Ministros verdes em apuros no Brasil
28 de outubro de 2003Os ministros planejaram separadamente suas viagens ao Brasil e reservaram seus vôos em aviões de carreira. A ministra da Agricultura e Defesa do Consumidor, que entre outros compromissos oficiais participou da inauguração do Encontro Econômico Brasil-Alemanha em Goiânia, começou sua viagem (de 25 a 28/10) no sábado.
Jürgen Trittin, por sua vez, desembarcou na segunda-feira (27) em Fortaleza e, depois de visitar uma fábrica de aerogeradores, se dirige a Brasília, onde tem encontros agendados com as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Energia, Dilma Rousseff, na quarta-feira (29).
Meia volta, volver
- Para as viagens internas no Brasil, eles solicitaram um dos seis jatinhos Challenger que as Forças Armadas Alemãs mantêm à disposição para viagens oficiais de membros do governo. Esse avião partiu de Colônia para São Paulo na manhã da quinta-feira passada (23), vazio. Poucas horas depois, os ministérios cancelaram o pedido, pelo que o jatinho regressou a Colônia, sem haver pousado sequer nas Ilhas Canárias, onde teria que se abastecer devido à pequena autonomia de vôo."Agenda Amazonas"
- Nesta segunda-feira (27), o semanário Der Spiegel trouxe um artigo a respeito do caso, intitulado "Agenda Amazonas". O semanário começa lembrando outros casos em que políticos verdes se viram em apuros com viagens ao exterior, em que misturaram assuntos oficiais e particulares. Rezzo Schlauch, por exemplo. O secretário adjunto do Ministério da Economia resolveu fazer uma visitinha ao seu irmão no Estado de Novo México, durante uma visita oficial aos EUA.Milhas traiçoeiras
- No ano passado, descobriu-se que alguns deputados usavam milhas aéreas ganhas em viagens oficiais para viagens particulares, o que arranhou a imagem de vários políticos. A imprensa e a opinião pública estão atentas para qualquer indício de abuso de poder, mistura de interesses públicos e privados ou clientelismo.No passado, já se viram em aperto para explicar vôos até mesmo o atual presidente Johannes Rau (Partido Social Democrata), que quando governador usou um avião do banco estadual WestLB, e a ex-presidenta do Parlamento. Rita Süssmuth, da União Democrata Cristã, usou os jatinhos para várias viagens à Suiça, onde mora sua filha.
Repórteres no Ministério da Defesa - O artigo do Spiegel procura colocar o atual caso dos ministros na categoria dos "escândalos", tendo em vista, principalmente, que eles são do Partido Verde, para o qual o tráfego aéreo internacional "é uma das fontes de gases do efeito estufa que mais rapidamente cresce no mundo", nas palavras do próprio Jürgen Trittin. A revista insinua que o jatinho foi chamado de volta porque os ministérios de Trittin e Künast foram informados de que repórteres perguntaram pelos custos do vôo no Ministério da Defesa, a quem pertence o serviço aéreo para membros do governo.
Muitos gases e 250 mil euros
- A revista calcula que somente o vôo ao Brasil - 20 mil quilômetros de ida e volta - teria "enriquecido" a atmosfera com os gases de 20 toneladas de combustível e empobrecido os cofres públicos em mais 250 mil euros. Muito mais econômico teria sido alugar um jatinho no Brasil, o que custaria 48 mil euros por semana, averiguou o Der Spiegel.Avião pequeno
- A porta-voz de Trittin justificou o cancelamento do jatinho alegando uma mudança no programa oficial do ministro no Brasil. Um passeio na Amazônia, que teria sido sugerido pelos brasileiros, fora cancelado porque o Challenger era muito pequeno para a delegação de Trittin, de 30 pessoas. No Ministério da Agricultura, as explicações foram parecidas. À medida em que o programa tomou forma definitiva, cancelou-se o jatinho. Negou-se qualquer relação com as averiguações da revista.Déficit e falta de sensibilidade
- Um cancelamento só para evitar manchetes? Provavelmente. Mas a questão está longe de ser um escândalo de abuso de poder. O uso era oficial e o jatinho certamente facilitaria a vida dos ministros. O caso revela, porém, uma indiferença frente à situação dos cofres públicos - essa sim, condenável. Se os rombos do orçamento são cada vez maiores - Berlim anunciou na semana passada um orçamento complementar de mais de 43 bilhões de euros - e as reformas exigem sacrifícios cada vez maiores dos contribuintes, Künast e Trittin deveriam ter pensado desde o início do planejamento da viagem em soluções mais econômicas do que o jatinho das Forças Armadas alemãs. Um deputado da oposição, aliás, sugeriu que esse serviço aéreo permanente seja privatizado.