Max Ernst ganha museu em sua cidade natal
6 de setembro de 2005Um dos grandes artistas do surrealismo está de volta para casa. As obras de Max Ernst, dignas de paredes dos mais renomados museus do mundo, têm agora o espaço que merecem em sua cidade natal, a pequena Brühl, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Mas o caminho até a inauguração do novo museu neste sábado (03/09) – que contou com a participação do presidente alemão, Horst Köhler – foi tortuoso e cheio de incidentes, tal qual a própria relação do artista com sua cidade.
Profeta fora de casa
A tensão entre Max Ernst e Brühl chegou a seu clímax décadas atrás, quando o artista recusou o título de cidadão honorário, aborrecido pelo fato de a cidade haver vendido um dos quadros que havia doado para cobrir o déficit deixado por uma exposição.
Afinal, não foi nestas paragens provinciais da Alemanha que Max Ernst conquistou sua fama internacional, mas sim em Paris, como era comum na época a um surrealista que se prezasse. Foi junto a outros entusiastas do movimento encabeçado por André Breton que ele se deixou contagiar pela febre de querer enxergar além da realidade: essa outra realidade que se concretizou na arte. Mas isso era uma dose de "mundo interior" maior do que a Brühl daqueles anos podia suportar.
A coleção de Brühl
Sobressaltos semelhantes atropelaram a concretização do projeto do novo museu. De um lado, alguns descendentes do pintor reclamaram não haver sido devidamente consultados, nem envolvidos nos planos. Por outro, discussões internas acabaram causando a demissão da diretora do museu, que até hoje não foi substituída, atrasando a abertura em quatro meses.
Agora, finalmente Brühl conta com um museu à altura do mais famoso de seus filhos. Lá estão reunidas 60 esculturas e quase a totalidade das obras gráficas do pintor, com destaque para a série de quadros que Ernst pintou para presentear a esposa, Dorothea Tanning. Trata-se de 36 obras conhecidas como D-paintings, por serem marcadas com a inicial D de seu nome.
A coleção também inclui ilustrações de textos surrealistas de Breton e Paul Eluard, além do imponente óleo Noite na Renânia (La nuit rhénane), pintado em 1944, quando vivia nos Estados Unidos, ao inteirar-se dos bombardeios que devastaram a cidade de Colônia durante a Segunda Guerra Mundial.
Seu lugar na história
Para expor as obras, Brühl ganhou uma nova pérola da arte moderna. O novo museu foi instalado nas duas asas que restaram de um antigo castelo classicista do século 19 e que, desde a Primeira Guerra Mundial, já exerceu diversas funções, tendo abrigado um asilo até 1990. No meio do novo prédio, concebido em forma de U, o arquiteto Van der Valentyn posicionou um enorme cubo de vidro que leva ao subsolo.
No interior, a concepção da mostra ficou por conta de Werner Spies, grande conhecedor do surrealismo e amigo pessoal de Max Ernst. "Alguns perguntam por que só agora, 30 anos depois de sua morte", conta Spies. "Eu acho isso maravilhoso, pois traz consigo a certeza. Apenas depois de 30 anos, passadas uma, duas gerações, é que sabemos o que realmente pertence à história, do que precisamos para poder construí-la. E Max Ernst pertence às personagens essenciais de que necessitamos para escrever e expor a história intelectual e cultural do século 20."