Independência nas Américas
2 de abril de 2010Menos tempo que lugar – um verso do poeta uruguaio Mario Benedetti deu nome à exposição organizada pelo Instituto Goethe, em comemoração aos 200 anos das lutas de independência na América Latina. Atualmente, a mostra que reúne artistas e intelectuais latino-americanos e alemães se encontra no espaço de exposições Palais de Glace, em Buenos Aires.
Parte da mostra já passou pelas cidades de Cuenca, Quito e Porto Alegre. Em breve, os trabalhos de vídeo da exposição poderão ser vistos também em Curitiba. Durante 2010 e 2011, Menos tempo que lugar viajará para Medellín, Córdoba, Rio de Janeiro, Cidade do México, Caracas e Assunção.
Tempo e espaço
O curador da mostra, o diretor do Instituto Goethe do Rio de Janeiro, Alfons Hug, diz que a exposição procura ilustrar o tema da independência através de mídias contemporâneas. Os artistas e intelectuais que participaram do projeto, afirma Hug em entrevista à Deutsche Welle, trouxeram à tona uma série de questionamentos. Alguns abordam o tema a partir da história, do drama urbano das metrópoles atuais, enquanto outros propõem uma versão irônica do bicentenário, explica.
Segundo Hug, a exposição Menos tempo que lugar é, por um lado, um mapa, já que se atém a uma dramaturgia geográfica e faz uma viagem por todos os países do continente. Por outro lado, é também uma espécie de aparelho detector do tempo que explora a história ano após ano. Com isso, surge uma espécie de cronótopo, ou seja, uma fusão de tempo e espaço, explica o curador.
Vilarejos e megacidades
Os artistas e intelectuais que participam da mostra visitaram os mais diferentes pontos do continente latino-americano: pequenos vilarejos e megacidades, lugares que se prendem ao passado e metrópoles modernas que destruíram os últimos restos da história.
Na videoinstalação Traffic Police, por exemplo, a artista búlgaro-alemã Mariana Vassileva observa dois policiais que tentam por ordem no tráfico caótico da capital mexicana, enquanto seus movimentos rítmicos parecem seguir uma coreografia de dança urbana.
"Carta da Jamaica"
O ponto de partida da exposição foi a lendária carta de 1815, conhecida como Carta da Jamaica, que o herói libertador Simón Bolívar escreveu de seu exílio em Kingston a um amigo inglês. O curador enviou a carta a todos os participantes da exposição. Nela, o herói da independência latino-americana esboçou sua ideia de um continente americano unido. Sua análise começa com um inventário dos movimentos libertadores entre 1810 e 1815, explica Hug.
Artistas alemães e latino-americanos trataram o tema do bicentenário de forma bastante subjetiva e diferenciada. O videoartista caraquenho Alexander Apóstol filmou habitantes de um bairro pobre da capital venezuelana lendo a Carta da Jamaica em inglês, língua em que foi escrita originalmente.
O emaranhado quase incompreensível de palavras é uma sátira verbal dos discursos esvaziados de políticos que se apresentam como salvadores.
A festa continua
Em sua videoinstalação, a artista boliviana Narda Alvarado mostra uma jovem que executas coisas do cotidiano, enquanto elabora uma dança para uma festa.
A artista declara que, em seu trabalho, ela quis mostrar algo que não mudou nos últimos 200 anos. "Na Bolívia, desde o final da era colonial, não existiu nenhuma mudança verdadeira das estruturas e da mentalidade. E uma das coisas positivas que continuam é a festa", declarou Alvarado.
Autor: P. Kummetz / V. Eglau / C. Albuquerque
Revisão: Simone Lopes