Migrantes desabrigados aguardam no frio na Bósnia
30 de dezembro de 2020Centenas de migrantes aguardavam nesta terça-feira (29/12) em meio à neve e ao frio extremo para serem retirados de um campo de refugiados destruído pelo fogo na Bósnia, enquanto as autoridades ainda discutiam para onde o grupo deveria ser transferido.
Segundo a polícia e autoridades da ONU presentes no local, o incêndio ocorrido na semana passada nas instalações que abrigavam 1,2 mil pessoas teria sido iniciado pelos próprios moradores. Eles estavam revoltados com o fechamento temporário do abrigo, marcado para o mesmo dia. O campo nas proximidades do vilarejo de Lipa abrigava migrantes da África, Ásia e Oriente Médio.
Para se protegerem do frio e dos ventos gelados na região, que faz fronteira com a Croácia, os migrantes improvisam abrigos com cobertores e sacos de dormir. Mesmo antes do incêndio, o local já era alvo de críticas de instituições internacionais e organizações humanitárias, que denunciavam as acomodações inadequadas para abrigar os refugiados.
As autoridades fracassaram em encontrar novas acomodações, deixando os migrantes em condições precárias, sem aquecimento e sem alimentação, a não ser as porções escassas distribuídas pelas organizações humanitárias.
Segundo relatos na imprensa do país, o ministro bósnio da Segurança, Selmo Cikotic, havia dito que os migrantes seriam transferidos para barracões militares na cidade de Bradina, a 320 quilômetros do local. Entretanto, o ministro das Finanças, Vjekoslav Bevanda, contestou a afirmação e disse que não havia ainda um acordo sobre a questão.
União Europeia pede solução urgente
Emissoras de televisão da Bósnia mostravam imagens de ônibus estacionados no local aguardando para transportar os refugiados. Entretanto, segundo o portal de notícias Klix, moradores de Bradina se reuniram para protestar contra a vinda dos refugiados.
"Começou a nevar, temperaturas estão abaixo de zero, sem aquecimento, sem nada”, afirmou o chefe da missão na Bósnia da Organização Internacional para Migrações da ONU, Peter Van Der Auweraert, através do Twitter. "Ninguém deveria viver assim. Precisamos de coragem política e ações agora.”
O campo em Lipa, montado para ser um abrigo temporário durante os meses do verão no hemisfério norte, fecharia na última quarta-feira para ser reformado.
Inicialmente, o governo tinha a intenção de transportar os migrantes para um abrigo em Bihac, a 25 quilômetros de distância. Mas, as autoridades locais rejeitaram a medida, afirmando que outras regiões do pais também deveriam fazer sua parte e acolher suas parcelas de migrantes.
A União Europeia, que apoiou a Bósnia com o envio de 85 milhões de euros para que o pais possa lidar com a questão migratória, alertou para a possibilidade de uma crise humanitária e urgiu as autoridades a encontrarem uma solução rápida.
A Bósnia se tornou um gargalo para milhares de migrantes que tentam chegar à Europa Ocidental. A maioria está abrigada na região de Krajina, no norte do país, uma vez que as demais regiões da nação etnicamente dividida se recusam a recebê-los.
RC/ap/rtr