voltado para o som, o observador pode mudar a trilha sonora de determinadas trechos de filmes, a fim de experimentar diretamente como a música influencia na construção narrativa da cena. Já o capítulo "montagem" é ilustrado, entre outros, com o storyboard original da famosa cena do chuveiro de Psicose, de Alfred Hitchcock, a fim de salientar como, através da junção de diversas tomadas, é possível contar uma história que não é mostrada explicitamente.
Proposta pedagógica
Uma das singularidades do Museu Alemão do Cinema está em suas atividades voltadas para o público infantil, bem como para jovens e professores. A proposta pedagógica inclui mostras de filmes no cinema anexo ao museu, com sessões comentadas e análise de filmes. Tais seminários de discussão são abertos a interessados de qualquer idade.
Coleções e acervos
Para além do museu em si, o Instituto Alemão do Cinema mantém, tanto no prédio que abriga o Museu do Cinema, quanto no Arquivo na cidade vizinha de Wiesbaden, acervos de filmes, fotografias, objetos, cartazes e textos escritos, além de um arquivo musical e uma biblioteca. Só de filmes são mais de 20 mil películas de ficção e documentário, entre curtas e longas.
Parte deste material é sempre reutilizado nas mostras do Museu do Cinema, tornando-se assim acessível a um público amplo. Responsável por administrar acervos importantes, como por exemplo os dos cineastas Volker Schlöndorff e Romuald Karmakar, o museu tem em suas coleções alguns pontos fortes: o filme de vanguarda, animações e obras do Novo Cinema Alemão, bem como filmes alemães anteriores a 1945.
"Os filmes de vanguarda e animação sempre foram para nós um fundo central da coleção. De forma que estão no arquivo diversas obras de Lotte Reininger e de Oskar Fischinger, por exemplo", afirmam os responsáveis pelo arquivo. Os trabalhos de restauração, assumidos pelo próprio Instituto, são neste contexto de extrema relevância. "Do longa de animação A aventura do príncipe Achmed (1924-26), de Lotte Reininger, ou de Hamlet, de Sven Gade (1920), foram feitas várias cópias para empréstimo após a restauração", salientam os responsáveis.
Da cinematografia brasileira, o museu guarda pouca coisa em seus acervos. São apenas cinco longas de ficção (entre eles O cangaceiro, de Lima Barreto; O pagador de promessas, de Anselmo Duarte, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos), algumas poucas coproduções e um número mínimo de documentários sobre o país.
Kubrik a caminho do Brasil
Em 2004, o Museu Alemão do Cinema criou uma mostra especial sobre o cineasta Stanley Kubrick (1928-1999), que foi exibida em Frankfurt e um ano depois em Berlim. Desde então a exposição passou pela Austrália, Bélgica, Itália, França, Holanda e encontra-se atualmente nos EUA. Em outubro próximo, ela chegará ao Brasil, quando poderá ser vista no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.
Para desenvolver o conceito da mostra, os funcionários do Arquivo do Museu do Cinema passaram oito meses analisando o acervo do cineasta norte-americano em St. Albans, perto de Londres, em cooperação com a viúva do diretor, a alemã Christiane Kubrick.
Em espaços guiados por citações do cineasta, a mostra inclui estações de áudio e vídeo, com instalações, depoimentos de pessoas ligadas ao diretor, fotografias e filmes. Os pilares da mostra seguem os temas centrais da obra de Kubrick. Sua ligação intensa com a arquitetura, o design e as artes plásticas é ressaltada sobretudo nas seções da exposição dedicadas a Laranja Mecânica e 2001 – uma Odisseia no Espaço.