Meu pedaço de terra: Ahlam, Sahar e Ahmad
23 de dezembro de 2015Milhares de refugiados chegam atualmente à Alemanha. São pessoas que deixaram para trás amigos e família, trabalho e casa – e isso talvez para sempre. Em nossa série de reportagens "Meu pedaço de terra", apresentamos aqui alguns refugiados e suas histórias, sob suas perspectivas: subjetivas e sem julgamentos. E mostramos que eles, apesar de uma fuga perigosa, trouxeram consigo um objeto: o "pedaço de terra" que puderam carregar.
Uma foto de família: os olhos de Ahlam e seus fihos, Sahar e Ahmad, brilham. O contraste com a história de sua fuga da Síria não poderia ser mais radical. "Às duas horas da madrugada, chegaram os aviões", conta a garota Sahar, de 14 anos. "E bombardearam nossa casa, da qual só sobraram escombros e cinzas". Ela fala um pouco de alemão e um pouco de inglês, o que é suficiente para relatar os fatos.
Nem sua mãe, Ahlam, sabe dizer quem ordenou o bombardeio. Já faz um ano desde que o mundo, para ela, desmoronou. A família fugiu. Uma fuga que acabaria se tornando uma verdadeira odisseia. De início, Ghaleb, o marido de Ahlam, ainda estava junto da mulher e dos filhos. Os pais juntaram todo o dinheiro que tinham e seguiram pela Síria rumo à Turquia.
O destino era a Europa. Eles deveriam pegar um navio até a Itália. "A travessia durou dez dias", conta Sahar. À bordo estavam 104 refugiados. Pagamos 18 mil dólares". No entanto, as esperanças acabaram quando eles reconheceram que o barco atracava na costa egípcia do Mediterrâneo. "Fomos enganados", diz Ahlam. "E o dinheiro se foi".
Lembranças no coração
Como se não bastasse, policiais egípcios colocaram os pais e os filhos em um campo para refugiados, onde permaneceram oito meses. Ahmad pegou uma pneumonia e seu marido teve problema nos rins. Enfim, quando foram libertados, Ghaleb seguiu para Dubai, a fim de ser tratado em um hospital. Ahlam e as crianças foram resgatadas pelo governo alemão. Em um alojamento em Bonn, ela espera agora sinais de vida do marido. Todos estão ansiosos por sua chegada.
Na ampla cozinha do alojamento de refugiados, espalha-se o cheiro de carne grelhada. É hora do jantar. Ahlam, Sahar e Ahmad (de 11 anos) são categorizados como "refugiados de contingente" e receberam passaportes. Eles podem ficar dois anos na Alemanha e esperam conseguir um lugar para morar. Ahlam quer trabalhar de novo como educadora infantil. De casa, só restaram as lembranças. "Mas as trago no coração", sorri. As memórias estão estampadas em seus olhos.