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Líder yanomami em Berlim

Geraldo Hoffmann26 de outubro de 2007

Davi Kopenawa Yanomami cobra ratificação pelo governo alemão de convenção internacional sobre direitos dos povos indígenas. Ele critica planos de ONGs européias de comprar terras na Amazônia para impedir desmatamento.

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Em frente à Chancelaria Federal, em Berlim, Davi Yanomami mostra carta endereçada a Angela MerkelFoto: picture-alliance/dpa

O líder e pagé Davi Kopenawa Yanomami encerrou nesta sexta-feira (26/10) uma viagem de três dias a Berlim, onde cobrou do governo e de lideranças partidárias alemães a ratificação pelo país da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante proteção especial aos povos indígenas e tribais.

"Nós, os yanomami, somos um povo da floresta tropical. Sempre vivemos lá e nossos pagés têm protegido a floresta. Nós, os povos indígenas, e vocês, os brancos, precisamos trabalhar juntos pelo futuro da nossa floresta e do nosso planeta", diz o texto de uma petição entregue na Chancelaria Federal, sede do governo alemão.

Davi Yanomami disse que na carta dirigida à chanceler federal Angela Merkel pede "que ela assine a 169, para proteger os povos indígenas do mundo". Até agora, o texto aprovado em 1989 foi ratificado por apenas 18 países, entre eles alguns europeus, como Espanha, Holanda, Dinamarca e Noruega. O Brasil aderiu ao documento em 2002.

"Eu acho que os países que são contra a convenção querem destruir a natureza, querem usar a riqueza da terra", disse Davi Yanomami à DW-WORLD.DE. Ele acrescentou que a ratificação do documento é importante "porque a lei constitucional brasileira não está sendo respeitada".

Saúde precária

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Crianças yanomami de Demini, uma das aldeias mais atingidas pela malária em RoraimaFoto: AP

Segundo a Sociedade para Povos Ameaçados (GfbV), entidade alemã que apóia projetos na área indígena no Brasil, essa é a única convenção internacional que garante direitos especiais aos cerca de cinco mil povos nativos dos mundo, que somam uma população de 350 milhões de pessoas.

Davi Yanomami admitiu que a situação de seu povo melhorou desde a aprovação da Constituição de 1988, mas que a assistência à saúde ainda é precária. Segundo os últimos dados disponíveis, em 2005, o número de casos de malária entre os yanomami do Brasil teria dobrado em relação ao ano anterior, atingindo 1.400 casos.

"Para nós, índios, o fundamental é saúde. Eles [o governo federal e a Funasa – Fundação Nacional de Saúde] estão apoiando mais outros projetos, como plantação de soja, de cana, projetos de mineração. Então eles acabam esquecendo do projeto de saúde indígena", reclamou.

Invasões da reserva

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Família yanomami na aldeia de Surucucu, na fronteira do Brasil com a VenezuelaFoto: picture-alliance/dpa/dpaweb

Pior ainda, segundo o líder indígena, que em 1989 recebeu o Prêmio Global 500 da ONU, é o problema dos garimpeiros, madeireiros e grileiros, que sempre voltam a invadir a reserva yanomami. "A doença do homem branco é que ele quer sempre tirar mais madeira, tirar mais ouro e tomar a terra indígena", afirmou.

Ele disse que é responsabilidade do governo garantir a proteção aos 97 mil Km2 (área do tamanho de Portugal) em que vivem os 12 mil yanomami. "Muita gente quer reduzir a nossa terra, dizem que é pouco índio, e que o índio é preguiçoso. Nasci nesta terra, agora estou lutando pelos direitos do meu povo e para não deixar roubarem mais nossa riqueza. A minha luta é manter a floresta em pé."

Compra de floresta

Davi Yanomami criticou também planos de organizações não governamentais européias, especialmente do Reino Unido, de comprar áreas da floresta amazônica para conter o desmatamento.

"O povo estrangeiro, em Londres e outros locais, está pensando em comprar a floresta do Brasil, porque as deles já acabaram, foram derrubadas. Isso não é uma boa idéia. Não há dinheiro que pague a floresta. Um homem que tem dinheiro na mão não sabe amar a floresta e o povo que está lá, ele não sabe respeitar o povo indígena", disse.

Os yanomami, na fronteira do Brasil com a Venezuela, são um dos povos indígenas com menos contato com a civilização. Na Alemanha, eles se tornaram conhecidos no começo dos anos de 1980, quando o aventureiro Rüdiger Nehberg viveu com eles. Ele publicou vários livros e, durante 20 anos, fez campanhas em defesa dos yanomami.