Mostra em Berlim lembra precursor da arte multimídia Otto Piene
21 de julho de 2014Na verdade, a mostra Otto Piene – More Sky (Otto Piene – Mais Céu), em cartaz na Nova Galeria Nacional (Neue Nationalgalerie) e no Pavilhão de Exposição do Deutsche Bank em Berlim, deveria ser dedicada aos primeiros trabalhos do artista multimídia teuto-americano Otto Piene – os tumultuosos anos de 1950, 1960 e 1970, que libertaram a arte de seus gêneros e fronteiras, modificando-a de maneira duradoura.
A exposição conseguiu transmitir tudo isso de forma muito autêntica. Mas após a abertura, no meio dos preparativos para o seu Sky Art Event (Evento da arte do céu), o artista de 86 anos morreu em Berlim. E a mostra se transformou numa lembrança não só de seu trabalho, mas também da pessoa de Otto Piene.
Um mundo melhor pela arte
Aos 16 anos, Otto Piene foi convocado para auxiliar na defesa antiaérea em Vestfália, sua terra natal. Ele testemunhou os combates da Segunda Guerra Mundial e foi feito prisioneiro:
"Fiquei realmente surpreso quando a guerra acabou e nos foi dito 'em breve vocês podem ir para casa', e que eu estava vivo. Isso não esperávamos. E disso resultou esse enorme impulso de fazer alguma coisa que valesse o esforço e a grandeza, ou seja, um mundo diferente, um mundo melhor. E isso foi conseguido com um sucesso moderado, e talvez também de forma permanente. Porque naquela época pensávamos que nunca mais haveria guerra", disse certa vez.
Criar um mundo melhor por meio de uma nova arte que supera as fronteiras tradicionais continuou o credo artístico de Otto Piene ao longo de sua vida. Após a devastação da guerra e a ditadura nazista na Alemanha, na década de 1950, muitos artistas sentiam-se assim: eles procuravam meios de expressão novos e descompromissados.
Na música, por exemplo, Karlheinz Stockhausen experimentava com sons puros. E, nas artes plásticas, Joseph Beuys procurava novos caminhos.
Recomeço com o grupo ZERO
Em 1958, junto a Heinz Mack, Otto Piene fundou em Düsseldorf o grupo ZERO, ao qual mais tarde Günther Uecker também se juntou. Os artistas aliaram o seu reinício ao fascínio com os elementos naturais, principalmente com a luz.
A cor então cedia espaço para pinturas monocromáticas, sobretudo brancas, e autorrelevos estruturados. Formado em desenho e pintura, Otto Piene também utilizou os elementos ar e fogo como meio de criação: em seus Rasterbilder, quadros baseados no formato raster, ele observou a refração da luz; e em seus quadros de fumaça e fogo, o efeito das chamas.
Como o próprio Otto Piene havia elogiado recentemente, a exposição no Pavilhão de Exposição do Deutsche Bank mostra de forma "pura e límpida" como ele, aos poucos, se moveu experimentalmente da tela bidimensional para o espaço tridimensional
Os 60 trabalhos selecionados entre as suas primeiras obras, de 1951 a 1977, proporcionam uma visão do pensamento do artista. Por esse motivo, o visitante se movimenta na exposição "como num laboratório abarrotado ou num espaço experimental", explicou o curador Joachim Jäger, diretor da Nova Galeria Nacional em Berlim. "Somente assim vê-se como um projeto se desenvolve a partir do outro, como tudo está, finalmente, interligado."
Um "arco-íris" flutuante para as Olimpíadas
Otto Piene nunca desistiu da cor. Pelo contrário, ele fez dela um tópico, a cor do arco-íris. Desde 1964, ele trabalhava no Centro Avançado de Estudos Visuais, no renomado Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), em Boston – primeiro como bolsista e, quatro anos mais tarde, já como seu diretor.
Na então inovadora cooperação interdisciplinar de cientistas, engenheiros e artistas – o que ainda não existia na Alemanha – ele encontrou condições ideais para realizar as suas visões: elevar esculturas temporárias e fugidias de luz e ar ao infinito do céu.
As suas Inflatables, grandes objetos infláveis para o espaço público, dominaram por décadas o trabalho do artista internacional, de Tóquio a Nova York. Um documentário apresenta a complexa instalação formada por um "arco-íris" flutuante, inflado com hélio, que Otto Piene projetou para a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 – um sinal de esperança.
Na segunda parte da exposição, a Nova Galeria Nacional mostra a performance multimídia elaborada por Piene The Proliferation of the Sun, "A proliferação do Sol", que, segundo o curador Joachim Jäger, é uma "das principais obras dos anos 1960, completamente subestimada". Ali, sete projetores fazem com que brilhem nas cores do arco-íris 1.120 slides pintados à mão pelo artista, com formas abstratas circulares.
O espetáculo de luz e cor, estruturado visual e ritmicamente, logo capta a atenção do espectador, porque produz um efeito mais autêntico, diferente das atuais animações computadorizadas.
E assim também mais frágil e efêmero, como as "estrelas" cheias de ar do Sky Art Events, que, admiradas por centenas de espectadores, levantam-se no céu noturno berlinense, balançando ao vento – numa saudação ao seu criador.