Relações transatlânticas
5 de novembro de 2007Não somente para aprovar a nova rodada de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU, o presidente norte-americano George W. Bush precisa do apoio dos aliados franceses e alemães. Os últimos dias não foram fáceis para o chefe de governo norte-americano.
Os recentes acontecimentos no Paquistão vêm a pôr em risco a tentativa norte-americana de democratização do mundo islâmico e de estabelecimento de uma nova ordem mundial.
Além disso, a sugestão de Vladimir Putin de se candidatar às próximas eleições parlamentares russas pode se tornar uma ameaça ao processo democrático russo, já que o atual presidente continuará, possivelmente, a exercer papel político central como próximo primeiro-ministro do país, após o final de seu atual mandato como presidente.
Na semana em que George W. Bush precisa do apoio e do conselho de amigos, ele recebe a visita do presidente francês Nicolas Sarkozy, na terça-feira (06/11) em Washington, e da chanceler federal alemã Angela Merkel, que o visita em seu rancho no Texas, na próxima sexta-feira (09/11).
"Poodle de Bush"
Sarkozy será recebido em jantar oficial na Casa Branca, na terça-feira, seguindo com o presidente norte-americano para a casa de George Washington em Monte Vernon, na quarta-feira (07/11).
Quatro anos e meio depois da recusa francesa em apoiar a ocupação norte-americana do Iraque, o governo de Paris tenta reconquistar sua posição junto ao governo norte-americano.
"O objetivo desta visita é de consagrar o reencontro entre a França e os Estados Unidos após a crise de 2003", afirmou o porta-voz do governo francês David Martinon, na última sexta-feira. Segundo Martinon, não existe "nenhum tema maior de discórdia entre França e Estados Unidos para ser tratado de urgência".
Um diplomata americano afirma que Paris e Washington estão de acordo em 90% dos temas. Críticos de Sarkozy o acusam de ser demais pró-americano. Em Paris, a oposição socialista retratou o presidente francês como o novo "Poodle de Bush", título reservado anteriormente ao antigo premiê britânico Tony Blair.
Gordon Johndroe, porta-voz da Casa Branca, afirmou, no entanto, que "está muito em moda ser antiamericano, mas no final das contas, existe um grande desejo francês de ter sólidas relações com os Estados Unidos". Os assessores de Sarkozy afirmam que o presidente francês estaria consciente dos riscos de estar sendo tão amigável com um presidente norte-americano tão pouco popular.
Honra para poucos
Após visita surpresa ao Afeganistão, onde Merkel se encontrou, no último sábado (03/11), com o presidente Hamid Karzai em Cabul e visitou tropas estacionadas no campo alemão da cidade de Masar-i-Sharif, a chanceler federal alemã Angela Merkel segue para os Estados Unidos, onde será recebida pelo presidente norte-americano em seu rancho em Crawford, no Texas, uma honra reservada somente para os mais próximos aliados.
Assim como Sarkozy, o governo de Merkel vem tentando reatar os desgastados laços diplomáticos entre a Alemanha e os EUA, depois que assumiu o poder de seu antecessor Gerhard Schröder há dois anos.
A visita de Merkel ao Afeganistão e a Bush acontece poucas semanas antes de ser decidida a prorrogação do mandato da participação alemã na operação antiterrorista Enduring Freedom. Embora soldados alemães há anos não tenham sido solicitados a entrar em ação, a participação alemã na operação é considerado a prova mais importante de solidariedade com os Estados Unidos.
Bons conselhos
Segundo o porta-voz Johndroe, Bush e seus convidados terão muito que discutir nesta semana: Iraque, Síria, Líbano, processo de paz do Oriente Médio, Kosovo, Mianmar, Afeganistão e Darfur, Otan, relações transatlânticas, comércio, clima e segurança energética estariam na pauta.
O programa nuclear iraniano e o duvidoso futuro político da Rússia, incluindo a relação desta com Teerã, irão dominar o encontro.
Bush, que falou com Putin por telefone há duas semanas, "quer escutar tanto de Sarkozy quanto de Merkel sobre seus recentes encontros com Putin e sobre o que pensam do desenvolvimento das relações com nossos amigos russos", afirmou Johndroe.
Johndroe advertiu ainda que os encontros desta semana não devem ser caracterizados como uma cúpula sobre o Irã, mas afirmou que a questão do programa nuclear iraniano receberá "uma dose justa de atenção".
Além disso, com a atual crise no Paquistão e com a iminência de uma invasão de tropas turcas na parte curda do Iraque, acredita-se que Bush estará bastante aberto para gestos de amizade e, sobretudo, para bons conselhos.(ca)