Morre Oscar Niemeyer, o arquiteto de Brasília
6 de dezembro de 2012Morreu nesta quarta-feira (05/12), aos 104 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer, vítima de insuficiência respiratória. Ele estava internado desde o dia 2 de dezembro no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, inicialmente para tratar de uma desidratação. Niemeyer completaria 105 anos no próximo dia 15.
Com a morte de Niemeyer, o Brasil perde seu mais ilustre arquiteto. As lindas construções de Brasília, a sede das Nações Unidas em Nova York, prédios no Rio de Janeiro, São Paulo, Londres, Paris e Berlim. Os projetos de Oscar Niemeyer são conhecidos mundialmente. Devido ao seu caráter pitoresco, seus edifícios foram retratados em inúmeros livros ilustrados.
Oscar Niemeyer (1907-2012) nasceu e cresceu na casa de seus avós maternos, no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. "Aos domingos", escreveu Niemeyer, "minha avó abria uma das janelas da sala de visitas – o oratório – e a missa era rezada em casa com a presença dos vizinhos."
Mas nem essas reminiscências da infância nem o colégio de padres Barnabitas que frequentou conseguiram mantê-lo na religião, acresceu: "Para mim o que conta é a explosão inicial pretendida, as estrelas e planetas se organizando nos espaços infinitos e nós, os bichos da terra, tentando subsistir" – uma lição que o acompanhou por toda vida.
Rio e Pampulha
No final dos anos 1920, quando já era casado e pai de uma filha, Oscar Niemeyer entrou para Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, onde se formou como arquiteto em 1934. "Muitas vezes me perguntam por que escolhi essa profissão e a única resposta que encontro é gostar de desenhar", explicou o arquiteto.
Após terminar os estudos de arquitetura, Niemeyer trabalhou no escritório de Lúcio Costa, o futuro urbanista de Brasília, e participou do grupo de arquitetos que projetou, sob a direção de Le Corbusier, o edifício do Ministério da Educação e Saúde em 1936 no Rio de Janeiro. No Brasil, Le Corbusier pôde realizar seu primeiro grande projeto público, deixando influência decisiva sobre os jovens arquitetos de seu grupo.
Apesar de as participações de Niemeyer no projeto do Ministério no Rio e, posteriormente, no Pavilhão Brasileiro da Exposição Universal de Nova York, em 1939, terem sido decisivas para sua carreira, ele considera Pampulha – um complexo de lazer em torno de um lago artificial no bairro da Pampulha em Belo Horizonte – como o início de sua arquitetura, cujos princípios ele sempre seguiu. O então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que mais tarde construiria Brasília na condição de presidente, deu carta branca ao arquiteto.
Arquitetura Moderna Brasileira
Em 1940, Niemeyer teve liberdade para projetar na Pampulha uma arquitetura que acreditava ser adequada para o Brasil. Como Leitmotive para uma arquitetura moderna brasileira, ele considerou a ligação da arquitetura com o lugar e a rejeição de uma arquitetura social – da forma que foi praticada, posteriormente, em projetos residenciais, principalmente em países comunistas.
Na Pampulha, Niemeyer não protestou contra a modernidade, mas contra o racionalismo, "desprezando deliberadamente o ângulo reto tão louvado e a arquitetura racionalista feita de régua e esquadro, para penetrar nesse mundo de curvas e retas que o concreto oferece", escreveu mais tarde o arquiteto brasileiro.
Criador e criatura
Após a Pampulha, ele foi convidado a participar da comissão encarregada de projetar, em 1947, a sede das Nações Unidas em Nova York. Em 1945, Niemeyer havia se filiado ao Partido Comunista Brasileiro. Como comunista, ela não podia entrar nos Estados Unidos, como foi o caso em 1946, mas como membro da equipe internacional do concurso para o projeto da ONU, ele recebeu autorização para morar sete meses em Nova York.
Niemeyer apresentou seu projeto e venceu o concurso, apesar da oposição de Le Corbusier, que queria impor seu próprio projeto para as Nações Unidos e pedira a Niemeyer que não apresentasse sua contribuição. Os prédios da ONU formam uma praça, uma constante na arquitetura de Oscar Niemeyer, que preenche diversas funções, sobretudo a da unidade.
Um lugar para Niemeyer
No Brasil, o projeto do modernismo englobou a construção de uma identidade nacional. Niemeyer é parte desse projeto. Sua obra deve ser compreendida nesse contexto, como também a futura construção de uma nova capital.
Isso se concretizou em 1956, quando Juscelino Kubitschek convidou o arquiteto para construir os edifícios de Brasília. Oscar Niemeyer se tornou chefe do departamento de arquitetura da Novacap, companhia responsável por todos os passos da construção de Brasília. Após quatro anos de trabalho ininterrupto, a nova capital brasileira, com suas magníficas construções, foi inaugurada em abril de 1960.
Arquiteto de renome mundial
Passados mais quatro anos, a ditadura militar se instalou no Brasil em 1964. Niemeyer já era um arquiteto de renome mundial quando se viu obrigado a deixar seu país. Sua crença na doutrina de Marx lhe trouxe muitos problemas, mas o acompanhou por toda a vida.
No exterior até meados dos anos 1970, ele trabalhou em grandes projetos na Argélia, Israel, Portugal e principalmente na França, onde construiu, em Paris, a sede do Partido Comunista Francês.
De volta ao Brasil, ele continuou a trabalhar de manhã à noite, como sempre o fez, até mesmo depois de ter completado 100 anos. Nesse período, foram construídos projetos como o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer na cidade espanhola de Avilés, onde prédios sinuosos também formam uma praça.
Difícil de esquecer
Devido a suas curvas, Niemeyer foi frequentemente criticado de formalista. No entanto, em sua arquitetura, as curvas têm principalmente uma função espacial – elas garantem a interação entre espaço interno e externo – e revelam, ao mesmo tempo, a ordem do cosmo, da natureza e do corpo humano: "De curvas é feito todo o universo – o universo curvo de Einstein", relatou Niemeyer em seu Poema da Curva.
Devido ao caráter espetacular de suas construções, sua arquitetura foi classificada, muitas vezes, como utópica. Mas ainda em vida Niemeyer pôde ver como seu trabalho influenciou o mundo atual. Zaha Hadid e Rem Koohaas estão entre as estrelas da arquitetura mundial contemporânea que por diversas vezes admitiram tal influência.
Ao fim de sua carreira, além de artigos e livros, Oscar Niemeyer nos deixou mais de 500 projetos. A metade deles foi construída. Enquanto eles existirem e inspirarem a civilização humana, vai ser difícil para o arquiteto brasileiro ser esquecido – apesar de o materialismo do grande mestre ter sempre afirmado: "Quando morremos, desaparecemos". Para Niemeyer, a vida sempre foi somente "um sopro".
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Francis França