Debate fraco
14 de setembro de 2009Duas semanas antes das eleições parlamentares alemãs, a chanceler federal Angela Merkel, que tenta a reeleição, e o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, se enfrentaram num debate televisivo na noite do último domingo (13/09).
Com 40% do eleitorado ainda indeciso e o partido de Merkel com 13 pontos à frente do de Steinmeier nas pesquisas, a expectativa entre analistas políticos era a de que os dois concorrentes partissem para o ataque. Mas o debate entre os representantes da União Democrata Cristã (CDU) e do Partido Social Democrata (SPD) – ambos integrantes da grande coalizão de governo – acabou sendo morno.
Debate ou desenho animado
Como resultado, o número de espectadores ficou aquém do esperado: 14,21 milhões de pessoas acompanharam o "duelo" por uma das quatro emissoras de televisão (ARD, ZDF, RTL e Sat.1) que o exibiram. A expectativa era que pelo menos 20 milhões o fizessem, número registrado por ocasião do debate entre Merkel e o então chanceler federal Gerhard Schröder, há quatro anos.
Em vez de acompanhar as propostas de Merkel e Steinmeier, 3,45 milhões de alemães preferiram, por exemplo, assistir a um episódio de Os Simpsons no canal ProSieben. Os números são da empresa de pesquisa Media-Control.
Conclusões díspares
Duas enquetes feitas logo após o debate chegaram a conclusões bem distintas. Entre os telespectadores ouvidos pela emissora ZDF, 31% apontaram Steinmeier como vencedor, contra 28% para Merkel. A empresa de pesquisas Forsa colocou Merkel à frente, com 37% contra 35% de Steinmeier.
Já na pesquisa da RTL, 58% dos consultados disseram que Merkel está mais bem preparada para conduzir o país, enquanto 28% escolheram Steinmeier.
Elogios à grande coalizão
Durante os 90 minutos do debate, predominou um tom civilizado, sem ataques pessoais ou enfrentamentos diretos, apenas com controvérsias.
Tanto Steinmeier como Merkel começaram a discussão destacando a política da grande coalizão de governo à qual pertencem. A diferença é que, para Merkel, conquistas como a redução do número de desempregados foram principalmente vitórias suas, ao que passo que, para Steinmeier, elas se devem ao "selo social-democrata".
Apesar dos elogios à grande coalizão, ambos deixaram claro que preferem mudanças. "O que já é bom pode ser melhorado", disse Merkel, que defende uma aliança entre a CDU, a União Social Cristã (CSU, da Baviera) e o Partido Democrático Liberal (FDP).
Já Steinmeier disse que o SPD não pôde fazer mais durante o governo da grande coalizão por falta de apoio. Ele voltou a descartar uma colaboração com o partido A Esquerda, que reúne dissidentes do SPD e antigos membros do partido único da ex-Alemanha Oriental, de regime comunista.
Pontos divergentes e convergentes
Pontos divergentes entre os dois candidatos foram expostos em relação aos sistemas de saúde e tributário, salário mínimo, limites para os ganhos de altos executivos e, principalmente, política nuclear.
Para Steinmeier, é ilusório pensar que o governo alemão possa reduzir os impostos nos próximos anos, como quer Merkel. O social-democrata voltou a defender a introdução dos salários mínimos, ao passo que Merkel prefere continuar negociando acordos salariais.
A atual premiê argumentou mais uma vez a favor da prorrogação do funcionamento de centrais nucleares para além de 2020, limite estabelecido pelo governo anterior, da coalizão entre SPD e Partido Verde. Steinmeier defendeu a manutenção do atual plano de desligamento dos reatores.
Opel e Afeganistão
Convergências apareceram nos temas Opel e Afeganistão. Os dois candidatos defenderam a venda da montadora alemã para a fabricante de autopeças austro-canadense Magna, bem como os esforços do Estado para combater a crise.
Em relação ao Afeganistão, único tema internacional do debate, ambos disseram que as tropas alemãs devem permanecer no país até que seja alcançada estabilidade, mas destacaram que é necessário fixar o quanto antes um calendário para a saída das forças militares.
AS/dpa/rtr
Revisão: Soraia Vilela