Mostra em Brasília relembra Muro de Berlim
5 de novembro de 2014Por ocasião dos 25 anos do fim do Muro de Berlim, o público de Brasília tem a chance de mergulhar na história do maior símbolo da Guerra Fria através da tela do cinema. A partir desta quarta-feira (05/11), a cidade hospeda a mostra A Virada – 25 anos da queda do Muro de Berlim.
Organizado pela Embaixada da Alemanha e o Goethe-Zentrum, em parceria com o Cine Brasília, o evento apresenta 19 produções que retratam a vida cotidiana da Republica Democrática Alemã (RDA), a antiga Alemanha Oriental, e os marcantes acontecimentos que mudaram o mundo em 9 de novembro de 1989.
"A queda do Muro de Berlim não teve reflexos só na Alemanha. O país se reunificou, a Europa do Leste se reintegrou ao continente. A queda do muro pode ser considerada um marco simbólico do fim da Guerra Fria", afirma Sérgio Moriconi, programador do Cine Brasília. "Até em relação à América Latina, houve importantes mudanças. No caso do Brasil, as esquerdas tiveram que reformular parte de suas concepções ideológicas."
Diferentes aspectos da divisão
Construído na madrugada do dia 13 de agosto de 1961, o muro não separou apenas amigos, vizinhos e parentes, mas um país, um continente e o mundo. A divisão refletia-se no cotidiano da cidade, que, apesar das circunstâncias, continuava sendo um importante polo cultural dentro da Alemanha.
Para Moriconi, a mostra é "o painel mais amplo possível sobre as consequências da queda do Muro de Berlim". "Há filmes que mostram aspectos políticos, outros, influências sociais, comportamentais ou de pensamento, e ainda há aqueles que focam nas mudanças culturais e de relação entre as pessoas", diz. Na mostra em Brasília, documentários, animações, comédias, dramas e curtas-metragens mostram tal complexidade a partir dos mais diferentes pontos de vista.
A seleção também constrói uma ampla ambientação histórica, incluindo filmes realizados antes da construção do muro. Céu sem estrelas, de Helmet Kautner, por exemplo, conta a trágica história de amor entre uma operária da Alemanha Oriental e um policial de fronteira da Alemanha Ocidental, entre 1952 e 1953.
"Durante o período em que a Alemanha permaneceu dividida, apenas os cineastas 'ocidentais' puderam se expressar. Houve um movimento importante (iniciado no fim dos anos 60), o chamado Novo Cinema Alemão – de realizadores como Werner Herzog , Wim Wenders, Volker Schlöndorff e Alexander Kluge", diz Moriconi. "Os cineastas da Alemanha Oriental ficaram sem muitas chances de se expressarem, em função da censura."
Filmes consagrados e novidades
O filme de abertura da mostra é Trem para a Liberdade. A obra dos cineastas Sebastian Dehnhardt e Matthias Schmidt foi escolhida "primeiro, porque é um documentário que dá uma visão muito realista do drama vivido pelos cidadãos da RDA", diz Moriconi. "Segundo, porque se trata de um filme excelente, e, por fim, é uma obra recente e inédita no Brasil", completa.
A programação conta ainda com filmes consagrados pelo público e pela crítica, como o drama A vida dos outros, de Florian Henckel von Donnersmarck, que mostra como funcionava a máquina de espionagem da Stasi. Outro destaque é Barbara, uma história de amor e das tentativas de fuga da RDA, pela qual Christian Petzold ganhou o Urso de Prata de melhor diretor na Berlinale de 2012.
Um tema tão sério e complexo com o Muro de Berlim também pode render boas gargalhadas. Filmes como Alameda do Sol mostram, de maneira irônica e sensível, como as pessoas viviam na Alemanha Oriental e as adversidades impostas pelo sistema. O conhecido Adeus, Lênin! também retrata essa realidade e as mudanças ocorridas depois da queda.
O público também pode passear de maneira contemplativa e reflexiva ao lado de Tilda Swinton, em A linha invisível. No documentário da diretora Cynthia Beatt, a atriz percorre de bicicleta o Muro de Berlim em 1988 e sua trajetória imaginária, em 2009, mostrando mudanças e a realidade de uma cidade com uma história singular.
Para completar a seleção de filmes, o saguão do Cine Brasília abriga fotos da queda do muro e da reunificação alemã. "A exposição é uma maneira de fazer o espectador fixar algumas imagens que estão representadas nos filmes", diz Moriconi.
A mostra A VIRADA – 25 Anos da Queda do Muro de Berlim vai até 12 de novembro no Cine Brasília, na capital federal.