Maduro herda série de problemas econômicos de Chávez
15 de abril de 2013O ex-presidente Hugo Chávez não deixou somente uma legião de fãs do chavismo na Venezuela, mas também uma herança "maldita" para seu herdeiro político Nicolás Maduro, que venceu as eleições presidenciais deste domingo (14/04) e governará o país pelos próximos seis anos.
Os problemas herdados do "comandante" não são poucos. Inflação alta, gastos públicos excessivos, dólares insuficientes para pagar a importação de alimentos e honrar a dívida externa, além de falta de alguns produtos nos supermercados são alguns dos problemas que chamam a atenção.
No comando da Venezuela por 14 anos, Chávez nacionalizou diversas empresas – sendo que muitas delas se tornaram ineficientes – e não conseguiu romper com a dependência histórica do país da receita gerada pela extração do petróleo.
"Além de não escapar da dependência do petróleo, o governo não conseguiu fortalecer outros setores industriais. Esses são alguns dos graves problemas que não existem só desde [o governo] Chávez, mas que nos últimos anos só aumentaram de tamanho", diz Stefan Peters, especialista em Venezuela da Universidade de Kassel, na Alemanha.
Benefícios sociais e "presentes" para países amigos
Os "petrodólares" foram usados para financiar as políticas sociais do governo chavista – em subsídios, por exemplo, para moradia, eletricidade, água, combustível e alimentos para a população mais pobre, além de beneficiar países amigos – especialmente do Caribe e da América Central – com a venda de petróleo mais barato.
Segundo o candidato oposicionista Henrique Capriles, Chávez teria "presenteado" as nações amigas com petróleo no valor total de 730 bilhões de bolívares – o que corresponde a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pela Venezuela durante os 14 anos em que o "comandante" governou o país.
Em contrapartida, o governo venezuelano não conseguiu investir em melhorias na engenharia e na infraestrutura da companhia petrolífera estatal, a PDVSA, a fim de aumentar a extração e refino de petróleo e, também, diminuir as custos das importações de combustíveis – que aumentaram com a explosão da maior refinaria do país, em agosto de 2012. A empresa é fonte de 96 de cada 100 dólares que entram no país.
"Como típico governante latino, você precisa fazer escolhas que agradem à população, mas que lhe garantam no poder o máximo de tempo possível. Este foi o ponto crucial da gestão Chávez: juntar dois projetos, um pessoal – que o deixou por 14 anos no poder – e um de país, de transformação da realidade social", analisa Thiago Galvão Gehre, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Corte de subsídios pode gerar instabilidades sociais
Para tentar amenizar a crise, o governo deveria criar um ambiente político mais estável para recuperar a confiança dos investidores nacionais e internacionais, de acordo com especialistas ouvidos pela DW Brasil. Caso contrário, será difícil resolver os problemas econômicos do país.
"Apesar da participação do Estado na economia, o setor privado ainda é muito importante", diz Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Outra possibilidade diz respeito ao investimento para aumentar a produção da PDVSA e, assim, receber mais dinheiro com a venda do petróleo. "Mas, por outro lado, o problema da diversificação da economia venezuelana não seria resolvido", pondera Peters, da Universidade de Kassel.
Caso insista na desvalorização da moeda bolívar, como até agora vem realizando, o governo terá maior facilidade para pagar a dívida interna do país, principalmente com os rendimentos provenientes do petróleo. Mas, com isso, a inflação pode aumentar e atingir os que não têm condições de comprar dólar, quer dizer, os mais pobres.
Alguns dos especialistas acreditam que o governo deverá cortar parte dos subsídios oferecidos à população mais pobre, como aos combustíveis, e à exportação de petróleo mais barato para nações amigas. Já os subsídios aos alimentos não podem ser cortados – caso contrário, haverá piora da qualidade de vida dos venezuelanos.
"Não é possível cortar o gasto público ou os benefícios sociais, especialmente o da moradia e dos combustíveis, sem que haja o perigo de uma grande instabilidade social na Venezuela", avalia Ana Soliz Landivar, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.
Para Peters, da Universidade de Kassel, a pergunta é até quando será possível manter grande parte desses benefícios, principalmente se a situação econômica piorar de forma drástica depois do período eleitoral.