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Milosevic angaria simpatias com sua defesa

(pc)25 de fevereiro de 2002

O processo contra o ex-ditador iugoslavo coloca o governo de Belgrado num dilema.

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Slobodan Milosevic responde por crimes de guerra no Tribunal de HaiaFoto: AP

"Eu fui contra Milosevic todos esses anos", disse Marijan Ljubosevic, um desempregado de Belgrado, que acompanha o julgamento de Slobodan Milosevic pela televisão, assim como milhões de iugoslavos. "Mas este processo está sendo levado com tanta negligência que até agora não me convenceu de sua culpa", disse Marijan. "Muitas vezes começo a me odiar pelo fato de estar do seu lado".

No banco de réus do tribunal de Haia, processado por crimes contra a humanidade e violações aos direitos de guerra, Milosevic tem conseguido marcar pontos na simpatia popular. Sua estratégia consiste em questionar a credibilidade das vítimas de Kosovo e considerar como luta contra o terrosimso os ataques sérvios aos rebeldes albaneses. Após duas semanas de processo, muitos iugoslavos estão convencidos de que Milosevic trouxe à tona as verdadeiras questões.

Segundo uma sondagem do Strategic Marketing, um conceituado instituto de pesquisa de Belgrado, a defesa de ex-presidente iugoslavo foi considerada excelente por 67% dos entrevistados na Sérvia, Montenegro e Bósnia.

Dilema

- Os reflexos da performance de Milosevic no tribunal de Haia já se fazem sentir na posição do governo iugoslavo. O premiê Zoran Djindjic, responsável por haver entregado Milosevic ao tribunal, havia dito no início do processo que: "para nós o mais importante é que isto já não prejudica nosso país". Agora, numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, Djindjic qualificou o tribunal de "circo" que coloca o governo reformista sérvio diante de um dilema.

O governo sérvio não concretizou até agora sua promessa de aprovar um decreto para facilitar a colaboração com o tribunal de Haia. Um projeto de lei nesse sentido não teria chance de ser aprovado no parlamento e acirraria o conflito com a ala nacionalista do partido governamental, liderada pelo presidente iugoslavo Vojislav Kostunica.

Erro

- Biljana Kovacevic-Vuco, presidenta do JUCOM, grupo de direitos humanos que organizou a resistência contra Milosevic, estima que foi um erro concentrar a acusação sobre a sua pessoa. Isto permite que Milosevic se apresente como um lutador "sozinho contra o resto do mundo". Seria preciso, segundo ela, estender a acusação à rede de seus ajudantes.

"As pessoas não entendem que ele está sendo processado pelos seus crimes, e não pela sua política", disse Biljana. Na sua crítica à demagogia de Milosevic ela acusa também os políticos reformistas de Belgrado. "Até agora, só um líder político condenou crimes como o bombardeio de Sarajevo e o massacre de Srebrenica – e, vergonhosamente, foi Milosevic."