Mesmo abandonando energia nuclear, Alemanha segue ativa na pesquisa
20 de maio de 2013Nem todas as nações tiraram as mesmas conclusões que a Alemanha da tragédia nuclear de Fukushima, ou seja: deixar de lado a energia nuclear. Atualmente, há 65 reatores em construção, em todo o mundo: China, Índia, Brasil, Argentina, Paquistão, Estados Unidos, México e até Japão planejam desenvolver novas centrais.
Diversos países europeus também seguem apostando na energia termonuclear: ao lado da Rússia, República Tcheca, Romênia, Bulgária, Ucrânia, Finlândia e Reino Unido, sobretudo a França está na vanguarda dessa tecnologia, ostentando um ambicioso programa nuclear.
No entanto, justamente a "desertora" Alemanha era, até então, uma das líderes em pesquisa e estudos nucleares. O país não abriu totalmente mão dessa posição – hoje seus cientistas se ocupam de dois temas, em especial: a eliminação de resíduos radioativos e o funcionamento seguro de reatores.
"Trata-se de investigar os fenômenos que ocorrem durante distúrbios graves, de entender como podem ser evitados", diz Ernst-Arndt Reinecke, diretor do departamento de Fenômenos e Processos de Contenção, no Centro de Pesquisas de Jülich.
Segundo ele, as descobertas alemãs também estão sendo integradas nos projetos de novos equipamentos termonucleares. Um exemplo é o reator de água pressurizada em construção na Finlândia e na França. A partir das pesquisas na Alemanha, ele é equipado com um "core catcher" ("apanhador de núcleo") – dispositivo que contém o núcleo em fusão, no caso de mal funcionamento no reator como em Fukushima.
Importância da prática
Deste modo, a pesquisa na Alemanha molda, hoje, as usinas do futuro. "De um lado, haverá pesquisa sobre a gestão de resíduos", afirma Dirk Bosbach, do Instituto de Eliminação de Resíduos Nucleares, em Jülich. Pois, quer se abandone a energia termonuclear, quer não, o lixo atômico precisa ser armazenado de forma segura, a longo prazo. No entanto, até que se alcance esse ponto, a operação segura das usinas permanecerá sendo um foco de pesquisa autônomo.
Ao fechar suas usinas, por outro lado, a Alemanha corre o perigo de perder competência e know-how em questões nucleares, já que os conglomerados internacionais que fabricam reatores sempre tenderão a posicionar seus investimentos em engenharia em locais onde haja reatores em funcionamento.
Experiências práticas com a tecnologia são decisivas para a qualidade da pesquisa. Como lembra Bosbach, "competência não significa apenas ler publicações sobre um tema, é preciso pesquisar ativamente dentro de um campo de trabalho".
Em interesse próprio
O também mineralogista acrescenta que já se registram cortes nas verbas de pesquisa disponibilizadas pela indústria. O financiamento de um doutorado, por exemplo, só compensa para um operador de usina nuclear se, futuramente, a empresa também puder empregar no exterior os resultados da pesquisa. Isso porque, até que se consiga a permissão para integrar esses resultados numa usina real, a Alemanha já terá desativado todos os seus reatores, argumenta Dirk Bosbach.
Em interesse próprio, a Alemanha não deveria se permitir ficar para trás demais na pesquisa nuclear. "Queremos ter competência nesse setor de pesquisa porque estamos cercados por usinas termonucleares. Queremos poder julgar o que nossos vizinhos estão fazendo."
Além do mais, lembra o perito em eliminação de lixo radioativo, mesmo após o abandono da energia atômica, a Alemanha continua obrigada, por tratados internacionais, a colocar à disposição expertise sobre o setor. No entanto, sem uma nova geração de cientistas, isso poderá se tornar muito difícil, alerta Bosbach.
Por fim, os políticos esperam dos pesquisadores alemães que participem ativamente das deliberações sobre padrões de segurança, em nível europeu. "Então, precisamos mesmo de gente competente nesse setor", conclui o pesquisador do Instituto de Eliminação de Resíduos Nucleares de Jülich.