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Lula, Merkel e a fixação por líderes políticos

22 de janeiro de 2018

No Brasil ou na Alemanha: a fixação e a ansiedade por uma liderança política, que chegaria para resolver os problemas como um salvador da pátria, não é nada mais do que uma ilusão.

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Lula em comício político em Curitiba, em setembro de 2017
Lula em comício político em Curitiba, em setembro de 2017Foto: picture alliance/AP Images/D.Ferreira

Faltam poucos dias para o julgamento do Tribunal Regional Federal (TRF) em Porto Alegre do processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E o debate em torno dele me faz refletir sobre uma questão: de onde vem a fixação sobre a figura do presidente? Será que a ansiedade por uma liderança política – seja presidente, primeiro-ministro ou chanceler – deve determinar tudo?

Curiosamente, na Alemanha existe a mesma concentração em volta da nossa chanceler Angela Merkel. Ela governa desde novembro de 2005. No parlamentarismo, essa repetição do mandato por 12 anos é possível, pois o chefe de governo é eleito pela maioria no Parlamento, e não pelo voto direto. Merkel e o partido dela, a União Democrata Cristã (CDU), já governaram com apoio de vários partidos.

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Desde as eleições, em setembro de 2017, aqui na Alemanha, toda a atenção gira em torno da questão se Angela Merkel vai continuar chanceler ou não. A primeira tentativa de formar um governo com os liberais e os verdes não deu certo. Agora ela está negociando com os social-democratas, partido com quem governou nos últimos quatro anos. Parece contraditório, mas é democrático: na hora de formar um novo governo a aparentemente poderosa chanceler Angela Merkel depende dos deputados.

Astrid Prange escreve sobre Brasil e América Latina para a Deutsche Welle
Astrid Prange escreve sobre Brasil e América Latina para a Deutsche WelleFoto: DW/P. Böll

O Congresso brasileiro parece ser igualmente poderoso. Já mostrou que pode derrubar presidentes e inviabilizar qualquer ação governamental. Desde o fim da ditadura militar, em 1985, e das primeiras eleições livres, em 1989, já afastou dois presidentes através do penoso procedimento de impeachment: Fernando Collor de Mello (1992) e Dilma Rousseff (2016).

Na sombra dos aparentemente todo-poderosos líderes políticos, os parlamentares na Alemanha e no Brasil parecem gozar de uma vida boa. Enquanto a mídia segue os passos dos possíveis chefes de governo, eles fazem ou não o trabalho deles sem serem cobrados da mesma maneira.

Na Alemanha, as eleições legislativas já foram. No Brasil, os eleitores ainda têm a chance de acompanhar e escolher os candidatos para o Congresso. Ainda dá para verificar se os candidatos têm ficha limpa ou não, se tem convicções políticas ou não.

O presidente do Brasil precisa do Congresso para governar. Sem uma maioria estável, nenhuma lei que o Executivo encaminhar vai ser aprovada. Sem deputados com ficha limpa, que estão mais preocupados em se reeleger para não perder o foro privilegiado do que em legislar projetos sociais, o Brasil não vai ter um projeto nacional.

Seja presidencialismo brasileiro ou parlamentarismo alemão: a fixação e o anseio por uma liderança política que chega para desfazer o nó e resolver os problemas políticos, como um salvador da pátria, não é nada mais do que uma ilusão. 

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Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt.

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