Milionário doa cartola de Hitler para fundação israelense
25 de novembro de 2019Um leilão controverso, um gesto inusitado. Na quarta-feira da semana passada, 20 de novembro, um milionário de origem libanesa baseado na Suíça desde o fim dos anos 1980 arrematou uma cartola utilizada pelo ditador Adolf Hitler em um leilão de parafernália nazista. Agora, ele está doando o acessório para uma fundação israelense.
O comprador é o empresário Abdallah Chatila, que desembolsou 50 mil euros (cerca de 230 mil reais) pela cartola do ditador alemão. Sua motivação para arrematar o item, segundo ele, foi simples: evitar que o objeto seja utilizado por neonazistas.
"É extremamente importante, para mim, que os itens daquele doloroso período não acabem nas mãos erradas," disse Chatila em um e-mail enviado à DW.
Aos 45 anos, ele dirige um negócio multimilionário de joalheira em Genebra e declarou que gostaria de ter comprado mais itens, mas não conseguiu vencer todos os lances do leilão, que foi organizado pela casa Hermann Historica, baseada na Baviera. Ele também adquiriu, por exemplo, um exemplar do livro Mein Kampf (Minha Luta) que teria pertencido a Hermann Göring, um dos principais líderes do partido nazista. Preço: 130 mil euros.
Os itens foram doados para a associação Keren Hayesod, um grupo israelense de coleta de fundos que irá decidir o destino dos objetos.
"Sinceramente, espero que peças tão delicadas sejam expostas em um museu do Holocausto, que fará melhor uso deles do que qualquer outra entidade", afirmou Chatila.
A cartola foi fabricada pela empresa J.A. Seidl no começo da década de 1930 e, anos mais tarde, segundo a casa de leilões, foi encontrada em uma residência de Hitler em Munique.
Já a edição especial de Mein Kampf, que tem uma capa envolvida numa moldura de prata, fazia parte de um lote de cem edições limitadas que inclui a história oficial do Partido Nazista.
Atitude generosa e solidária
De acordo com um perfil no site Swiss Arab Entrepreneurs.ch, a família de Chatila chegou à Suíça em 1988. Ele entrou para o negócio de joias em 1995 e, posteriormente, fez fortuna por meio do comércio de diamantes.
"Nos dias atuais, nos quais as tendências de nacionalismo e antissemitismo crescem na Europa, gostaria de dar o exemplo com os meios que disponho", disse DW.
O presidente da Associação Judaica Europeia, o rabino Menachem Margolin, declarou neste domingo que ficou "positivamente surpreso" com o gesto de Chatila.
"Em um mundo cínico, [temos] um verdadeiro ato de bondade, de generosidade e solidariedade", disse.
Depois do leilão de quarta-feira, Margolin afirmou que vender lembranças da era nazista era imoral: "É errado monetizar esses objetos manchados de sangue, especialmente na Alemanha."
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